Militares riram após tiros, afirma viúva de músico morto pelo exército

Evaldo Rosa dos Santos morreu após o carro da família ser alvejado por 80 tiros do Exército

Por Diego Garcia, da Folha de S. Paulo 

Evaldo era músico e segurança. Ele estava no carro com a mulher, o filho de 7 anos, o sogro e uma amiga da família e morreu na hora — Foto- Reprodução:Facebook

Luciana Oliveira, enfermeira que perdeu o marido, o músico Evaldo Rosa dos Santos, 46, neste domingo (7), após o carro da família ser alvejado por 80 tiros de uma equipe do exército, disse que os militares deram risada após o incidente, em Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro.

 

“Eles riram. Chamei eles de assassinos e eles riram. Debocharam. Essas pessoas têm que pagar, principalmente pelo deboche. Eles debocharam o tempo todo. Vocês não sabem o que estou sentindo, não desejo isso para ninguém”, disse Luciana.

 

A enfermeira afirmou que a ação dos militares foi repentina, quando a família ia para o chá de bebê de uma amiga.

“Não teve confronto nenhum. Estávamos cantando e escutamos um estilhaço. O sangue espirrou em mim. Meu filho não sabe e está perguntando do pai”, disse Luciana.

Cunhado de Evaldo, Leandro Rodrigues ainda disse que o músico conseguiu salvar a família após ser atingido por um tiro nas costas.

“Ele sentiu o tiro por trás e ainda conseguiu virar o carro, para salvar o David e a família, que estavam no banco de trás”, afirmou o cunhado, que estava com o laudo feito pelo Instituto Médico Legal nesta segunda-feira (8).

Leandro disse que estava em casa por volta de 16h quando ficou sabendo da tragédia, que ocorreu por volta de 14h. “Vi pela internet. Pelo que fiquei sabendo, eles tinham ordem para atirar em um carro branco”, apontou.

Luciana e David conseguiram escapar do tiroteio, que continuou após um homem tentar socorrer Evaldo, segundo a enfermeira. Uma amiga da família também estava no veículo e se salvou.

“Um moço veio socorrer e deram tiro nele. Deram muito tiro. Vieram ao nosso encontro. Meu marido não era bandido. Esperaram a gente passar e começaram a atirar. Abrimos a porta, meu padrasto foi socorrer e atiraram mais”, disse o cunhado.

“Nós vimos eles [militares] antes. A polícia e os militares têm que proteger, como vão fazer isso? O que eu vou falar para o Davi? Perdi o pai do meu filho, por quem devia proteger a gente”, afirmou.

 

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