Movimento negro e comunidade congolesa fazem atos por justiça para Moïse

Peço licença para um chamado feito pela Coalizão Negra Por Direitos, que prepara uma série de ações para buscar justiça por Moïse Mugenyi Kabagambe, congolês brutalmente assassinado por três homens no dia 24 de janeiro, no Rio de Janeiro. As mais de 200 organizações do movimento que compõem a Coalizão e a comunidade congolesa realizam, neste sábado (5), atos em nove capitais e em outros dois países.

Até o momento, as articulações regionais confirmaram atos no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Brasília e outras capitais, além de mobilizações internacionais em Nova Iorque e Londres. Eles são organizados pelos movimentos negros e pela comunidade congolesa e, no Brasil, ocorrerão simultaneamente, às 10h.

A Coalizão Negra ainda entregará denúncia à ONU após reunião com o Subcomitê para a Prevenção da Tortura no Brasil. E denunciará o caso ao Comitê para a Eliminação da Descriminação Racial do mesmo órgão internacional, cobrando providências sobre o assassinato do jovem congolês. O documento pretende destacar os crimes de racismo e xenofobia sofridos por Moïse.

Para Thuane Nascimento, integrante da Coalizão Negra, estudante de direito na UFRJ e diretora do PerifaConnection, os atos marcam um posicionamento diante da crueldade do caso.

“Um homem negro, congolês, foi morto a pauladas com brutalidade. É nosso papel enquanto movimento negro cobrar e mobilizar contra toda e qualquer demonstração de racismo em nossa sociedade”, pontua.

O jovem de 24 anos foi ao quiosque onde trabalhava informalmente, na Zona Oeste carioca, cobrar uma dívida de R$ 200 referente a dois dias de trabalho, quando foi golpeado por mais de 30 vezes.

“Essas ações são a manifestação mais cruel do racismo e da xenofobia, elas nos despertam sentimentos de ódio e tristeza”, reforçou Douglas Belchior, um dos fundadores da Coalizão Negra Por Direitos sobre a violência contra o congolês. “Então, a gente tem que fazer desses sentimentos a força para realizar a luta antirracista no país”, finalizou.

Denúncias à ONU

Integrantes da Coalizão Negra e de movimentos de defesa de direitos humanos se reuniram em Brasília com representantes do Subcomitê da ONU para a Prevenção da Tortura na última terça-feira (1). A reunião aconteceu após pressão das organizações que colocaram em pauta o assassinato de Moïse e a situação problemática em que se encontram os presídios brasileiros, com os maus-tratos sofridos por detentos.

Para Adriana Moreira, integrante da Coalizão Negra em São Paulo, “é de fundamental importância a Coalizão Negra por Direitos estar junto, mobilizada e articulada politicamente em torno das garantias dos direitos humanos das populações migrantes e itinerantes”. Ela ainda destacou que a xenofobia e o racismo reforçam os sistemas de dominação colonialistas. “Não podemos perder de vista que a população migrante no Brasil que sofre violações de direitos, objetivamente, são populações não brancas, oriundas de territórios que sofreram com a colonização e que são forçadas a migrarem”, finalizou.

Em nota, a comunidade congolesa no Brasil destacou a xenofobia e o racismo como causas das violências cometidas contra imigrantes como Moïse na sociedade brasileira: “(…) Esse ato brutal, que não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a XENOFOBIA dentro das suas formas contra os estrangeiros, nós da comunidade congolesa não vamos nos calar(…)”.

No site da Coalizão Negra Por Direitos você acompanha os locais dos atos que estão se organizando.

Será que a mesma tragédia diária acontece com homens brancos? Não, em um país racista como o Brasil isso não acontece, o genocídio é contra pessoas negras.

*Esse texto foi escrito com a colaboração de Caio Chagas, jornalista da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra Por Direitos.

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