Mulheres e mercado de trabalho

Muitas mulheres lutaram por anos para obter o direito de trabalhar fora, sustentar a casa e sua família. Direito conquistado por milhares de mulheres. Hoje, segundo dados do IPEA, a proporção de mulheres chefes de família subiu de 27% em 2001 para 36% em 2012, isso mostra o avanço feminino no mercado de trabalho, uma tendência brasileira que veio acompanhada pelo avanço universal dos direitos das mulheres.

Texto de Pamela Sobrinho.

Em um estudo realizado pelo IBGE, a proporção de homens e mulheres com dez anos ou mais em relação há anos de estudo era de 51,6% para as mulheres 48,4% para os homens. Esse estudo mostra que as mulheres apresentaram maior escolaridade nos últimos anos, segundo dados de 2012 (.pdf) o número de mulheres que frequentam a universidade cresceu 1,32% em relação a 2011.

Ao contrário destes números, que mostram a grande participação feminina no mercado, as diferenças salariais ainda persistem em nosso mundo contemporâneo. O mesmo estudo apresenta que o nível de igualdade entre homens e mulheres é de 85,77%, esse dado mostra que apesar de serem mais capacitadas para os cargos as mulheres recebem menos devido seu gênero e, a situação piora ainda mais quando as mulheres são negras. O preconceito de gênero e cor é ainda muito persistente no mercado de trabalho.

 

O mais trágico deste cenário é que este preconceito é silencioso, são situações que raramente conseguimos perceber. Apesar dos inúmeros diretos conquistados, as empresas ainda preferem contratar homens ou mulheres sem filhos. Já vi entrevistadores perguntarem se a entrevistada tinha vontade de ter filhos, se era casada há muito tempo, quantos anos o filho da mesma possuía e se em caso de doença quem poderia ficar com a criança.

Já vi empresas demitirem mães logo após a licença-maternidade e também vi mulheres sendo demitidas por que suspeitava‐se que a mesma tinha pretensão de engravidar. Vi casos de mulheres serem humilhadas com piadinhas de mau gosto sobre seu gênero, sua competência e mais os inúmeros casos de assedio moral e sexual. Hoje, grande parte das vitimas destes crimes são mulheres. Mulheres de todas as idades sofrem assédio em todo o país, como provar estes casos se torna muito difícil, a maioria prefere pedir demissão a denunciar, devido o processo ser longo e constrangedor.

É difícil imaginar que em um país tão amplo e diversificado como o nosso, mulheres não possam assumir cargos de liderança e poder sem associa‐los a ganhos em troca de favores sexuais, que as líderes ainda sofram para manter a ordem e o respeito em sua equipe devido ao seu gênero. É difícil perceber que apesar de nossa grande capacidade intelectual somos facilmente substituídas por um homem porque podemos engravidar. É difícil imaginar que algumas empresas queiram nos podar o direito de ser mãe, é difícil assumir que vivemos em um país machista, com empresas machistas e até mesmo mulheres machistas.

Devemos, sim, continuar nossa longa batalha contra o preconceito de gênero, mostrar que somos mulheres com muito orgulho. Somos competentes, fortes, corajosas, capazes de lutar contra tudo e todos para vencermos. Somos mulheres, mães, feministas e profissionais competentes, somos o futuro de nosso país.

—–

Pamela Sobrinho é economista no Sistema S, editora na revista Betim Cultural, blogueira, mulher, feminista, sem denominações religiosas, mas amante do respeito e da igualdade. Escreve no blog: O que há por trás da Economia. Twitter: @pamsobrinho.

 

 

Fonte: Blogueiras Feministas

+ sobre o tema

Pandemia deixa mais da metade das mulheres fora do mercado de trabalho

O efeito devastador da Covid-19 sobre o emprego –em...

Domésticas não acreditam que ampliação dos direitos provocará demissões

Brasília – A ampliação dos direitos dos empregados domésticos,...

para lembrar

O cinema brasileiro é masculino e branco

Agência Nacional de Cinema lança pesquisa que revela o...

Jean Wyllys critica a ‘farsa da ideologia de gênero’

Para o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), ‘"Ideologia de...

Executivo é demitido após publicar comentário misógino no Twitter

Milton Vavassori disse sentir 'saudade do tempo que mulher...
spot_imgspot_img

Festival gratuito em SP terá simpósio sobre direitos econômicos para mulheres negras e shows de Ellen Oléria e Ilú Obá De Min

O Fundo Agbara, primeiro Fundo Filantrópico para Mulheres Negras do Brasil, realiza, no dia 24 de novembro, a partir das 13h, a 3ª edição...

Competência Feminina Negra diante de Chefes e Colegas de Trabalho Negros: Desafios e Reflexões

Hoje, mês da consciência negra, não focalizaremos no racismo perpetrado pelos brancos, mas sim direcionaremos nossa atenção para nós mesmos. Vamos discutir as novas...

Somente 7 estados e o DF têm cotas para negros em concursos públicos. Veja quais

Adotadas no Executivo federal, as cotas raciais nos concursos para entrada no serviço público avançam em ritmo bem lento nos outros níveis de governo,...
-+=