A Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, ainda atuante em Cachoeira (a 115 km de Salvador), é um bom exemplo de como as mulheres negras, historicamente, atuam em rede para combater o racismo e seus efeitos. A instituição é uma das que disseminam lições para novas experiências como a organização da I Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem-Estar.
A marcha será realizada em Brasília, no dia 13 de maio de 2015, mas a mobilização já está em andamento por meio de redes sociais como o Facebook. Tornou-se comum a disseminação de posts sobre o evento nos perfis do Face e também uma corrente de informações em blogs e sites.
“Utilizar as redes sociais é uma forma de ampliar as nossas discussões para um público que, no cotidiano, a gente não tem acesso”, aponta Maria Lúcia da Silva, diretora do Amma Instituto Psiquê e Negritude, sediado em São Paulo.
De acordo com Maria Lúcia, as redes sociais têm o potencial de surpreender na ampliação do público. A ideia também é incentivar a diversidade de representações. “Queremos aglutinar diferentes olhares e intervenções no campo da política e da cultura”, enumera.
De fato, as informações disseminadas tanto nas redes de relação de organizações dos movimentos sociais como nos perfis do Faceebok, têm chamado a atenção para além dos grupos de ativismo.
“Nossa ideia é formar uma capilaridade para levar as mulheres brasileiras de vários segmentos e categorias profissionais a participar”, diz Valdecir Nascimento, coordenadora executiva da organização baiana Odara. Ela integra o Núcleo Impulsor da Marcha.
No próximo dia 25, Salvador vai sediar uma das atividades de lançamento da marcha, a partir das 14 horas, na Praça Teresa Batista, Pelourinho. Vão participar cerca de 500 mulheres vindas de dez regiões da Bahia.
A ideia da caminhada surgiu no Encontro Ibero Americano de Afrodescendentes, que reuniu representantes da América Latina e do Caribe, em 2010.
A base da iniciativa, que envolve várias organizações do movimento social, é mostrar a importância de as mulheres negras estarem inseridas nos caminhos do desenvolvimento econômico brasileiro.
“Nos já temos a compreensão que sem combater o racismo nós não vamos conseguir pensar em alcançar o estágio de inclusão adequada”, completa Valdecir.
Debate
Os eventos para a preparação da marcha também estão possibilitando debates sobre diversos temas, inclusive, dos que se mostram novos em alguns aspectos, como o impacto da questão orçamentária no cotidiano das mulheres.
“Há estudos que dizem que nós, mulheres negras, pagamos mais impostos que os mais ricos. Estamos interessadas em descobrir os caminhos para que esse percentual possa ser revertidos em nosso benefício”, relata.
A escolha pelo 13 de maio é também uma ação voltada para a ressignificação. “Esse é para nós o Dia da Denúncia contra o Racismo para combater a ideia de que a abolição resolveu os problemas gerados pela escravidão”, afirma Valdecir Nascimento.