Na véspera do golpe, religiões se unem pelo Brasil

No gramado do Palácio do Planalto, onde Dilma ainda é a comandante, um ato interreligioso inaugurou o último dia antes do golpe

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Brasília dormiu sob a tensão, a incredulidade e a incerteza que envolvem o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Essa imagem teve seu ápice de surrealidade na noite de segunda-feira (9), em uma guerra de poder entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, com interferências do Supremo Tribunal Federal e obscurantismos que fazem com que o brasileiro comum não consiga compreender a dimensão do que está por vir.

Mas a cidade amanheceu luminosa nesta terça-feira (10), como são as manhãs no cerrado. No gramado do Palácio do Planalto, onde Dilma ainda é a comandante, um ato interreligioso inaugurou o último dia antes do golpe. Quase como uma benção para o Brasil, representantes das religiões islâmica, cristã, espírita e de matriz africana se reuniram para reafirmar a importância de enfrentar a intolerância religiosa – e a provável perda das conquistas sociais.

“Nós não estamos nos despedindo nem tristes por nada. Estamos fazendo uma disputa e vamos continuar disputando. É isso que nós temos que garantir”, diz a presidenta da Fundação Palmares, Cida Abreu, no lançamento do programa “Filhos do Brasil”, pelo enfrentamento à intolerância religiosa.

“É muito importante esse ato feito neste lugar”, afirma o Sheikh Mohamed Al Bukai, da União Nacional das Entidades Islâmicas do Brasil. Para ele, que pessoalmente é contra o impeachment porque “a decisão tem que ser do povo”, é a convivência pacífica entre todas as religiões que é capaz de lidar com as diferenças que estamos vivendo no País agora. “A convivência levar ao amor, o conhecimento é que acaba com esse problema.”

A maioria dos que estavam no jardim do Palácio do Planalto era de negros. Brasileiros que podem perder acesso à universidade, ajuda para áreas de seca, para a agricultura, para sair da miséria, para não passar fome e enfrentar o racismo. Mas gente que sempre lutou. E que não esmorece.

“Quando nossos ancestrais atravessaram o grande mar, no navio, nós estávamos ali naquele porão, resistindo. Vamos continuar resistindo. De cabeça erguida”, afirma Adna Santos, Mãe Baiana, mãe de santo de um terreiro de umbanda que foi criminosamente queimado em Brasília.

Porque o golpe, não por coincidência, pode ser consagrado justamente no dia mais simbólico para a população negra: o 13 de maio, libertação dos escravos.

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