Não bastam as vozes da ciência e da saúde: é preciso ouvir as mulheres

Ativista do movimento negro, Jurema Werneck defende que é preciso ouvir as mulheres para entender a epidemia da síndrome congênita da zika

Por Marina Pita Do Agencia Patricia Galvao

As epidemias, assim como qualquer outro fato de interesse público, não são livres de interpretações e recortes. No caso da epidemia de zika e da emergência pública decorrente da síndrome congênita associada ao vírus, o desafio é garantir que as vozes da ciência e da saúde não seja a única a falar neste momento, segundo análise da médica, doutora em comunicação e cultura e coordenadora da ONG Criola, Jurema Werneck.

“Precisamos da voz das mulheres, que vai contar a outra epidemia. Que vai contar a epidemia de silenciamento, de convivência com o mosquito, da convivência com a falta de saneamento, a convivência com as consequências da zika e com o terror da zika. Acho que esta é a questão central”, frisa Jurema Werneck, para quem é hora de as organizações sociais, movimentos e governo passarem a discutir como dar voz para as mulheres narrarem a epidemia de zika.

A avaliação da especialista em saúde e direitos das mulheres negras é de que o setor saúde enxerga a epidemia unicamente como “o problema de um mosquito, que carrega um vírus, que pica as pessoas e que faz nascer crianças com microcefalia”.

“As mulheres com certeza contariam outra história. Mas, para o setor de saúde, a mulher é acompanhante, mãe. Ela não tem nome e não é um sujeito. É o vetor da desgraça – através dela que nasce a criança com má formação, é através dela que não se tira o mosquito da casa, porque a mulher não limpa direito o vaso de planta. Ela não é nem coisa, é um corredor, é um vetor”, explica Jurema.

Mas a epidemia não ocorre por conta do vaso de planta, frisa Jurema. A epidemia se instala a partir de uma forte vulnerabilidade social e ambiental: as valas a céu aberto, ausência de saneamento básico, de água encanada, de coleta adequada de lixo e resíduos sólidos.

As condições para a proliferação da epidemia estão, assim, fortemente atreladas às comunidades pobres e negras. “Essa e todas as epidemias têm cor. Elas surgem diante da vulnerabilidade, elas terminam nessas comunidades, dessas pessoas. É o clássico da epidemiologia, que não está escrito, mas todo mundo sabe. No caso da epidemia de zika, recebi uma informação de que 70% das crianças com a síndrome do zika congênita são filhas de mulheres negras.”

Jurema Werneck é uma das painelistas confirmadas para o 9° Seminário Nacional A Mulher e a Mídia, que vai debater o tema – Mídia, Zika e os Direitos das Mulheres, nos dias 22 e 23 de abril, em São Paulo.

+ sobre o tema

Nota de apoio á greve de fome e mobilização estudantil na Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

REIVINDICAÇÕES DE QUEM TEM FOME: Via Facebook  Nós, estudantes independentes da...

Mais de 120 mil mulheres são donas do próprio negócio no DF

Segundo levantamento do Sebrae, o DF é a segunda...

Como a comunidade negra se comporta na Internet?

Quais redes sociais a comunidade negra mais acessa? Como...

para lembrar

Pandemia deixa mais da metade das mulheres fora do mercado de trabalho

O efeito devastador da Covid-19 sobre o emprego –em...

Vacina contra ebola tem êxito em teste e pode acabar com surto, diz OMS

O mundo está pela primeira vez prestes a ser...

Você é uma pessoa intolerante? Conheça as formas de preconceito e saiba a resposta

Hoje, 16 de novembro, comemora-se o Dia Internacional da Tolerância....

Acordo prevê ampliar acervo de objetos de religiões afro-brasileiras

O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida,...
spot_imgspot_img

Juventudes latino-americanas debatem estratégias de combate às mudanças climáticas

São diversas as iniciativas que antecipam a COP 29, que irá ocorrer em novembro na cidade de Baku, no Azerbaijão. Uma delas é a...

“O negro é mais acometido por suicídio, depressão e ansiedade”, afirma psiquiatra

O Brasil é o país com maior índice de ansiedade do mundo, de acordo com a OMS. Segundo relatório publicado em março de 2019,...

Evento de Geledés reúne autoridades em NY para discutir agenda racial na Cúpula do Futuro

Em paralelo à Cúpula do Futuro, que acontece em Nova York, Geledés -Instituto da Mulher Negra promoveu nesta sexta-feira, 20, no Roosevelt House Public...
-+=