Em sua nova coluna, Isis Vergílio comenta as relações de trabalho no qual os empregados tomam as dores do empregador e agem de maneira abusiva visando lucro
Por ISIS VERGÍLIO, da Marie Clarie
Sempre que quero dizer que alguém é corporativista, uso a expressão: “Essa pessoa não tira o crachá”, em referência ao fato de que, quando ela entra em contato comigo via empresa, representando aquela empresa, penso eu que, ganhando seu bom ou médio salário, porém, os lucros milionários de seu empregador não fazem nem cócegas em sua conta bancária. Mas é esse “ser humaninho”, o intermediador, que defende com unhas e dentes os métodos da companhia, como um daqueles cachorros adestrados, correndo atrás dos brinquedinhos, sabe?! Atendendo comandos do tipo: “Senta!”, “Rola!” _até ganhar um biscoitinho. Ela se utiliza de um mecanismo de trabalho extremamente opressor, considerando seu pequeníssimo “poder”. Aliás, que poder?
Honestamente, não me importa se “o intermediário” está e permanecerá num relacionamento sério com a empresa, desde que ele não seja um agente abusivo, tóxico, que joga com a necessidade do contratado. E não venha atuar como um grande cão de guarda da “corporação”, a ponto de defender o indefensável que são: ofertas baixíssimas de trabalho, mão de obra exploratória e uma arrogância por acreditar que está nos fazendo um favor. Sinceramente, às vezes sinto pena; noutras nojo. A necessidade anda de mão dadas com a submissão, então, é pra você que estou falando, intermediador. Você sabe muito bem que algumas ofertas não se fazem: tenha o mínimo de compostura. Se você se diz aliado na luta, qual disputa está realizando em seu espaço de atuação? Não responsabilizo quem aceita fazer trampo por R$ 100, por não ter nem comida na geladeira, pois sei muito bem o que significa. Responsabilizo você, que sabe que isso é totalmente inconcebível e faz por acreditar que aquela cadeira cativa será sua eternamente e, sinto dizer, você é tão dispensável como qualquer terceirizado a quem você oferece “oportunidades” humilhantes.
E digo mais: eu concordo muito quando algumas feministas negras falam que precisamos tomar cuidado com a tal da representatividade. Outro exemplo é que as empresas, por conta das pressões dos movimentos sociais, traçaram duras batalhas para que tivessem representações negras, LGBTQI+ em seu corpo de trabalho, e foram responsáveis por essa “movida” para tornar o espaço corporativo mais diverso. No entanto, ao entrar nessas empresas, elas acabam, em algumas situações, por reproduzir o mecanismo de trabalho para a sua permanência, operando também como sucateador de mão de obra, nos chamando de “mana”, de “preta”, mas usando o tal crachá. Ainda que seja errado, esse texto não é sobre vocês, pois como disse, só nós sabemos das nossas condições de vida e, repito, a necessidade é a mão amiga da submissão, mas já que estamos pensando condições de trabalho melhores para os nossos, que estejamos atentos para não ser o caranguejo dentro do balde. Como disse no meu último texto aqui, reproduzindo lógicas de opressão para com os nossos. Estejamos atentos, fortes e preparados!
Eu não quero o “kit”, quero o dinheiro pra ESCOLHER o kit que eu vou comprar. #pas
AUTOCUIDADO é também dizer o que precisa ser dito, a cabeça e o intestino agradecem!