‘Nenhum país trata mulheres como seres completos’, afirma Graça Machel

FONTEFolha de S.Paulo
Ativista moçambicana Graça Machel durante participação no Fronteiras do Pensamento, em 2019 - Greg Salibian - Divulgação

A discriminação que sofrem mulheres e negros e a forma como nasce a desigualdade social dentro de cada um são temas abordados por Graça Machel em depoimento ao Fronteiras do Pensamento. ​

“Não há país nenhum no mundo que eu possa dizer que trata as mulheres como seres humanos completos, inteiros. Mesmo no caso de a mulher ter formação superior, expertise, ela ganha um menor salário. Todos os outros critérios estão absolutamente preenchidos, mas ela é mulher e só por isso ela tem que receber menos. Não há país no mundo que possa gabar-se de que já atravessou essas fronteiras”, afirma a ativista.

O preconceito racial também é sentido e comentado pela moçambicana. Veja o vídeo.

“O fato de eu ter a pele mais escura já faz com que eu seja considerada inferior. Mas, se eu rasgar uma veia minha, o sangue que sai daqui é tão vermelho quanto de qualquer um. Existe já o princípio que a cor da pele estratifica o valor das pessoas”.

Sobre a origem da desigualdade social dentro de cada indivíduo, Machel atribui o momento em que ter o necessário para sobreviver torna-se pouco e, a partir daí,cresce a necessidade de acúmulo de riquezas. As relações de poder nascem a partir da ganância, para justificar que uns possam ter mais bens materiais e controle sobre os outros.

“Nós precisamos dos dons da natureza para sobrevivência e conforto. Mas, a partir de uma determinada altura, nós, a família humana, decidimos que ter apenas o suficiente para nossa sobrevivência e conforto não era suficiente, era necessário acumularmos e, com este acúmulo, desenvolveu-se a ambição, os excessos”.

Graça Machel defende ações pela educação das crianças e pelo empreendedorismo de mulheres em territórios pobres e carentes de investimentos e de direitos humanos. Considerada uma das mais importantes ativistas africanas, a viúva de Nelson Mandela se espelha na própria trajetória para mudar outras vidas no continente africano. Defensora da valorização das comunidades, em 2010, fundou a Graça Machel Trust, organização que auxilia mulheres empreendedoras no continente africano. Também integra o The Elders, grupo que reúne grandes líderes globais.

“A sua identidade vai ser sempre uma questão coletiva. Nunca vai ser uma questão absolutamente individual. Se você não estiver em equilíbrio com os outros, você deixou de ser gente”, conclui.

Graça Machel abriu a temporada 2019 do Fronteiras do Pensamento

-+=
Sair da versão mobile