Nota da Conen sobre a agressão de Reaja

Consciência Pan-africana é preciso!

Enviado para o Portal Geledés

O uso de bandeiras por parte dos movimentos sociais é um ato identitário e de grande relevância política. É através dos seus símbolos de luta que os movimentos são identificados e também transmitem as suas mensagens, os seus anseios e sonhos de um mundo melhor. A campanha Reaja ou será morto, Reaja ou será morta em seu comunicado nacional sobre a III Marcha contra o genocídio do povo negro traz uma reflexão interessante sobre o uso ou não de bandeiras, ao informar que “não aceita em suas fileiras bandeiras, panfletagem ou propaganda que não seja compatível com a construção de uma organização internacional de luta Panafricanista, Quilombista, Negro-Comunitária.”

Ou seja, enquanto organização Panafricanista, Quilombista, Negro-Comunitária, a campanha REAJA expõe a não aceitação do uso de bandeiras que não estejam compatíveis com os seus anseios, mensagens e sonhos de um mundo melhor a partir das perspectivas citadas. Respeitamos a decisão da campanha e por respeitar esta decisão, não compreendemos os fatos ocorridos durante a realização da marcha na cidade de Salvador-BA, quando militantes da Coordenação Nacional de Entidades Negras foram hostilizados e agredidos por erguerem a bandeira da referida entidade, vide que a mesma representa uma organização igualmente Panafricanista.

A CONEN participa ativamente da luta pan-africanista na diáspora, estando na construção dos congressos, estando em constante dialogo com os diversos movimentos negros na diáspora, estabelecendo relação com as nossas irmãs na América Latina e África, que esteve na organização das Marchas Zumbi, Zumbi + 10, e que agora se empenha na construção da Marcha Zumbi + 20, do Congresso Nacional dos Povos da América, e que em 2012 levou as ruas o tema “Consciência Pan-africana é preciso” com a Marcha do 20 de novembro realizada anualmente.Compreendemos que o genocídio do povo negro é a tentativa de extinção do nosso povo, levado a cabo por diversos séculos desde o processo escravocrata e que agora é levado a cabo pelo Estado, a partir do seu braço armado que quando não mata, encarcera e exclui, além de uma politica sobre drogas, que fomenta a guerra contra o nosso povo.

Pelo entendimento de que o genocídio é um processo estrutural, acreditamos que a pauta não deve possuir donos, é preciso que os diversos setores do movimento  social, os movimentos feministas, LGBT, de luta pela terra, de luta por moradia, se empenhem no combate a este mal que atinge majoritariamente a nossa juventude, a despeito do protagonismo ser dos diversos movimentos negros.

A CONEN tem estado empenhada nesta luta nos últimos anos. A construção do I ENJUNE- Encontro Nacional de Juventude Negra, que colocou este debate em um outro patamar, teve ampla participação desta entidade, integramos o Fórum Nacional de Juventude Negra, participamos da construção da CPI da Violência contra Jovens Negros e a pauta é prioritária em nossas ações.

A agressão física e verbal sofrida pela nossa militância, a ameaça de queimar a nossa bandeira, as mentiras acerca da agressão sofrida por uma mulher, a exposição de inverdades feitas no trio acerca da nossa articulação politica, são extremamente graves, não apenas pela ameaça a integridade física da nossa juventude, mas principalmente pela exposição irresponsável de uma entidade que possui 25 anos de luta pela igualdade racial e que ajudou a construir a I e a II Marcha Internacional contra o genocídio do povo negro, expondo a incapacidade de solidariedade politica da III Marcha com as entidades que foram as ruas protestar.

Jamais poderíamos ter sido expulsos da Marcha vide que a mesma é realizada na rua, e a rua é o nosso lugar, é na rua que construímos os nossos ideais, e nem a agressão sofrida poderá nos retirar dela. Repudiamos os fatos ocorridos bem como reafirmamos o nosso lugar de fala enquanto organização negra, panafricanista, reafirmamos a centralidade do debate, e reafirmamos a solidariedade politica a organização da JCONEN – juventude da CONEN-Bahia hostilizada e agredida durante a marcha.

Da rua não nos retiramos.

Da luta não sairemos.

Contra o genocídio do povo negro, nenhum passo atrás !

Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN

Executiva Nacional Agosto / 2015.

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...