O choro inútil da aposta de Dilma como “o bode na sala”

Por: Fátima Oliveira

 

“Dilma e o bode” é o título de uma matéria da “The Economist” de abril de 2008, baseada na chamada “parábola do bode na sala”, citada “pelo consultor político Bolívar Lamounier para dizer que Lula poderia estar estimulando a candidatura de Dilma agora para depois oferecer outro nome: – Conhece a história do homem que coloca um bode na sua sala de estar e depois se oferece para negociar com você para tirá-lo de lá?”.

Num exercício furado de futurologia, a mesma matéria disse: “Ela ainda não é uma candidata viável para 2010”; todavia arrematou: “É impressionante de perto, misturando charme pessoal, firmeza e um evidente controle de detalhes técnicos”. A imprensa nacional adotou taxá-la de “o bode na sala” e apostava que, quando a campanha entrasse na reta do pra valer, a candidatura da “poste” seria retirada! Em 3 de novembro de 2010, Dilma Rousseff foi eleita a primeira presidente do Brasil.

Erraram a revista e o consultor. Subestimaram criatura e criador. Os adversários perderam a eleição e continuam com o discurso falacioso e não republicano de que a presidente é “bode na sala”. Ora, me compre um bode!

Há várias versões sobre a origem da expressão “bode na sala”. Todas têm em comum o fato de que um homem, exausto com as queixas familiares sobre as dificuldades decorrentes da escassez de dinheiro, foi aconselhado a levar para a sala o bode que criava em seu quintal. A vida difícil ficou caótica. Além do balido impertinente, os dejetos e a fedentina empestando tudo! Foi um alívio quando ele devolveu o bode ao quintal.

Bode não é só estorvo. Também simboliza segredo. Explico-me. Em Graça Aranha (MA), meu torrão natal, não havia Correios, banco, luz elétrica e nada que cheirasse a progresso até meados de 1970; entretanto, havia uma loja maçônica. E os maçons eram chamados de bodes. Papai aspirava a ser maçom. Todavia, a família não permitia (leia-se: minha avó e meu avô maternos e mamãe, em ordem decrescente de poder sobre ele).

Curiosa, indaguei por que ser maçom era igual a ser bode. Papai explicou-me de um jeito simples e inesquecível: “Compreendes o que tua avó diz ao falar: “Justo que só boca de bode?” Murmurei: “Hem-hem (linguajar maranhense que, dependendo do contexto, pode significar sim). Bode tem a boca fechadinha”. Papai riu e continuou: “E não fala! O bode na maçonaria quer dizer segredo. Daí o apelido de bode para o maçom”.

Encontrei um trecho da lavra do maçom José Castellani relatando que, em torno do terceiro ano depois de Cristo, os apóstolos que pregavam o Evangelho na Palestina “ficaram surpresos com o costume do povo judaico em falar ao ouvido de um bode (…)”. Um rabino contou ao apóstolo Paulo que era “um cerimonial judaico, cujo povo tem o bode como confidente, para expiação de pecados e erros”. Durante a “Santa Inquisição”, a maçonaria foi duramente perseguida pela Igreja Católica. Um dos inquisidores mais cruéis, Chasmadoiro Roncalli, declarou ao seu superior: “Senhor, esse pessoal maçom parece bode. Por mais grave que eu torne o processo de flagelação a que lhes submeto, não consigo arrancar de nenhum deles quaisquer palavras”.

Em cena, o bode que fede e emporcalha a sala; o que guarda segredo; e o que quero vender… Tentaram colar o primeiro na candidatura Dilma como a sua alma. Não colou. Agora, aventam que ela é o bode na sala do seu governo! Talvez para funcionar como meteorologista, já que “bode, quando espirra, anuncia chuva”.

 

Fonte: O Tempo

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