O custo do racismo por Ricardo Henriques

Ricardo Henriques é superintendente executivo do Instituto Unibanco

Apesar dos avanços na educação, o desafio ainda é enorme, pois os indicadores educacionais são baixos entre os brancos e baixíssimos entre os negros

As desigualdades raciais em nossa sociedade violam cotidianamente os direitos humanos de milhões de brasileiros e têm um custo alto para o desenvolvimento econômico do país. Dado que os negros são 52,9% da população, o país compromete sua competitividade global pela limitação no nível de escolaridade dos negros, significativamente menor que o dos brancos.

A sociedade é cindida por dois paradoxos. Por um lado, somos um povo miscigenado e diverso, tendo a raiz africana como uma de suas matrizes fundantes e, ao mesmo tempo, profundamente desigual e racista, que se comprova pelas estatísticas e por fatos cotidianos no mundo real e virtual. Um dos efeitos disso é a naturalização das desigualdades raciais. Por outro lado, a educação que, por princípio seria o caminho mais efetivo de promoção da justiça e mobilidade social, está, em várias circunstâncias, na origem, manutenção e ampliação das desigualdades.

A desigualdade entre negros e brancos na educação é evidente. De acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios — IBGE), a escolaridade média do homem negro é de 6,9 anos e da mulher negra de 7,4 anos, enquanto que a do homem branco é 8,7 anos e a da mulher branca, 8,9 anos. Lamentavelmente esse cenário não será rapidamente superado na medida em que 54,4% dos brancos, entre 18 e 19 anos, concluíram o ensino médio, enquanto que, entre os negros na mesma faixa etária, apenas 35,7% finalizaram essa etapa da educação básica. Apesar dos avanços na educação nos últimos anos, o desafio ainda é enorme, pois os indicadores educacionais são baixos entre os brancos e baixíssimos entre os negros. Temos de, simultaneamente, aumentar o nível dos indicadores e reduzir a desigualdade.

Inúmeras escolas públicas do país encontram dificuldades para acolher todos os estudantes com suas singularidades e necessidades. A escola frequentemente se apresenta incapaz de lidar com as consequências das desigualdades estruturais socioeconômicas do seu alunado, particularmente nas comunidades mais vulneráveis. O desafio não é trivial. Além de professores competentes, dedicados ao ensino e capazes de reconhecer as desigualdades e valorizar a diversidade, é fundamental fortalecer a gestão da escola para assegurar o direito à aprendizagem com a melhoria dos resultados cognitivos e socioemocionais de cada estudante.

Uma educação com qualidade e equidade é pressuposto fundamental para um padrão de desenvolvimento inclusivo e economicamente dinâmico. Se não incidirmos agora na agenda da desigualdade educacional, contemplando a dimensão racial, estaremos fadados, em futuro próximo, a uma situação de limbo na competitividade global. O caminho mais potente para reduzir as desigualdades e construirmos uma sociedade mais equânime e com oportunidades para todos é a partir de uma educação pública que reconheça a importância das diferenças e da diversidade, valorize o mérito e construa condições de equidade.

 

Fonte Globo 

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