O desastre da classe média, dos “Maria vai com as outras” e de seus ídolos

Queridíssima amiga Sara Regina Farias, Santa Maria, RS

Por Dom Orvandil Do Brasil247

A emoção de nosso reencontro após mais de 34 anos se reveste dos significados das lembranças da luta contra a ditadura e da organização do povo, que se enraizaram em tua consciência e dos gestos de solidariedade entre nós, estes transformados em gratidão pela preservação da vida.

Contaste-me do quanto tu e tua irmã são engajadas na mesma resistência de todas as pessoas de bem, que não aceitam o golpe dos assaltantes que tomaram o poder para destruir nossos direitos e vender o Brasil. Não esqueceste de listar nas reminiscências da nossa história o enorme compromisso sempre reafirmado na participação de teu pai Nelci, o primeiro presidente da União de Associação de Moradores de Santa Maria, fundada por nós na resistência ao terror da ditadura militar nem deixaste de mencionar o envolvimento de tua mãe Albertina. Que alegria saber o quanto a participação na luta foi pedagógica para tua família e para ti, que não traíste tuas origens. Tua família sabiamente sempre aliou perfeitamente a fé com a militância na construção de uma sociedade mais justa. Como liderança na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Diocese Católica de Santa Maria o teu pai e a tua mãe até hoje alimentam o sacramento sagrado da justiça social, que não é valor projetado para o futuro e para o céu, como gostam de pregar segmentos curandeiristas, dizimo idólatras e fundamentalistas dos que se dizem cristãos.

Comoveste-me ao me lembrar de nosso envolvimento para te salvar da morte quando picada por uma das cobras mais venenosas, a popular “cruzeira”. Dizes que ainda tens a marca de sua presa, mas o mais importante é que ela simboliza a vida preciosa que foi salva e tu resgatada como presente para a humanidade. Obrigado, querida Sara.

Penso que a senda de tua vida é sinal dos mais eloquentes do quanto a educação politizada, que forma o caráter da cidadania, é a mais justa e correta.

Vivemos hoje no Brasil o desastre da ilusória classe média modelo “Maria vai com as outras” da mídia, do senso comum pulverizado e extensão tipo barriga de aluguel da direita fascista e neoliberal, que manipula vontades e ignorâncias de pessoas que não leem, não estudam e não se organizam em comunidade para se educar analisando a realidade econômica, política e social, tremendamente obscura, complexa e confusa para os analfabetos funcionais, desinstrumentalizados de criteriosas ferramentas de entendimento do choque de interesses na sociedade.

Desde 2013 que debatemos a confusão deliberada ou não que a farsante classe média faz entre política, que é missão de todos os cidadãos, e os políticos, como gostam de chamar aos parlamentares e governantes, na verdade os eleitos para nos representar nos poderes de Estado. Atrapalha-se e não entende que o Estado é ocupado pelos interesses mesquinhos da burguesia branca, racista, conservadora e fundamentalista, confundindo com o que classifica de “os políticos”. A confusa e falsa classe média define como falta de vontade o que na verdade é falência do capitalismo que desemboca invariavelmente no massacre do Estado social, previdente, inclusivo, desenvolvimentista e em destruição dos direitos do trabalho.

Depois da derrubada da ditadura cruzamos pelos escaninhos sombrios da falta de qualidade da consciência, que compromete todas as pessoas com a edificação da sociedade justa. São estações destas viagens do atraso os governos de Sarney, de Color, de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, que engrossou o desastre do caldo cultural do desastre social e nacional, cujas tristes consequências ainda colhemos.

Há poucos dias um filósofo meu amigo, professor numa das grandes universidades católicas do País, me contou com sabor de tristeza e de incertezas que é vigiado para que em suas aulas, principalmente a seminaristas, não trabalhe filósofos como Nietzsche, Marx e outros, ricos em formação humana.

É o fracasso absoluto da formação acadêmica, política e social de futuros sacerdotes e cidadãos.

E assim segue o monstro que destruiu várias gerações deformando intelectualmente toda uma sociedade e formando idiotas e paus mandados das manobras da burguesia mesquinha que tomou todos os poderes da República.

Cansei e me enojei de ouvir donos de faculdades, coordenadores medíocres de cursos e diretores discursando sobre um tipo de ensino que apenas [de] forma mãos de obra para o mercado, sem intelecto pensante e reflexivo.

Faliu a educação, faliram as igrejas, faliram os partidos, faliram as famílias. Tudo o que sobra é um enorme bando de manipulados que bebe as lavagens midiotizantes dos que usam os meios de comunicação para destruir a sociedade e as responsabilidades políticas dos cidadãos. Tudo o que lhe interessa é que as pessoas sejam cordeirinhos e consumidores dos lixos que vendem.

Com dor vi pessoas queridas e amigas se transformarem em depósitos dos espermatozoides da imbecilidade gritando pela volta da ditadura assassina, berrando contra a corrupção, mas a serviço dos maiores corruptos, golpistas e traidores.

Nas TVs, rádios e igrejas ouve-se padres e pastores usando da boa fé das pessoas para mentir e perverter suas mentes com fundamentalismos de carácter fascista e destruidor do respeito aos outros e aos diferentes.

No Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores assiste-se a maximização da burrice e do ódio, dando vitória a fichas sujas e a derrota para quem trabalha.

As madames de luxuosas mansões e bairros ricos berraram “fora Dilma” e quando abriram suas panelas onde bateram viram de lá sair Cunha, Temer e o golpe dos corruptos.

Nas manifestações de rua banqueiros, brancos, ricos e pessoas de ideias velhas e fascistas idolatraram o japonês da Polícia Federal, um corrupto sujo, glorificaram Sérgio Moro, o juiz mais injusto e seletivo da República, que ajuda todos os dias a parir o monstro que ocupa o Palácio do Planalto, diziam-se ser milhões de Cunhas e impuseram o escárnio do deputado mais sujo e desclassificado que já passou pelos caminhos do legislativo federal.

O que temos atuando no Congresso, salvo maravilhosas exceções que deveriam ser a regra, são pulhas que envergonham a democracia e o Brasil. São um bando de picaretas, covardes, mentirosos, ladrões e direitistas bandidos. São eles que alimentam com suas fezes mentais a interinidade do traidor, sabotador e golpista Michel Temer.

Sobram as lições de que não existe classe média, mas porta-vozes imbecilizados manipulados pelos capitalistas bestas e sangue sungas da vida de nosso povo trabalhador e realmente produtivo de nossas riquezas, infelizmente roubadas e concentradas em poucas mãos, como bem exemplifica Eduardo Cunha e sua ladra família, uma verdadeira quadrilha.

Outra lição é a de que somente com a participação mobilizada e educativa politicamente do povo é que se supera a alienação que faz das pessoas marionetes abestalhadas dos inimigos do Brasil, da democracia e da justiça social.

A única educação válida, seja nas instituições, igrejas, partidos, famílias, sindicatos e empresas, é a que efetivamente resgata a sagrada capacidade de associatividade das pessoas, que fazem parcerias e unidades em favor de todos e não apenas de alguns privilegiados.

Da virada dessa crise catastrófica sairão cidadãos comprometidos com o País e com uma sociedade mais justa.

Não cruzarão por esse gargalo religiosidades dos pastores ricos com ovelhas pobres, que edificam templos luxuosos ao lado de setores miseráveis, afirmando que isso não tem nada a ver com a fé. Não passará o ensino mercadoria que enriquece donos de escolas, que com o dinheiro dos sofridos estudantes viajam, compram fazendas e dão privilégios para as famílias deles sem se importar com a miséria dos que consideram apenas como clientes. Não sobrarão os picaretas que se elegem com muito dinheiro dos que patrocinam suas campanhas eleitorais para depois terem seus projetos aprovados e executados contra os interesses da maioria do povo.

Desta crise emergirá modelo novo, mas não tão novo ao ponto de desconsiderar a sabedoria do tipo da que te construiu, querida Sara, que se delineará pelo espírito da união e do congraçamento humano que nos dignifica.

Fora disso será a perdição total para todos nós.

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