“O exército libertador do Brasil era formado pelo povo pobre”

Ex-presidenta da Unegro Bahia e atuante no movimento negro desde a juventude e no movimento de mulheres, Olívia Santana, falou brevemente sobre a importância desses dois grupos na batalha travada antes pelo povo em prol da libertação do Brasil de Portugal. Para a secretária Nacional de Combate ao Racismo do PCdoB e secretária estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, o Dois de Julho é marcadamente feminino, pelas forças libertárias que se destacaram neste processo.

Por Maiana Brito Do Portal Vermelho

Qual o papel dos negros na luta pela independência da Bahia e do Brasil?

A participação dos negros foi altamente relevante. O exército libertador foi formado por voluntários de maioria pobre, negra e indígena, que se entregaram à luta pela libertação do Brasil de Portugal. Quem travou esta batalha foi o povo mais pobre. Tanto que o General Labatut enviou carta para a Corte, contando que os filhos dos senhores não se apresentaram e os negros estavam lutavam contra eles. Por isso, temos os caboclos no desfile. Eles representam esta parcela da população, que foi a grande responsável pela independência da Bahia e do Brasil.

O Nordeste teve participação destacada neste movimento de libertação de Portugal. O que representa para o nosso povo esse desfecho, sendo a Bahia a primeira capital do país?

O povo nordestino é forte, sertanejo, pobre, insurgente, que teve um protagonismo muito grande neste processo. Foram muitas as lutas que levaram o Brasil à independência. Foram diversas batalhas, até que Dom Pedro I decretou, em 1823. A luta real – armada – se deu muito antes disso, foi travada pelo povo nordestino, e custou muitas vidas.

Outra força marcante foi a das mulheres. Muitas se sacrificaram, a exemplos de Joana Angélica e Maria Quitéria. Qual a importância das mulheres neste processo?

Eu digo que o 2 de Julho é feminino. É quando celebramos a participação das mulheres em defesa do povo brasileiro. Maria Quitéria, por exemplo, filha de populares, que se travestiu de homem para lutar pelos seus ideais, por conta do tabu da época, de que as mulheres somente podiam cuidar da família. Ela não abdicou da força, da vontade e do direito da liberdade de insurgir e ir à guerra, rompendo essa barreira. Esses entraves não a impediram de imprimir a sua marca na história do Brasil. É o nosso maior exemplo do desejo da mulher de protagonizar a luta pela liberdade.

Temos outro exemplo: a freira Joana Angélica. Ela defendeu o seu “templo” com o próprio corpo como escudo, enfrentando toda uma tropa, e acabou assassinada. A intolerância prevaleceu, mas não apagou a sua bravura. Temos também o resgate de outra mulher emblemática, recentemente, que é Maria Felipa, quilombola da Ilha de Itaparica. Há uma força muito grande no imaginário popular sobre a figura dela, que teria incendiado diversos navios portugueses, como resistência pela liberdade.

Então, no 2 de Julho, o destaque é para as mulheres. Apesar de o desfile ter sido iniciado somente com a figura do caboclo, hoje, graças à pressão popular, a cabocla também é reverenciada. Isso é o reconhecimento da importância da participação das mulheres na maior luta travada pelo povo brasileiro.

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