O feminismo é a minha janela aberta para o mundo

Estamos em 2015, nos 105 anos de um marco da milenar luta contra a opressão feminina: o Dia Internacional da Mulher, o 8 de março, proposto em 1910, na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, organizada por Clara Zétkin (1857-1933) e Rosa de Luxemburgo (1871-1919), tendo como eixo da luta pela emancipação feminina a igualdade de oportunidades no trabalho e na vida social e política – aspirações ainda atuais.

 

Por Fatima Oliveira Do O Tempo

 

O feminismo é a minha janela aberta para o mundo por ser uma visão libertária de que a mulher precisa viver em condições nas quais todo o seu potencial criativo e de contribuição à humanidade possa ser plenamente aproveitado; e luta para que o patriarcado, que assume ares de eterno no lombo das mulheres, seja exterminado.

 

O feminismo contemporâneo é um conjunto de tendências ideológicas, cujo traço de unidade é a constatação de que a opressão de gênero é um fenômeno pancultural e resquício da cultura patriarcal; logo, a teoria feminista, que visa derrotar o patriarcado, é o conjunto de ideias oriundas do feminismo, do conceito de gênero e da consciência da opressão de gênero.

 

Gênero é uma categoria analítica que trata do significado político, econômico, cultural e social da construção da feminilidade e da masculinidade, além do que informa que as relações entre os sexos não são ditadas pelas suas diferenças biológicas em si, mas pela construção do ser mulher e do ser homem. Opressão de gênero é a opressão do sexo feminino originária dos privilégios masculinos advindos das relações assimétricas entre os gêneros e das relações de poder opressoras.

 

O conceito de gênero e sua decorrência mais prática, a perspectiva de gênero, legitimados pelo sistema Nações Unidas, tem possibilitado que Estados democráticos incorporem, ainda que lentamente, a “perspectiva de gênero” às políticas públicas. O documento final da Conferência de Beijing (1995) diz: “O obstáculo principal que impede a mulher de alcançar o mais alto nível possível de bem-estar é a desigualdade entre a mulher e o homem, e entre mulheres de diferentes regiões geográficas, classes sociais e grupos indígenas e étnicos” (parágrafo 89).

 

De fato, as mulheres não constituem uma categoria universal. Entre nós há clivagens de classe e raciais/étnicas, sobre as quais pesam, com relevância, variáveis como a escolaridade, o processo saúde/doença e a maior ou menor exclusão social intramuros da pobreza, além da importância crucial das liberdades democráticas, sobretudo os direitos civis e políticos.

As clivagens de classe entre as mulheres vão além da concepção reducionista da pobreza ao viés economicista – sob a égide da tríade crescimento econômico, aumento da renda per capita e PIB. Então, o fator renda é insuficiente para captar outras nuances das desigualdades materiais, sociais e simbólicas, em particular os alicerces culturais da desigualdade entre os gêneros; e entre os grupos populacionais raciais/étnicos.

 

As clivagens raciais/étnicas entre as mulheres, num país de forte herança da escravidão negra como o Brasil, são patentes e insidiosas, tanto que o feminismo brasileiro, que tem uma dívida imensa com as mulheres indígenas e as ciganas, levou décadas para incorporar a chamada “questão da mulher negra” – ainda muito esquecida, embora, paradoxalmente, sejam negras metade das brasileiras!

É no contexto das desigualdades descritas que o feminismo é insubstituível como “ferramenta” na luta por um mundo livre de todas as opressões.

+ sobre o tema

Mulheres marcham contra o machismo em Paris

Aproximadamente 100 mulheres participaram neste sábado (1º), em Paris,...

Helle Thorning-Schmidt – Berlusconi admira sem dissimular primeira-ministra da Dinamarca

Os meios de comunicação italianos destacam, esta quarta-feira, o...

Mães pela Igualdade – Carta às mães e pais brasileiros

Nós, Mães pela Igualdade, gostaríamos de pedir dois minutos...

Europa: cresce o tráfico de mulheres

Estudo sugere que prostituição forçada avançou 50% em cinco...

para lembrar

TJSP nega 83% dos habeas corpus pedidos para mulheres acusadas de aborto

Nos Habeas Corpus negados, há duas mulheres acusadas pelo...

Amantes de padres católicos pedem fim de celibato em carta aberta

 Em carta a Bento XVI, mulheres defendem que celibato...

Fabrício Boliveira: “O machismo é uma escravidão”

Capa da GQ de setembro ao lado de Emilio...
spot_imgspot_img

Poesia: Ela gritou Mu-lamb-boooo!

Eita pombagira que riscaseu ponto no chãoJoga o corpo da meninade joelho num surrão. Grita ao vento seu nomeComo se quisesse dizerQue mulher tem que...

A mulher negra no mercado de trabalho

O universo do trabalho vem sofrendo significativas mudanças no que tange a sua organização, estrutura produtiva e relações hierárquicas. Essa transição está sob forte...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....
-+=