Mulheres movimentam internet com causas feministas e lutam pela igualdade

Blogs, perfis no Twitter e fanpages no Facebook têm reunido milhares de mulheres  para discutir a defesa dos direitos

Por Luana Ribeiro Do d24am

Entre os diversos movimentos que têm usado o poder da rede para lutar por diferentes causas, o feminista está entre os mais populares.

Manaus – Na geração da internet, os palanques para as reivindicações sãos as redes sociais. E, entre os diversos movimentos que têm usado o poder da rede para lutar por diferentes causas, o feminista está entre os mais populares.

Blogs, perfis no Twitter e fanpages no Facebook têm reunido milhares de mulheres com idade na faixa dos 20 a 40 anos para discutir sobre assuntos como padrões de beleza, violência doméstica, abuso sexual, aborto e outros assuntos que têm, em comum, um ponto central: a defesa dos direitos das mulheres.

Entre as páginas mais populares estão a ‘Empodere Duas Mulheres’ e a ‘Não Aguento Quando’, que trazem frases, depoimentos e estatísticas — juntas, reúnem cerca de 180 mil seguidores. Sites como ‘Escreva Lola Escreva’, ‘Think Olga’ e ‘Lugar de Mulher’ também têm audiência e relevância capaz de fazer barulho na internet.

Durante as semanas que antecederam o Dia Internacional da Mulher (8 de março), diversas campanhas tomaram as timelines das redes sociais e a maioria delas atentou para a necessidade de conhecer a verdadeira origem da data e trazer à tona as reinvindicações.

Seguidora e participante ativa de todas elas, Elisa Maia, cantora e produtora cultural amazonense, acredita que a grande contribuição da internet para os diversos movimentos sociais é o acesso à informação.

“O feminismo sempre esteve na pauta do dia, sempre esteve pautado pelos movimentos e mesmo quem não se considera feminista, muitas vezes batalha em seu dia a dia pela conquista de igualdades. As mobilizações e movimentações feitas na internet, principalmente nas redes sociais, têm acelerado o metabolismo de como a sociedade passa a perceber como a mulher, em pleno 2015, ainda sofre com opressões e desigualdades de direitos”, diz.

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“Eu mesma, dois anos atrás, não tinha opinião formada sobre vários temas que estão na pauta do feminismo. Aliás, o próprio feminismo era uma coisa que eu não entendia completamente, mas que, na prática, eu já vivia. A partir do momento que você passa a acessar conteúdo qualificado (e tem muita informação disponível, indicadores, mulheres super qualificadas escrevendo sobre o assunto), fica mais fácil engrossar as falas e ações em prol de uma causa que é legítima: o direito das mulheres às liberdades, à soberania do próprio corpo, contra a violência e opressão, por salários iguais e etc”, complementa a artista.

Já Francy Junior, historiadora e professora que milita na rede de movimentos feministas de Manaus, os blogs e fanpages são ferramentas agregadoras para as lutas. “Como a história nos conta, os fatos provocam as mudanças. Penso que a forma ousada dessa nova mulher, desse novo jeito de falar, gritar, se posicionar, refletir e agir nos traz uma riqueza imensa”.

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Francy também chama a atenção para a necessidade de que o movimento também precisa ir além da esfera virtual. “Nós, feministas, buscamos a cumplicidade, a igualdade entre homens e mulheres e isso dever ser levado por todos os meios. Assim como juntar-se, debater, estudar juntas, ouvir e olhar a outra nos olhos também se faz necessário e não podemos deixar apenas o virtual ligar as nossas forças”, completa.

Para muitas das mulheres que seguem as redes, a ferramenta deve ser usada também como uma oportunidade de falar, de forma clara, sobre o que é feminismo. Um dos comentários que mais rondam os tópicos de discussões, aliás, é a necessidade de esclarecer. “É bom saber que o feminismo não prega o ódio ou a dominação das mulheres sobre os homens. O feminismo grita por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. O feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação. O feminismo é lutar por direitos iguais”, ressalta Francy.

Na prática

Exemplo de sucesso que superou a web, o movimento ‘Amigas Crespas de Manaus’ trabalha a autoestima das mulheres negras, por meio da valorização de sua estética natural. “Nós somos ativistas de cabelo e militamos por nós e por outras mulheres também. É difícil falar só de cabelo. Nosso cabelo é um ato político”, comenta Jéssica Dandara, uma das coordenadoras do grupo, ao emendar: “Não sei de quem é essa frase, mas ela ilustra bem esse movimento: ‘Todo ato estético também é político. Esteticamente, sua imagem mostra o que você defende, as coisas que você acredita’”.

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O ‘Amigas Crespas de Manaus’, que nasceu no Facebook, realizou, em Manaus, quatro edições do evento nacional ‘Encrespa Geral’, que reúne meninas de todas as idades de cabelos cacheados e crespos. A quinta edição está prevista para acontecer em maio deste ano. “O objetivo do ‘Encrespa’ é levar informação para quem não tem acesso à internet. Em Manaus, nós procuramos fazer em áreas periféricas para que essa discussão também chegue às mulheres, meninas e crianças da periferia, incluindo quem não está por dentro desse movimento, além de proporcionar, também, a interação de meninas e mulheres fora das redes sociais, uma troca de experiências”, reforça Jéssica.

Ao lado das amigas Karine Pantoja, Dandara Santos, Dayana Assis, Adriana Melo e Aline Feio, Jéssica revela que o movimento é reforçado por parceiros. “Conto com a contribuição de algumas entidades do movimento negro, as meninas do ‘Trakinas Crew’, que é um grupo feminino de grafiteiras, do Fórum Permanente de Mulheres de Manaus, da Recid (Rede de Educação Cidadã) e do Fórum de Juventude Negra do Amazonas do qual eu faço parte”, cita.

Além de trazer a ação nacional para a capital amazonense, o grupo realiza eventos paralelos como oficinas de cuidados com o cabelo crespo, de maquiagem e penteados e palestras. “Existem canais no YouTube, páginas e grupos específicos que objetivam a valorização do cabelo crespo em prol da autoafirmação e da autoestima. A parte mais difícil de se assumir como negra, talvez, seja por causa do cabelo. Hoje mesmo, fiquei sabendo que uma grande amiga foi dispensada do trabalho só por causa de o cabelo  dela ser crespo. É assim que nós crescemos. Muitas vezes, somos levadas a achar que tem algo de errado conosco, as pessoas colocam as mãos nos nossos cabelos, alisam quando ainda somos crianças e nós internalizamos isso. Não temos controle sobre o nosso corpo, pensamos que tem algo de errado conosco e que o nosso cabelo é duro e ruim”, dispara.

Para Jéssica, desconstruir isso, para muitas mulheres, não é uma tarefa fácil. “Precisamos de muita ajuda, de nos ver em outras mulheres como nós, de representatividade. E para as que têm acesso à internet, essa pode ser uma ferramenta muito eficaz para promover essa desconstrução e empoderamento”, avalia Jessica.

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