O genocídio do jovem negro em marcha

Joca Neto de Belo Horizonte

Com mais de 56 mil homicídios, Brasil bate recorde e fica em sétimo lugar entre 100 países

Nota da Mamapress:

O Brasil precisa acordar para esta tragédia que atinge a população brasileira como um todo, mas que devido ao racismo institucional de estado e ao racismo cultural de toda a sociedade, se abate notadamente sobre os homens negros, principalmente jovens pardos e pretos entre 15 a 29 anos. Para cada morto existe uma família que fica, que além da dor emocional da perda física de um ente querido, sofre um abalo econômico que atinge não só a vida da família, como abala a economia de toda a sociedade brasileira.

O número de  41.127 negros mortos, em 2012, e 14.928 brancos é um retrato cruel das diferenças raciais no Brasil e apenas apontam o estado emocional subjacente que vive cada pessoa e cada família negra brasileira.

Cada morto tem parentes, amigos, vizinhos e conhecidos. Cada criança negra vê seu possível futuro, quando no caminho da escola tropeça no corpo desovado de um jovem criança igual a ela.

Cada morto é um parceiro ou seria um futuro parceiro de uma mulher negra que nas próximas décadas não terão possibilidade de escolha entre os homens, de um homem negro para constituir família, pois este homen negro já não existe agora.

Políticas públicas tem sido tomadas para estancar este sangramento genocida, a maioria destas medidas tem sido realizadas na área de segurança pública. Mas por que este índice de mortalidade real só aumenta?

A morte  violenta do jovem negro é aceita pela sociedade, além de estimulada pelas mídias e pelo senso comum de cada brasileiro, de que violência só se acaba com violência.

O genocídio do negro brasileiro não é só uma questão de segurança pública, nem só de mal comportamento de policiais, o genocídio do negro brasileiro faz parte da mentalidade de cada um de nós brasileiros e brasileiras. Parte dos brasileiros estimulam este genocídio enquanto a maior parte aceita passivamente este sangramento econômico, social, cultural e racial da sociedade brasileira.

É hora de termos um plano nacional que ajude a nós todos a mudarmos nossa mentalidade racista e que aceita como normal a violência dos homicídios contra os jovens negros, que está acontecendo em nossas esquinas. MR

BRASIL BATE RECORDE EM HOMICÍDIOS E FICA EM SÉTIMO LUGAR ENTRE 100 PAÍSES

Helena Martins

A cada dia, 154 pessoas morreram, em média, vítimas de homicídio no Brasil, em 2012. Ao todo, foram 56.337 pessoas que perderam a vida assassinadas, 7% a mais do que em 2011. Os dados são do Mapa da Violência 2014, que mostra um crescimento de 13,4% de registros desse tipo de morte em comparação com o número obtido em 2002. O percentual é um pouco maior que o de crescimento da população total do país: 11,1%.

As principais vítimas são jovens do sexo masculino e negros. Ao todo, foram vítimas desse tipo de morte 30.072 jovens, com idade entre 15 e 29 anos. O número representa 53,4% do total de homicídios do país. Também, desse total, 91,6% eram homens.

Jovem, homem e negro

Os dados de 2012, último ano da série projetada pelo mapa, mostram ainda que, a partir dos 13 anos de idade, o percentual começa a crescer. Passa de quatro homicídios a cada 100 mil habitantes para 75, quando se chega aos 21 anos de idade.

Os homicídios também vitimam majoritariamente negros, isso é, pretos e pardos. Foram 41.127 negros mortos, em 2012, e 14.928 brancos. Considerando toda a década (2002 – 2012), houve “crescente seletividade social”, nos termos do relatório. Enquanto o número de assassinatos de brancos diminuiu, passando de 19.846, em 2002, para 14.928, em 2012, as vítimas negras aumentaram de 29.656 para 41.127, no mesmo período.

Ranking

Ao todo, ao longo dessa década, morreram 556 mil pessoas vítimas de homicídio, “quantitativo que excede largamente o número de mortes da maioria dos conflitos armados registrados no mundo”, destaca o texto. Comparando 100 países que registraram taxa de homicídios, entre 2008 e 2012, para cada grupo de 100 mil habitantes, o estudo conclui que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos analisados. Fica atrás de El Salvador, da Guatemala, de Trinidad e Tobago, da Colômbia, Venezuela e de Guadalupe.

O Brasil já ocupou posições piores no ranking. A situação foi amenizada tanto por políticas de enfrentamento à violência desenvolvidas internamente, que frearam o crescimento exponencial das mortes, quanto pelo fato de países, especialmente da América Central, estarem vivendo “uma eclosão de violência”. Sobre isso, o relatório destaca que mesmo os países com menores taxas da América Latina, quando comparados com os da Europa ou da Ásia, assumem posições intermediárias ou mesmo de violência elevada. Nesses continentes, segundo a pesquisa, os índices não chegam a três homicídios em 100 mil habitantes.

Entre as políticas desenvolvidas internamente, o estudo destaca a Campanha do Desarmamento e o Plano Nacional de Segurança Pública, em nível nacional, e ações em nível estadual, como as executadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, que geraram quedas nos índices de homicídio em meados dos anos 2000. A magnitude desses lugares pesou na redução dos índices e possibilitou a leve melhora na posição do país no ranking mundial.

Mesmo assim, a situação é preocupante, de acordo com o Mapa da Violência, que é baseado no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e em outros dados do Ministério da Saúde.

Balanço

Entre 2002 e 2012, houve crescimento dos homicídios em 20 das 27 unidades da Federação. Sete delas tiveram crescimento explosivo: o Maranhão, Ceará, a Paraíba, o Pará, Amazonas e, especialmente – registra o estudo -, o Rio Grande do Norte e a Bahia. Nos dois últimos, as taxas de mortalidade juvenil devido a homicídios mais que triplicaram.

Nesse último ano, houve aumento das mortes, especialmente entre os jovens. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, ocorreram 56,5 homicídios por grupo de 100 mil jovens, em 2012.

Na década, as unidades que diminuíram as taxas foram: Mato Grosso, o Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Pernambuco e, com mais intensidade, o Rio de Janeiro e São Paulo. Apenas seis estados tiveram queda entre 2012 e 2011. Um deles, Pernambuco, diminuiu 6,8%. Os números, todavia, mostram o desafio: nesse estado, foram 73,8 homicídios a cada 100 mil jovens.

Fonte: Mamapress

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