“O negro é mais acometido por suicídio, depressão e ansiedade”, afirma psiquiatra

Risco de suicídio da população negra aumentou em 12% nos últimos anos, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde em 2023

O Brasil é o país com maior índice de ansiedade do mundo, de acordo com a OMS. Segundo relatório publicado em março de 2019, cerca de 9,3% da população brasileira, ou 18,6 milhões de pessoas, convivem com transtornos psicológicos. “Somos mais acometidos por determinados transtornos e fatos como, por exemplo, a incidência de suicídio, depressão e ansiedade”, afirma o psiquiatra negro Frederico Félix. Os dados de 2019 mostram que o índice de suicídio é 45% maior entre jovens negros em relação aos brancos.

Nos últimos anos, em relatório apresentado pela OMS no ano passado, o risco de uma pessoa negra se matar aumentou em 12% enquanto que nos brancos não houve difusão. Félix aponta que a diferença acontece devido a discriminação com a população negra – colocando-a como inferior -, e do racismo institucional, que são práticas, políticas e configurações dentro de entidades sociais que perpetuam a desigualdade racial de forma sistêmica. Na visão do psiquiatra, os números continuaram a subir enquanto acreditarem que o negro é “mais resistente à dor, mais tolerante ao estresse e mais flexível a trabalhos braçais”.

Racismo Institucional negro

De acordo com o “Guia de Enfrentamento ao Racismo Institucional” (2013), realizado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, o conceito de racismo institucional foi estabelecido em 1967, pelos ativistas e integrantes dos Panteras Negras, Stokely Carmichael e Charles Hamilton. Para eles, “trata-se da falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura e origem étnica.”

“Criaram um grupo chamado “Planeta dos Macacos” e me adicionaram. Eram 30 meninos disseminando somente ofensas racistas, como “amanhã vou pegar para matar preto”. Os piores apelidos que vocês imaginarem foram usados”, relembra Rafael Dantas, estagiário da TV Globo, que à época tinha 18 anos.

A partir desse episódio, o estudante de Jornalismo procurou ajuda psicológica para lidar com situações semelhantes. “A pessoa zoa seu cabelo, sua boca, tudo. Precisei entender essa cicatrizes que moldaram o meu jeito de ser e viver”. Hoje, com 21 anos, Rafael faz parte do coletivo AfriCásper, uma iniciativa dos alunos da Faculdade Cásper Líbero. O corpo estudantil, criado em 2014, tem o intuito de conectar e ajudar alunos negros em um ambiente predominantemente preeenchido por estudantes brancos.

Apesar da criação do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça em 2005, que tem como objetivo fomentar práticas de equidade de gênero e raça na cultura organizacional de médias e grandes empresas, o Brasil em conjunto com o Ministério da Sáude, até 2022, não contava com uma área técnica de saúde focada na transversalidade do racismo institucional. “O trabalho de um profissional da saúde não pode ser apenas técnico, mas também tem que envolver a empatia e a equidade”, analisa o psiquiatra Félix.

“Na Pele” negro

O grupo “Na Pele”, criado pelo ator e roteirista Elmar Bradley, tem como objetivo conscientizar a sociedade com relação ao racismo por meio de produções teatrais. Para Bradley, o teatro, o cinema e a arte como um todo, são baseados majoritariamente na visão branca, poucas vezes recheado por um negro.

“Antes e hoje, muitas produções sobre nós [negros] vêm ganhando premiações no teatro e no cinema, mas quando pegamos para olhar os diretores desses projetos, todos são brancos”, lamenta o artista educador, baiano de 36 anos, que mora há 10 anos em São Paulo. À exemplo o filme “Cidade de Deus” (2002), dos diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund, que são brancos, mas que retratam na produção nacional a história de um jovem negro e pobre do Rio de Janeiro.

O grupo teatral, no próximo semestre, estreiará o “Na Pele conta: Dandara e Zumbi”, que trará reflexões sobre o Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro, além de um contraponto em relação aos dias atuais, através da ótica negra. “Nós buscamos conscientização das pessoas, e que estudem para não repassarem besteiras”, conclui Bradley.

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