O rap também se faz no feminino. Alguns nomes a reter

Desde os primórdios da cultura hip hop que esta tem sido representada principalmente pelo sexo masculino, nomeadamente no rap, onde o espaço para as rappers femininas na indústria parece curto e limitado. Este facto não se prende à falta de qualidade, mas sobretudo a aspectos culturais não só inerentes à indústria musical, mas como em todos os cargos representativos e com visibilidade. Contudo, é um paradigma que tem vindo a mudar.

Por  MARCO BRANDÃO, do Shifter

Esta nova geração de rappers, inspirada e motivada por figuras lendárias que foram mudando esta visão, tais como Erykah Badu, Lauryn Hill, Lil’ Kim ou Missy Elliot, seguiram a mesma linha de inovação. A forte competitividade e a necessidade de inovar para marcar posição, em simultâneo com uma maior abertura do mercado para as mulheres, traz consigo uma geração de MC’s capaz de equilibrar o mercado a curto/médio prazo.

Em Portugal, a rapper Capicua acompanhada pela M7, tem vindo a assumir uma posição de louvar não só no panorama musical, como na luta pela igualdade de direitos entre géneros.

Estes são alguns dos projectos femininos que captaram a nossa atenção nos últimos tempos.

Little Simz

Esta jovem rapper de Londres, com apenas 21 anos já conta com 8 mixtapes lançadas, desde 2013. Com um flow energético, parece encaixar inevitavelmente em cada batida, como se de um jogo de tétris se tratasse. Embora o sotaque british possa levar-nos em certos momentos numa onda grime, bem característica da cultura underground do Reino Unido, esta MC é capaz de elevar o nível estabelecendo uma dualidade interessante. Conjugando o flow e energia que caracterizam este género musical, nomeadamente nas suas performances ao vivo, a uma sonoridade mais experimental à base do jazz & soul (não fosse Lauryn Hill umas das suas grandes influências), torna a descoberta desta artista uma experiência bastante interessante. Negando o rótulo de MC, procura afirmar-se como sendo uma artista, evitando focar a sua escrita em aspectos materiais, pretende ser real com a verdade, pois é a única forma de estar em real contacto com o público. No passado mês de Setembro lançou o seu primeiro álbum, A Curious Tale of Trials + Persons.

Missy Elliot

Depois de uma carreira a colecionar hits ao longo de quase 20 anos, desde 2005 que não lançava nenhum album. A espera parece ter terminado, estando previsto para breve o lançamento do tão aguardo 7º album. Os 44 anos parecem não importar, e embora a comparação com o vinho fosse apetecível, é impossível dizer que está melhor com a idade, pois o passado é de ouro e a capacidade desta artista em manter-se fiel ao seu registo, nunca perdendo a qualidade é de louvar e aplaudir de pé. O single “WTF” com o Pharrel serve, para já de cartão de visita para o que esta para vir.

Lady Leshurr

Cresceu ao ouvir reggae, género musical predilecto dos pais, contudo foi incentivada e influenciada a escrever ao ouvir artistas como N.W.A, Eminem ou Lil Wayne. Em 2013 recusou um contrato com a Atlantic Records, por sentir que estavam a forçar uma concorrência e disputa directa com a artista Nicki Minaj. No último ano iniciou a saga “Queen’s Speech”, inspirada em battles e numa tentativa de melhorar as suas skills enquanto MC, criou esta serie baseada em punchlines num tom grime.

Princess Nokia (Wavy Spice aka Destiny Frasqueri)

Princess Nokia é um alter-ego colectivo nascido da necessidade da artista Wavy Spice expressar aspectos da sua vida até ao momento não explorados. Sob um conceito arrojado e com mais margem de manobra para experiências e criação, Princess Nokia é repleta de sonoridade universal, cósmica e progressiva, onde os rótulos são desprezados e a inovação a única constante.

JUNGLEPUSSY

Esta criação de Brooklyn, influenciada por artistas como Erykah Badu, Missy Elliot, Busta Rhymes, Vybz Kartel ou Mavado, lançou a sua primeira malha no youtube em 2013, “Cream Team”. O reconhecimento foi quase espontâneo e chegou a ser elogiada por uma das suas referências, Erykah Badu. Nesse mesmo ano, teve ainda a oportunidade de partilhar palco com a queen Lil Kim. No passado mês de Agosto anunciou o album “Pregnant With Success”, acompanhado pelo single “Now or later”.

Rapsody

Iniciou a carreira no grupo Kooley High, lançado-se a solo em 2008 após assinar com a It’s Wonderful World Music Group, do mítico 9th Wonder. Desde então, para além de colaborações com alguns nomes lendários como Dj Premier ou Big Daddy Kane, esteve também em estúdio com alguns dos nomes da nova escola que mais destaque têm merecido, como Kendrick Lamar, Mac Miller ou Big K.R.I.T. Influenciada por artistas como Jay Z, 9th Wonder, Mos Def, Lauryn Hill ou MC Lyte, escreve com um apreço e louvor pela cultura notável, tendo como objectivo a preservação e respeito pela mesma. Para além do album “The Idea of Beautiful”, lançado em 2012, conta ainda com 5 mixtapes e 2 ep’s.

Asia Sparks

Esta MC de Philadelphia iniciou a sua carreira em 2011 após participar num rap cypher. Entusiasmada pela experiência procurou mostrar-se ao mundo e chegou a receber a atenção de artistas como 50cent ou Fat Joe. Dotada de uma energia incrível e de um desconcertante sex appeal, é nas suas letras que mostra o seu lado mais cru.

Sasha Go Hard

Vinda de Chicago, é umas das poucas rappers femininas da região associada ao trip, sub género do trap. É pela mão do rapper Chief Keff e do Dj Kenn que entra pela primeira vez em estúdio com apenas 18 anos. Actualmente com 22 anos conta já com 7 mixtapes lançadas. Recentemente juntou-se a Katie Got Bandz, Chella H e Lucci Vee, formando as W.W.A (Womem With Attitude), grupo que se estreou com o single “Straight Outta Chicago.”.

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