O sucesso de mulheres negras empreendedoras

Regina Ferreira, Luanna Teofilo e Bruna Inácio, mulheres empreendedoras Pérola Dutra - Reprodução:Facebook

Mercado de trabalho ainda mantém padrões discriminatórios de contratação, mas elas driblaram o preconceito. Conheça três histórias inspiradoras

por Hysa Conrado no  R7

Regina Ferreira, Luanna Teofilo e Bruna Inácio, mulheres empreendedoras Pérola Dutra – Reprodução:Facebook

Mulheres negras têm 50% a mais de chances de serem afetadas pelo desemprego. O dado é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e revela um cenário tomado pela discriminação racial no Brasil. Mas, se o racismo fecha portas e o mercado de trabalho consente, as mulheres negras têm construído novas formas de empreender e de empregar.

Esse é o caso de Luanna Teofilo, de 38 anos. A formação em Direito, um mestrado em Linguística na França e o currículo de carreira internacional não foram suficientes para manter o racismo distante. Ela trabalhava como executiva em uma empresa de comunicação internacional e foi demitida após adotar o visual das tranças box braids.

Luanna foi demitida após adotar o visual das tranças

Luanna foi demitida após adotar o visual das tranças Reprodução:Facebook

A situação foi parar na justiça, e a volta por cima veio em forma de inovação: ela criou o Painel BAP, uma plataforma de pesquisas de mercado voltada para afroconsumidores.

Aliado ao BAP Store, um e-commerce de produtos afro, o painel atua com o conceito africano ubuntu, que significa “sou o que sou pelo que nós somos”. “Oferecemos produtos e serviços de afroempreendedores, criando um ciclo de prosperidade”, afirma Luanna.

Já Bruna Inácio, de 29 anos, caiu no limbo do desemprego mesmo com ampla experiência em administração de lojas. Durante as entrevistas para as vagas de trabalho os “nãos” eram recorrentes, enquanto mulheres brancas, com menos experiência que ela, eram contratadas. Assim, ela desistiu de procurar emprego.

Bruna parou de procurar emprego

Bruna parou de procurar emprego Reprodução:Facebook

Com dois filhos pequenos, a única saída foi fazer faxina. Ela anunciou o serviço em um grupo no Facebook e os clientes começaram a aparecer. “Fui descobrindo as necessidades de cada um. Às vezes precisavam de um eletricista, outra de um pintor, alguém para fazer as marmitas…”, conta Bruna.

O marido, que já trabalhava com manutenção em geral, acabou entrando na “empreitada”. Quando se deu conta, Bruna tinha criado a FaxinaLar, uma empresa de limpeza e manutenção. “A minha ideia era dar praticidade para os clientes e deu super certo”, afirma.

Era sempre a mesma história de que eu não me encaixava no perfil.
Bruna Inácio

Regina criou a HUTU Casting Pérola Dutra

Se o racismo no mercado de trabalho é evidente, no mundo da moda não é diferente. Regina Ferreira tem 30 anos e por um tempo tentou emplacar a carreira de modelo, mas sem sucesso. “Fiz um book, apresentei para várias agências e elas recusavam porque já tinham uma ou duas negras na equipe”, conta.

“Na teoria ninguém é racista, mas na prática é diferente”, afirma a modelo. Quando conseguiu entrar para uma agência, foi selecionada para apenas um trabalho em que seria modelo para coloração de cabelo. “Sofri um corte químico e fui trabalhar como caixa em um supermercado para não ter de voltar a essa situação”, lembra Regina.

Me recusavam porque já tinham uma negra na equipe.
Regina Ferreira

Quando viu que ser modelo não daria certo, Regina resolveu se especializar em produção de moda e passou a fazer eventos como assistente. “Quando eu apresentava as modelos, se eram seis negras e quatro brancas, eles escolhiam as brancas e apenas uma negra”, conta. O jeito foi se reinventar e Regina criou a HUTU Casting, uma agência de modelos negros. “Aí não tem desculpa na hora de escolher. Estou fazendo por eles o que não fizeram por mim”, afirma.

Na teoria ninguém é racista, mas na prática é diferente.
Regina Ferreira

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