Oro Orum – Axé eu respeito: Aplicativo recebe denúncias de violência contra praticantes de religiões afro

Cansado de ouvir comentários ofensivos e relatos de violência contra praticantes de religiões afro, Léo Akin Olakunde, um candomblecista do Rio de Janeiro se juntou a um amigo e à namorada para criar o aplicativo Oro Orum- Axé eu respeito. A ferramenta recebe denúncias de intolerância religiosa e tem até um botão de SOS para as vítimas.

no Agência Brasil

O serviço é gratuito e está disponível para
download em celulares.
(Play Store)

O estado do Rio de Janeiro vem registrando um número recorde de ataques a casas de umbanda e candomblé. Somente nos últimos dois meses, 32 casos foram registrados pelo Disque Combate ao Preconceito, um serviço do governo estadual, sendo oito notificados em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense – município com a maior concentração de terreiros. Em dois desses casos, criminosos, supostamente cristãos neopetencostais, aparecem em vídeos ameaçando sacerdotes de religiões afro-brasileiras e obrigando-os a destruir peças religiosas.

Diante dos ataques, que acontecem em sua maioria na periferia, Léo Akin Olakunde, decidiu criar o aplicativo para facilitar as denúncias e organizar um banco de dados. No Oro Orum- Axé eu respeito, o usuário encontra informações sobre direitos e leis que garantem a liberdade religiosa no país, o combate à discriminação, além do formulário de denúncia. O denunciante também recebe orientação para procurar a Polícia Civil e a Defensoria Pública do Estado.

A ideia, conta Léo Akin, partiu da utilização de outro aplicativo, o Nós por Nós, criado pelo Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, com objetivo de combater a violência policial. Em ambos, há orientações para fazer a denúncia com vídeos, fotos e texto, além de coletar todas as provas possíveis, registrar testemunhas e o máximo de dados sobre o agressor. “Precisamos de políticas públicas, mas também de segurança para as vítimas denunciarem”, disse.

Léo pretende ampliar a plataforma e gerar mapeamentos das casas de matriz afro se conseguir apoio de parcerios: ele precisa da doação de dois computadores. “O aplicativo foi feito com equipamento amador, mas de forma profissional. Com um notebook velho e a internet de uma conta emprestada de minha cunhada”, diz. A ferramenta foi programada por Alexsandro da Silva, amigo de Léo, ateu e morador de Pernambuco. “Precisamos de uma internet de melhor qualidade e monitores para trabalhar todas as funcionalidades. Estamos atrás de financiamento”, disse ele, que também contou com a ajuda da namorada, a escritora Taís Espírito Santo, para criar o aplicativo.

Religiosos querem intervenção do MP

Interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), o professor Ivanir dos Santos acredita que a impunidade faz com que os casos de intolerância sejam cada vez mais violentos. “Qualquer ferramenta como essa é importante no contexto de violência que vivemos”, disse. Porém, ele cobra respostas do Poder Público.

“O que nós queremos é que os dados virem inquéritos na Polícia Civil por discriminação e denúncias no Ministério Público Estadual”, cobrou. Ivanir explicou que muitos atos de violência são classificados nas delegacias como briga de vizinho ou desentendimentos. Com isso, deixa-se de aprofundar o debate sobre as origens do preconceito contra as casas de terreiro.

Dos casos que a CCIR acompanha, ele conta que a maioria acaba virando apenas um registro de ocorrência, “engavetados” pela própria polícia, como aconteceu com as notificações de Nova Iguaçu. Até o momento, dois oitos casos, a Polícia Civil confirma apenas a autuação de um pastor, por publicar vídeos em redes sociais destruindo imagens de orixás.

O professor Ivanir também cobra a atuação dos ministérios públicos Estadual e Federal, que se comprometeram a acompanhar as investigações dos casos. “As ocorrências precisam chegar ao Judiciário, com pessoas julgadas e, eventualmente, condenadas. O aplicativo é muito bom, é um pronto socorro, mas precisamos mais do que estatísticas”.

+ sobre o tema

Covardia racista sem limites: A dor da professora Camila frente à barbárie escrita no banheiro

Nessa segunda-feira (06/03), estava tudo organizado, para ser uma...

Porque eles te atacaram , Cris Vianna?

Cris Vianna, vivemos num país com histórico escravocrata. Um...

“Gosto muito de negros, tenho amigos negros e tal. Só fico triste porque pararam de vender”.

Piada racista de universitário no Facebook poderá gerar responsabilização...

A “decepcionante” descoberta sobre o príncipe encantado que era negro

No último final de semana um dos grandes mistérios...

para lembrar

Passíveis de ações civil e criminal, racismo e homofobia são maiores queixas de consumidores

Constrangimento ao consumidor chegou ao terceiro lugar no ranking...

Preconceito, Discriminação e Intolerância no Brasil

É muito comum, no Brasil, se estabelecer confusão entre...

Tatuados comemoram decisão do Supremo, mas avaliam que ainda há muito o que avançar

Mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)...
spot_imgspot_img

Rumo do julgamento é desesperador, diz viúva de músico assassinado por militares

Luciana dos Santos Nogueira, 46, acompanhou à distância o julgamento do STM (Superior Tribunal Militar) que pode pôr fim ao processo judicial contra os militares...

PM que atirou em entregador no RJ alega legítima defesa; vítima está na UTI

O policial militar Roy Martins Cavalcanti alegou que agiu em legítima defesa ao atirar no entregador Nilton Ramon de Oliveira, que se recusou a subir...

No RJ, entregador de 24 anos é baleado por PM que se recusou a buscar pedido na portaria

O cabo da polícia militar Roy Martins Cavalcanti atirou contra o entregador do Ifood, Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, após o trabalhador...
-+=