Antonio Pitanga e Nando Cunha protagonizam o espetáculo Filho do pai, com texto do brasiliense Maurício Witczak
Durante anos, o ator carioca Nando Cunha e o roteirista brasiliense Maurício Witczak ficaram com o espetáculo Filho do pai engavetado. A ideia da peça veio quando eles trabalharam juntos, em 2006, em um filme do também brasiliense René Sampaio. Até que, no ano passado, o projeto finalmente ganhou vida nos palcos, tendo Nando como protagonista ao lado de Antonio Pitanga.
Com texto de Witczak, a montagem retrata a história de pai e filho que se reencontram. O encontro acontece quando o personagem de Nando Cunha está ensaiando um texto de Hamlet, clássico de William Shakespeare, e o personagem de Pitanga aparece para dizer que está doente.
“Essa é uma história universal, de um pai e um filho que entram num duelo de palavras em busca dos laços perdidos. O pai o abandonou por um tempo e volta para dizer que está doente. Eles começam a debater e, hoje, é isso que está faltando”, afirma Nando Cunha ao Correio.
Para o carioca, além da peça ter um tema universal, ela tem a função de mostrar a importância do diálogo nos dias de hoje. “Nesses tempos em que vivemos, só a arte pode mudar tudo. A palavra é a única arma. As pessoas têm que aprender a debater sem ofensas, sem fake news”, analisa o ator.
Estar numa peça como esta foi uma luta para Nando Cunha, que resolveu arregaçar as mangas e combater o fato de ser um ator negro e mais conhecido pelas comédias. “Esse projeto nasce da busca de uma oportunidade de fazer uma linha mais dramática. Só me chamavam para comédia. Eu queria mostrar para mais diretores que posso fazer esse tipo de trabalho, que posso nadar nessa praia. Não vou morrer fazendo uma coisa só. Com esse texto, consegui um protagonismo shakespeariano, que, no mercado, não me dariam numa peça que não levanta bandeira”, completa.
Duas perguntas // Nando Cunha
Como é para você dividir a cena com Antonio Pitanga, um ator que foi uma inspiração para você?
Às vezes, eu nem acredito. Ganhei um amigo, um irmão, um pai. Pitanga tem uma importância na história da arte, do cinema, do teatro. Ele não é só um artista. Ele é um cara que movimenta essa arte toda. Ele é um articulador, um cara de luta. Se hoje estou num patamar de levar uma peça a Brasília, devo muito a esse cara por tudo que ele lutou. Ele é um cara engajado, um militante da arte, uma pessoa de uma inteligência sensacional e que partilha esse conhecimento o tempo todo. Pra mim, é um orgulho imenso.
Esse é um projeto que fala de paternidade e você tem falado muito do seu filho. Como é estar vivendo esse momento na dramaturgia e na vida?
Ser pai foi um momento maravilhoso na minha vida. Mudou totalmente o meu olhar para o mundo, a minha maneira de ser. Ser pai me fez entender muita coisa e da importância de se criar um filho no mundo hoje. A nossa geração faliu. O que vai vingar é a geração do meu filho, que tem 6 anos. O nosso papel é encaminhar e cuidar desses tesouros para que eles formem um mundo melhor, mais tolerante, com menos feminicídio, menos machismo, menos homofobia, menos racismo, menos intolerância religiosa.
Serviço
Filho do pai
Teatro Plínio Marcos (Complexo Cultural Funarte — Eixo Monumental). Sábado, às 19h30. Domingo, às 19h. Espetáculo Filho do pai, com Antonio Pitanga e Nando Cunha. Autor: Maurício Witczak. Direção: Clarissa Kahane. Entrada a R$ 40 (meia) e R$ 80 (inteira). Não recomendado para menores de 14 anos.