Perigo: ele nasceu preto

FONTEPor Lucilene Aparecida Soares, enviado ao Portal Geledés
Foto: Diêgo Holanda/G1

Perigo: ele nasceu preto

Confira o poema Perigo: ele nasceu preto

Madrugou e saiu pra trabalhar
Pois Deus ajuda quem cedo madruga e na favela todos os gatos são pardos

Como pardo trabalhou até suar
Na sua marmita um arroz com ovo e uma lembrança de carne moída
Mas o melhor tempero é a fome

Era dia de pagamento e ficou roxo de saber que
O dinheiro não daria nem pro aluguel
Mas antes pingar do que secar

O dia foi duro e quando ele pensou que acabou
Na volta pra casa foi reconhecido como preto
E bandido bom é bandido morto

Não teve flagrante, não tinha antecedentes, Ele tinha álibi e testemunhas
Mas foi reconhecido como preto e pobre
E todo mundo sabe que preto parado é suspeito, correndo é bandido

8 meses depois ele foi solto sem pedido de desculpas nem indenização
Mas por garantia sua foto ficou no catálogo da vergonha
Onde bandidos, pretos, jovens e pobres aguardam ser reconhecidos por cidadãos de bem.

Obs: A respeito da matéria do Fantástico de 21-02-21, sobre encarceramento de pessoas negras inocentes, com base apenas no reconhecimento fotográfico.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE. 
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