PM de férias que matou adolescente pelas costas em praça chamou jovens de ‘ladrõezinhos’, diz testemunha

Policial foi preso e encaminhado ao presídio militar Romão Gomes, na capital paulista, em setembro do ano passado. Laudo aponta que adolescente teve coração e pulmão perfurados pelo tiro em Sorocaba (SP).

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que o adolescente Jefferson Rubio de Moura, de 17 anos e que foi baleado nas costas por um policial militar no Jardim das Flores, na zona norte de Sorocaba (SP), morreu por hemorragia ao ter o pulmão e o coração perfurados.

No dia 15 de setembro de 2021, Jefferson estava consumindo bebida alcoólica com um amigo em uma praça, quando os dois foram abordados pelo policial. Segundo os relatos à polícia, o homem os agrediu com coronhadas.

Em seguida, as vítimas tentaram fugir correndo, mas o suspeito atirou contra elas, acertando o Jefferson pelas costas.

Após o disparo, segundo o depoimento de uma testemunha, o réu teria entrado no carro dele e saiu dizendo para as vítimas “vocês são todos ladrõezinhos”.

Jefferson foi socorrido à UPH da Zona Norte, onde chegou em parada cardiorrespiratória e foi constatado o óbito. Segundo a denúncia do Ministério Público, Ricardo de Jesus Barbosa agiu por motivo torpe, vingança e teria matado a vítima porque supôs que o adolescente tinha envolvimento com a criminalidade.

Ainda segundo a denúncia, Ricardo agiu ainda sem chance de defesa da vítima, por conta do disparo de arma de fogo pelas costas.

Conforme o relato da família do menino, o adolescente trabalhava havia um mês como chapeiro, não tinha histórico criminal, não tinha passagem pela polícia e fazia eventual uso de maconha.

O adolescente que conseguiu fugir reafirmou ao ser ouvido que o homem de aproximadamente 40 a 50 anos com arma em punho os chamou de maconheiros. Em seguida, os fez sentar na guia em frente ao carro dele e deu coronhada na cabeça.

O menino teria perguntado o motivo da atitude no momento em que o policial teria agredido o amigo com a arma e pedido para que não levantassem. Os dois tentaram correr, quando Jefferson foi atingido.

O g1 entrou em contato com o advogado de defesa do policial, Mauro da Costa Ribas Junior, que afirmou que Ricardo é inocente e nega o crime. O PM permanece preso.

Em nota, Luan Lima, o advogado que representa a família de Jefferson, afirma que o jovem foi vítima de violência policial.

“Era um jovem sem antecedentes criminais, sem qualquer tipo de investigação policial contra sua pessoa, bem como, ainda, trabalhava e era cheio de sonhos, como todos os jovens de periferia.

A defesa da família lutará até o fim para que a pena seja a máxima possível e que o miliciano continue preso pelos próximos longos anos, pois a defesa acredita que a pena será entre 24 a 32 anos de reclusão.”

Também em nota, a Polícia Militar informou que o autor segue preso e responde a processos civil e administrativo exoneratório.

Câmera de segurança

As imagens mostram o momento em que os dois rapazes correm pela rua em busca de socorro. Machucado, o adolescente de 17 anos cai atrás de um caminhão. 30 segundos depois, o suspeito de fazer o disparo aparece de carro. Ele para, olha para os dois, não presta socorro e vai embora.

Logo as viaturas da Polícia Militar chegam ao local e é possível ver o jovem baleado no chão. O socorro do Corpo de Bombeiros chega em seguida e leva o rapaz para a unidade de pronto atendimento da zona norte, onde os médicos confirmaram a morte dele.

O corpo de Jefferson foi velado e enterrado no Cemitério Santo Antônio, em Sorocaba.

Investigação

Anteriormente, a Polícia Militar informou que o policial suspeito de agredir e atirar nos jovens faz parte do 14º Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) e que ele estava de férias no dia do crime. Assim que se apresentou no batalhão, ele foi encaminhado para a sede da Deic em Sorocaba.

Em seguida, o suspeito teve a prisão temporária decretada pela Justiça e foi levado para o Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo. Atualmente, ele está em prisão preventiva.

‘Ódio de negro?’

Após o crime, família do jovem, que preferiu não ser identificada, disse à TV TEM que o crime foi motivado por racismo. Eles contaram que o policial havia observado Jefferson e um amigo por quase 10 minutos antes da abordagem.

Em seguida, saiu do carro com uma arma na mão e mandou os dois se sentarem no chão, momento em que começou com as agressões.

“No momento em que foi se sentar, ele levou uma coronhada na cabeça. O meu filho levou um soco no rosto, perto do olho. Ficou com medo, levantou e falou para esse menino [outro jovem]: vamos correr, vamos correr”, relatou a mãe do adolescente.

Segundo a família de Jefferson, o jovem não devia nada para ninguém e foi vítima de racismo. O pai do adolescente pede que a justiça seja feita.

“Ódio de negro? Comete-se crime de ódio. Então, eu acho que foi isso. Não tem motivo nenhum. Não tem motivo nenhum para fazer essa maldade com o meu filho, um moleque de 17 anos, com toda a vida pela frente. A maldade que fizeram com o meu filho, eu quero justiça”, diz.

‘Covardia’

O irmão do adolescente, Paulo Roberto Rubio, lamentou a morte nas redes sociais. De acordo com ele, Jefferson estava animado com o primeiro emprego e nunca havia se envolvido “com nada de errado na vida”.

“Foi morto na covardia, com um tiro nas costas por tentar correr no susto. Descanse em paz, meu irmão caçula que até dei o nome. Olhe por nós aí que por aqui a gente vai resolver tudo”, diz o post.

Irmão de adolescente morto com tiro nas costas desabafou nas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)

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