Agosto é o mês da visibilidade¹ lésbica e dois mil e vinte e um o ano de nos libertarmos das correntes que insistem em nos prender na escuridão, na subalternidade², na discrição. Pois, é lá que nos querem, escondidas, silenciosas. Eles gritam que não se importam com nossas existências, desde que a gente permaneça invisível. Tudo bem amar, desde que a sociedade não veja.
Veja bem, em uma sociedade que cultua o masculino e seus desdobramentos, jamais vai aceitar tranquilamente mulheres que rejeitam tal adoração. E elas, e nós, estamos cada vez mais diferentes e atuantes. Estudando, fazendo política, ocupando espaços novos, empoderando³ outras, realizando sonhos das nossas ancestrais. Saindo das delimitações impostas pelo patriarcado.⁴
Patriarcado que vê a mulher como propriedade. Os ultraconservadores⁵, sentados em suas poltronas douradas, cravejadas de diamantes ungidos, saboreando o melhor vinho com gotas de ódio, em suas taças, delicadamente banhadas a ouro, nos desprezam. Nos apontam nas ruas como diabólicas, perturbadoras da ordem, má influenciadoras dos cidadãos “de bem”. Mas, somos apenas mulheres.
Mulheres que amam mulheres, são revolucionárias. Pois, quando o fazem estão passando a mensagem que tanto intriga os misóginos⁶. Para eles só existe sexo, só existe prazer e família se for um amor heteronormativo⁷. Não nos respeitam como lésbicas, companheiras, namoradas, esposas ou amantes. Menosprezam nossas ações positivas e exaltam nossos erros. Não aceitam nossas preferencias, impõem padrões.
Padrões nos limitam. Há lésbicas diversas e existimos a milênios, mesmo sendo apagadas da história. Safos⁸ ! Nossa deusa grega, bem sabe. Somos estigmatizadas⁹ , desejadas e nos veem como fetiche masculino também, apesar, de estarmos na “periferia da sociedade perfeita”. Muitas de nós vivem sem chamar atenção, com roupas e ações ensinados como ideais desde crianças. Estas mesmo assim, podem ser discriminadas.
Discriminadas e estereotipadas¹⁰ dolorosamente são as outras lésbicas que não se encaixam, e vestem-se como querem, maquiagens para elas nem pensar! Sabem que precisam agradar a si próprias e o fazem. Graças a elas, temos diversos direitos garantidos! Elas, que saem e se mostram, que sofrem e lutam. Elas que falam e gritam! Mas, em uma sociedade machista, pode uma lésbica falar?
Falar, ser visível, viver, amar, ter oportunidades, ser respeitada. Seria pedir muito?
¹- Atributo do que é ou pode ser visível, ser percebido pelo sentido da vista.
²- Estado ou sensação de dependência, de inferioridade.
³- Passar a ter domínio sobre sua própria vida; dar ou atribuir poder.
⁴- Sistema social em que homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança.
⁵- Que é extremamente conservador.
⁶- Indivíduo que sente repulsa, horror ou aversão às mulheres.
⁷- Conceito de que apenas os relacionamentos entre pessoas de sexos opostos ou heterossexuais são normais ou corretos.
⁸- Natural da ilha de Lesbos, é a poetisa mais famosa da Antiguidade.
⁹- Qualificado de modo negativo; rotulado.
¹⁰- Desprovido de autenticidade.