A Polícia Civil confirmou na tarde desta quinta-feira (11) que identificou “uma pessoa suspeita” de ter cometido injúria racial contra a vereadora de Campinas (SP) Paolla Miguel (PT), durante a sessão da Câmara realizada na segunda-feira. O caso está sob apuração da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), que planeja ouvir a vítima e três testemunhas nesta sexta, e já avalia imagens e áudios gravados.
A parlamentar foi chamada de “preta lixo” quando discursava sobre um projeto que trata do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra e um Fundo Municipal de Valorização da Comunidade Negra. A ofensa partiu da área do público, mas ninguém foi detido durante a reunião que teve a segurança reforçada pela Guarda. Veja abaixo o que diz a prefeitura sobre a atuação.
Para a polícia, “aparentemente foi só uma pessoa” que cometeu o crime, mas a instituição preferiu não comentar outros detalhes sobre ela, incluindo se há possível envolvimento dela com partidos políticos. Um dos vídeos gravados durante a sessão e o relato de Paolla indicam que a injúria foi praticada por uma mulher. Com isso, a expectativa é de que a pessoa suspeita seja ouvida na próxima semana.
A DIG é a unidade especializada responsável por apurar casos de racismo ou injúria racial que tenham a autoria desconhecida.
“[Sentimento] de que a justiça poderá ser feita, de que não há omissão por parte da justiça neste caso. Infelizmente nem todas as pessoas que sofrem racismo conseguem ter a identificação dos autores desse crime. Sinto que podemos pelo menos mostrar para as vítimas a importância de denunciar, e para os agressores que isso não é liberdade de expressão”, falou ao g1 a vereadora ofendida.
Na noite de quarta-feira, manifestantes fizeram um ato antirracista em frente à Câmara para prestar solidariedade à Paolla. Além disso, a sessão foi marcada por discursos dos vereadores sobre o caso.
Investigação na Câmara
Além da apuração da Polícia Civil, o presidente do Legislativo, vereador Zé Carlos (PSB), solicitou que as imagens gravadas pela TV institucional durante a sessão sejam analisadas para verificar quem estava sem máscara para prevenção contra Covid-19, ou ofendeu outros parlamentares na reunião. O objetivo é proibir a entrada destas pessoas nas próximas sessões do Legislativo.
As ofensas aos vereadores ocorreram em meio às manifestações de um grupo que se opõe ao “passaporte da vacina” e sinalizou apoio ao discurso do parlamentar Nelson Hossri (PSD), contrário à medida do Executivo. As exceções na metrópole valem para cinemas, teatros, cultos e missas.
Embora parlamentares indiquem que o grupo era de apoiadores de Hossri, incluindo Paolla, ele chegou a trocar farpas com Zé Carlos e afirmou que não “levou ninguém” ao plenário. A Câmara informou que o jurídico interno deve ser acionado, caso sejam identificados visitantes que ofenderam os vereadores.
O que diz a prefeitura?
Questionada sobre a atuação da Guarda durante a sessão, a prefeitura destacou que a corporação foi acionada pela direção da Casa para prestar apoio na segurança, mas não houve solicitação para que ela agisse e retirasse os manifestantes do plenário durante a sessão.
“Não foi possível identificar quem teria proferido a injúria racial no momento. Se tivesse havido a identificação, a pessoa teria sido encaminhada pela GM para o distrito policial imediatamente. A comandante da Guarda Municipal conversou com a vereadora durante a sessão e ofereceu para acompanhá-la para registrar a ocorrência, mas a mesma preferiu fazê-lo posteriormente”, diz trecho.