Polícia reconhece que aborda mais negros, mas nega racismo

Resultado consta em pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco

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Polícia reconhece que aborda mais negros, mas nega racismo (Fernando Frazão/Agênci Brasil)

No Recife, 60% dos policiais percebem que pretos e pardos são priorizados nas abordagens, mas não falam em racismo. O resultado é trazido na pesquisa “Quando a polícia chega para nos matar, nós estamos praticamente mortos: discursos sobre genocídio da população negra no cenário de Recife-PE” da Universidade Federal de Pernambuco.

“Tratar sobre o genocídio da população negra não é uma tarefa simples se não o atrelarmos à compreensão do racismo no Brasil, vinculando a isso a especificidade das nossas relações raciais”, diz Joyce Amancio de Aquino Alves, autora da pesquisa. Para a pesquisadora, os fenômenos do racismo e da violência estão interligados e refletem a situação da população negra no Brasil.

A pesquisa também constatou que “a democracia racial, já tensionada, se encontra em crise a partir dos discursos evidenciados no cenário político”. A pesquisa considerou o termo jurídico para genocídio com o significado de qualquer ato que seja cometido com a intenção de destruir um grupo nacional, religioso, étnico ou racial, em todo ou em parte, mas ressaltando o conceito de “Continuum Genocida”, de Nancy Sherper Huges, que representa uma série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos, fazendo com que haja uma violência direta contra um determinado grupo social.

O estudo aponta que uma das maiores dificuldades dos movimentos sociais negros é fazer o Brasil entender que é um país racista e quebrar o mito da democracia racial. Para Joyce, é importante compreender que o racismo institucional é reproduzido pelos militares como aparelho ideológico e repressivo do Estado, porém é negado e contrario em termos discursivos. “Pensar sobre as práticas policiais racistas ainda é urgente”, ressalta.

A reivindicação pelo fim do genocídio negro brasileiro tem sido levantada pela militância antirracista desde a fundação do Movimento Negro Unificado no Brasil, na década de 70. Os dados coletados revelam que a violência contra a população negra no país vem aumentando nos últimos anos − morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos vítimas de arma de fogo − e Pernambuco é apontado como um estado que apresenta alta vulnerabilidade juvenil negra, de acordo com o levantamento feito pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pelo Ministério da Justiça e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.

O objetivo do estudo foi identificar como são construídos os discursos da Polícia Militar de Pernambuco e como eles apontam ou configuram a questão racial em suas intervenções e abordagens, assim como os discursos da militância antirracista no Recife, que mobilizam a bandeira do genocídio, pedindo seu fim e posicionando a Polícia Militar como um personagem central nesse processo. Para tanto, foram realizadas, além da pesquisa bibliográfica, dez entrevistas, entre os agentes policiais e os militantes negros. Foram entrevistados, no município de Recife, cinco membros que compõem o Movimento Negro Unificado e do coletivo Cara e cinco membros da Polícia Militar.

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