Precisamos falar de Gabriele Leite

Conheci Gabi em um festival da cidade de Cerquilho chamado FEPOC (Festival de Poemas de Cerquilho). Lembro de ter me apresentado no mesmo dia, e quando começou sua performance com o violão me encantei e logo postei no instagran: “Quem é você?”. 

Hoje, depois de um ano e meio venho contar um pouco sobre o que conheço de Gabi e sobre a sua importância no mundo do violão clássico, pois mesmo não sabendo sobre a área de atuação do instrumento, sem conhecer grandes nomes, movimento artístico, falo do lugar de mulher preta. 

Gabriele Leite, uma violonista dedicada e exigente com seus estudos, buscando sempre o aprimoramento dentro da sua pesquisa e trabalhos, uma jovem no auge dos seus 22 anos formada pelo Instituto de Artes da Unesp (Universidade Estadual Paulista), já conquistou diversos Festivais Nacionais rodando por todo o Brasil. No Festival Koblenz da Alemanha conseguindo o título de melhor participação brasileira em 2019. 

Aprovada recentemente em um programa de mestrado, Gabi realizará o seu sonho em continuar seus estudos em violão na Manhattan School of Music, de Nova York com uma bolsa integral para os próximos dois anos, com apoio do Programa de Bolsas de Estudos da Cultura Artística (Instituição Cultural privada sem fins lucrativos)

Porque precisamos falar de Gabriele Leite?  

Antes de responder essa questão, deixo aqui uma provocação para leitores. Qual violonista clássica preta de sucesso vocês conhecem? Qual mulher preta que pode se dedicar a música clássica diante do nosso contexto histórico? Qual mulher preta vocês conhecem que pode viajar, trabalhar e viver da arte? Quantas mulheres pretas conseguem edificar suas vidas como artistas? 

Quando uma mulher preta chega onde Gabi chegou (e ainda tem um caminho lindo pela frente), ela não chega sozinha. O caminho de uma mulher preta passa por diversos lugares e pra além de exaltar nossas conquistas precisamos falar sobre esses lugares. 

Diante de tudo que vivemos perante o racismo e que nesses últimos meses os debates, estratégias e movimentações aumentaram depois da morte de George Floyd, ter a notícia de que uma violonista preta brasileira consegue uma bolsa de estudos para Nova York é de se comemorar. Gabriele abre a porta da ancestralidade para todas as mulheres pretas que um dia sonharam com a vida no violão e arte em geral. 

Gabi toca violão desde os seus sete anos de idade e sempre foi apaixonada por música, não imaginava que um dia seria referência. Hoje sabe de sua representatividade e dos desafios que traçam o caminho de uma mulher preta, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, não romantiza sua luta e caminhada. A violonista não quer carregar o arquétipo da “preta que deu certo”, porém reconhece que alguém precisava chegar, e ela chegou. 

Gabriele Leite voa. Nova York é pequena pro seu tamanho. Você é importante pra nossa comunidade preta, você está quebrando paradigmas ocupando o universo do violão clássico, e está sendo um marco na vida de mulheres pretas. 

E que surjam milhares de “Gabrieles”!!!


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