Quando raposas tomam conta do galinheiro, por Maurício Pestana

por Maurício Pestana 

A expressão acima, dito popular com versões semelhantes em diferentes culturas mundo afora, descreve a real situação enfrentada por muitas instituições brasileiras, o que nos leva a crer o quanto ainda é frágil a nossa democracia, principalmente no que se refere à participação negra e popular.

Na esfera política, base de qualquer regime democrático, as discrepâncias têm causado indignação e protestos em todo o Brasil. O fato em questão foi à indicação e posse do pastor evangélico Marco Feliciano, declaradamente racista e homofóbico, para a presidência da Comissão de Diretos Humanos da Câmara Federal. O deputado possui uma trajetória política que não difere em nada da maioria de seus colegas da crescente bancada evangélica de 68 deputados que, por vezes, em discursos conservadores, externizam posições retrógradas incompatíveis com os anseios e as liberdades democráticas conquistadas a tanto custo em nosso país. O mais preocupante é que Marcos Feliciano não está só.

Na mesma Câmara Federal, presidindo a Comissão de Agricultura, está o deputado Fernando Giacobo, parlamentar que responde a diversos processos, muitos dos quais no Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião de sua indicação, questionado por um jornal de circulação nacional sobre seu enriquecimento estrondoso de uma hora para outra, o deputado respondeu: “Deus olhou por mim, por isso ganhei 12 vezes na loteria no período de 14 dias.” Esta política do colocar a raposa para cuidar do galinheiro não é um privilegio só do Congresso Nacional, presidido hoje por Renan Calheiros, que dispensa apresentações. Ocorre também em esferas estaduais e municipais. São Paulo, por exemplo, vivenciou caso intrigante há pouco tempo no mandato de Gilberto Kassab. O então prefeito nomeou para cargos estratégicos de sua administração mais de 80 policiais (sendo alguns coronéis da Polícia Militar), como subprefeitos, militarizando os principais elos entre o cidadão e a administração pública. Os efeitos de tais políticas são perceptivos a curto, médio e longo prazo.

O exemplo vem novamente dos paulistas, onde universidades públicas estaduais nunca tiveram em seus cargos diretivos a presença de negros ou de pessoas abertas a questões dos menos privilegiados. Não por acaso, os últimos reitores da Universidade de São Paulo (USP) foram os que mais resistiram à ideia de cotas para negros e carentes. O efeito nefasto dessas posições é visto em um simples passeio pelo campus da USP: temos a impressão de que estamos numa universidade da Escandinávia. Além disso, menos de uma dezena de seus professores efetivos são negros, como declarou em entrevista exclusiva à RAÇA Brasil um de seus mais ilustres mestres, o professor Kabenguele Munanga.

Com esse quadro de exclusão e após muita pressão da sociedade civil, a universidade como de costume em suas políticas, baixou seu programa de inclusão de negros e carentes que, além de não fazer como as dezenas de universidades públicas em todo o país que pura e simplesmente destina um percentual de suas vagas para negros e carentes, criou uma confusão, dividindo inclusive lideranças que sempre lutaram pelo ingresso de afrodescendentes nas universidades públicas. Mas nem tudo está perdido. Existem ainda instituições que resistem e o exemplo positivo desta vez vem do STF que, apesar da pressão das raposas, inclusive as midiáticas, aprovou no ano passado, por unanimidade, cotas nas universidades públicas e hoje tem como presidente o negro Joaquim Barbosa. Tal fato demonstra que, apesar das raposas, ainda há esperança e pasmem… do Planalto Central do Brasil.

Maurício Pestana é diretor executivo da RAÇA BRASIL

 

150 líderes evangélicos rejeitam publicamente Marco Feliciano

“Religião morta e fajuta”, diz pastor Marco Feliciano sobre Igreja Católica

Questões sobre a denúncia de Gurgel contra Feliciano – por Enio Squeff

Obrigado, Feliciano!

Tumulto, rosto escondido e pastor ‘ex-gay’ marcam passagem de Feliciano por Salvador

Pregação de Feliciano é ‘racista’, afirma pastor e teólogo

Declarações de Feliciano incitam o ódio e a intolerância, diz Ministra dos Direitos Humanos

“Feliciano é o porta-voz do retrocesso”, diz Jean Wyllys

Para Jean Wyllys, permanência de Feliciano na presidência de comissão é radicalização do PSC

Pregação de Feliciano é ‘racista’, afirma pastor e teólogo

A queda de Feliciano não é a linha de chegada. É o ponto de partida

O pastor Feliciano e a fragilidade da política rastaquera do Brasil

Para Jean Wyllys, permanência de Feliciano na presidência de comissão é radicalização do PSC

A heteronormatividade pira! – Por Cidinha da Silva

+ sobre o tema

Que escriba sou eu?

Tenho uma amiga que afirma que a gente só prova...

Em carta a Dilma, MPL lembra de índios e pede diálogo com movimentos sociais

Convidado para reunião com a presidenta, Passe Livre pediu...

Vox/Band/iG: Dilma cai de 56% para 54%

Candidata petista varia para baixo pela primeira vez dentro...

Movimento negro cobra auxílio emergencial de R$ 600 e vacina para todos pelo SUS

Nesta quinta feira (18), a Coalizão Negra por Direitos,...

para lembrar

LITERATURA: 5º FAN 2009

OMO-OBA: HISTÓRIAS DE PRINCESAS Kiusam Oliveira OS NOVES...

Carta à hebraica

Ter recebido palestrantes de esquerda não é desculpa para...

Combate à desigualdade exige mudanças estruturais

Oxalá em 2012 haja maior participação popular nas mobilizações...

Produção de Madonna cancela encontro com AfroReggae, diz coordenador

Fonte: Folha OnLine-O coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior,...

Fim da saída temporária apenas favorece facções

Relatado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o Senado Federal aprovou projeto de lei que põe fim à saída temporária de presos em datas comemorativas. O líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA),...

Morre o político Luiz Alberto, sem ver o PT priorizar o combate ao racismo

Morreu na manhã desta quarta (13) o ex-deputado federal Luiz Alberto (PT-BA), 70. Ele teve um infarto. Passou mal na madrugada e chegou a ser...

Equidade só na rampa

Quando o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, perguntou "quem indica o procurador-geral da República? (...) O povo, através do seu...
-+=