Racismo de deputado deve ser repudiado e punido de maneira exemplar

“Eu não agredi ninguém”, disse o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), policial militar, à jornalista Bela Megale momentos depois de arrancar da parede uma charge que denunciava a violência policial contra a população negra na exposição que celebra o Dia da Consciência Negra em plena Câmara dos Deputados. Ele também admitiu que não se arrepende e ameaçou cometer novamente o ato racista caso o cartaz volte à exibição.

Por Maria Carolina Trevisan, do Universa

Mas ele agrediu, sim. Agrediu metade da população brasileira, negra. Agrediu também os não negros avessos ao racismo. Agrediu até os policiais que ele alegou defender ao arrancar a placa da parede e que não concordam com a política do abate. Agrediu muita gente.

Mas, principalmente, o deputado Coronel Tadeu agrediu violenta e novamente as vítimas da violência policial e suas famílias. A charge de Carlos Latuff não é mera provocação. É um retrato da realidade cotidiana: 75,4% das pessoas mortas em intervenções policiais entre 2017 e 2018 eram negras, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O racismo mata. Ele sempre esteve no Brasil, nos acompanhando, desde a escravidão. O racismo vem se moldando aos tempos. Encontrou, no momento atual, campo fértil. Parece que perdeu a vergonha, o medo da punição, e se expressa escancarado em números de cadáveres.

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública..

É racismo quando a cada 100 pessoas assassinadas, 75 são negras, no país em que o número de homicídios alcança 57 mil pessoas por ano. É racismo quando a taxa de vitimização de negros é dez vezes maior do que a de brancos. É racismo o fato de 66% das mulheres vítimas de violência letal serem negras, assim como é racismo quando a maioria das mulheres que sofrem estupros, agressões e assédios são negras. É racismo de Estado não enfrentar diretamente essa questão, com políticas públicas. É racismo se omitir. E é racismo estimular a violência policial. A mira das armas está voltada aos corpos negros.

Racismo precisa ser repudiado e punido, mais ainda quando é cometido por um parlamentar, suposto representante do povo, que deve respeitar toda a população e não apenas seus 98.373 eleitores. O deputado Coronel Tadeu arrancou a charge sem sentir vergonha, receio ou constrangimento. Não se trata, neste caso, de embate político partidário. Trata-se de viver em um país assentado e estruturado sobre o racismo. É muito grave. Significa, por exemplo, aceitar a morte da menina Ághata, mini mulher maravilha negra.

Quando não se repele atitudes como a do deputado, a tendência é que o racismo siga se reproduzindo e ganhando força. Ele se acomoda, se naturaliza, se alimenta dessas atitudes. Se não nos surpreende um membro do PSL fazer o que Coronel Tadeu fez, é ainda mais imperativo reagir. Estamos colhendo essa realidade bárbara porque aceitamos, como sociedade, que candidatos do nível do agora deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e do atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), quebrassem a placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, executada por milicianos e símbolo da luta anti-racista.

Não se pode minimizar o racismo. Se você não sente asco com a atitude do deputado Coronel Tadeu, se não te incomoda de alguma forma o empilhamento de corpos negros pobres, se você não lamenta profundamente que as mulheres negras acumulem preconceitos e desigualdades, você também é racista.

O dia da Consciência Negra existe para nos obrigar a refletir sobre como o nosso racismo se manifesta e os meios de contê-lo – além de celebrar a cultura afro-brasileira e a história negra, que queremos apagar. A lembrança do dia 20 de novembro, que saúda Zumbi dos Palmares, existe para que cada um pare e olhe para esse quadro racial, cujas desigualdades são, ainda hoje, alarmantes e que precisamos reparar. Mas a verdade é que nós, como nação, somos muito mais negros do que admitimos e reconhecemos. Quando permitimos essas mortes, esses atos simbólicos e racistas de parlamentares, estamos ferindo TODOS os brasileiros. Como disse a socióloga Patrícia Hill Collins quando esteve recentemente no Brasil, a liberdade do povo negro é a liberdade de todo o mundo.

 

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