O jornalista negro lida todos os dias com o racismo na profissão. O preconceito começa ainda nos bancos das faculdades, percorre a difícil busca pelo primeiro emprego e se acomoda na rotina das empresas. Ainda são poucos os profissionais negros na nossa imprensa e, entre os que lá resistem, poucos alcançam posições de ponta. O racismo que trava a luta do povo negro para ampliar seu espaço no mercado de trabalho de jornalistas foi debatido por mais de duas horas no Sindicato na noite desta terça-feira (19/11). O debate, organizado pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira Rio) e Comissão de Segurança dos Jornalistas do Rio, órgãos consultivos do Sindicato, contou com a presença de repórteres, fotojornalistas, advogados e militantes do movimento negro.
No Sindicato Jornalistas Profissionais Rio
“A discussão do racismo não deve se dar somente em novembro. Tem que ser permanente, o ano todo – principalmente no meio jornalístico. Os negros sempre foram colocados para cobrir samba ou polícia nas redações. Poucos são os que se destacaram fora dessas duas editorias. No entanto, nós estamos chegando. Onde antes tinha um, agora são três ou quatro. Isso incomoda os brancos, que passam a hostilizar a gente”, afirmou o repórter fotográfico José de Andrade, que faz parte do Coletivo de Fotógrafos Negros.
Também fotojornalista, Carlos Junior relatou dois episódios recentes em que foi vítima de racismo no exercício da profissão. No primeiro deles, durante a Copa do Mundo, ele foi hostilizado por torcedores argentino enquanto fotografava no Terreirão do Samba. Acusados, os turistas pediram desculpas e o profissional não prestou queixa. No segundo caso, ele foi alvo da violência de policiais ao registrar uma manifestação.
“Teve ainda a cobertura da visita do Obama, quando apenas eu e mais dois colegas éramos negros entre os mais de 40 fotógrafos credenciados. Ainda tive que ouvir comentários de outros profissionais, que questionavam se eu era capaz de fotografar o presidente americano”, lembrou.
O advogado Rogério Andrade, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) do governo estadual, lembrou que há um grupo de trabalho hoje que discute formas de dar visibilidade e solução para crimes de injúria racial. A ideia é que, de acordo com as anotações criminais do acusado, se possa ampliar a pena para racismo – que hoje é baseada em multa e pagamento de cestas básicas.
Miro Nunes, integrante da Cojira Rio, destacou o papel da comissão em promover a discussão sobre o racismo de forma permanente dentro do Sindicato:
“Discutir racismo e jornalismo aqui no sindicato é uma continuidade do que a Cojira tem feito desde que foi criada aqui no Rio e, simultaneamente, este debate procura avançar ao propor ações mais diretas de promoção da igualdade racial no mercado de trabalho e também na formação do futuro jornalista. Queremos trabalho especialmente pros mais jovens, os cotistas nas universidades e um melhor e mais aprimorado currículo no curso de jornalismo, que contemple horizontes interligados à luta da Cojira, como por exemplo questões ligadas aos Direitos Humanos”
O evento fez parte do Ciclo de Debates Zumbi dos Palmares, realizado pelo Sindicato desde a última segunda-feira (10/11). No dia 24, o tema em debate será a reforma política, a partir das 19h. Já no dia 27, quinta-feira, a programação será encerrada com o Cine-Bar Diálogos, que exibe o documentário ‘Privatizações – a distopia do Capital’, de Sylvio Tendler. Os eventos são no auditório João Saldanha (Rua Evaristo da veiga 16, 17º andar – Centro).