Racismo e Juventude é tema de seminário

Texto: Nara Pessoa
Foto: Web / Érika Nunes / TJPA

Das 535 mil crianças de 7 a 14 anos que estão fora da escola 350 mil são negras; 60% dos estudantes que cursam faculdade são brancos e apenas 23% são negros; as crianças negras têm 50% mais chances de morrer na primeira infância do que as brancas. Dois terços, ou seja, 70% dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas são negros. Os negros que conseguem romper a barreira da desigualdade esbarram na dificuldade de ocupar lugares de brancos mesmo tendo qualificação similar.

Esse panorama estatístico no Brasil foi apresentado, nesta quinta-feira, 18, pela psicóloga e integrante da Comissão de Psicologia e Relações Raciais, do Conselho Regional de Psicologia, Ana Carolina Franco, durante o II Seminário da Infância e Juventude: Discutindo Políticas Públicas, realizado no auditório do Fórum Cível de Belém.

Segundo a psicóloga, esse números “são os feitos do racismo que implicam na juventude”. O encontro abordou, principalmente, a violência e a desigualdade social ocasionadas pela falta de concretização das políticas públicas direcionadas a crianças e adolescentes.

Ana Carolina também ressaltou a necessidade de políticas sociais para negros, brancos, homens e mulheres. “Não é apenas uma questão da raça, mas também da relação de classe e gênero. Mesmo entre os pobres brancos há uma disparidade em relação aos negros da mesma condição social, inclusive de acesso ao mercado de trabalho, de acesso à escolarização. Então, não há como pensar que a relação racial não pese nesses processos de desigualdade”, ressaltou.

Pedro Paulo Bicalho, doutor em psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),  que fez parte dos debates sobre violência, direitos Humanos e juventude, explicou que o problema da violência está em uma série de pontos, entre os quais, a precariedade da educação, a falta de políticas raciais e os problemas familiares. “Isso pode ser visto quando a gente analisa os dados de quem são essas pessoas que hoje cumprem medidas socioeducativas. Eles são em sua grande maioria pessoas negras, são em sua grande maioria pessoas com baixas escolaridades, com o mesmo nível socioeconômico e que habitam espaços populares bem diferente de outros. Então, não podemos pensar que tudo isso não são meras coincidências, afirmou Bicalho.

Rita Dias, especialista em Arteterapia e socioeducadora da Fundação Estadual de Atendimento Sócio-Educativo (Fasepa), participou da discussão e também falou do perfil dos menores infratores com os quais trabalha, desenvolvendo oficinas de artesanato e pintura. “Dos adolescentes que eu trabalho na internação, a grande maioria são negros e pardos, moram na capital, as famílias são de baixa renda, os meninos são de baixa escolaridade e não conseguem enxergar uma ascensão social pela sua condição de pobreza”.

A educadora também falou da dificuldade de se trabalhar com esse público. “É um esforço muito grande que a gente tem para estimular o retorno para a vivência educacional desses adolescentes porque a maioria das pessoas não acredita neles. Não adianta a gente construir leis belíssimas se a gente não faz delas a nossa prática”, desabafou a socioeducadora.

O encontro foi promovido pela Escola Superior da Magistratura (ESM), Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Pará (CEIJ/TJPA) e Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá (CRP 10ª Região).

 

Fonte: TJPA

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