Racismo, negligência e extermínio: o tripé básico do governo Bolsonaro

No Brasil, cor e classe social são fatores de risco na pandemia de coronavírus

No Brasil, cor e classe social são fatores de risco na pandemia de coronavírus. Essa é a constatação apresentada nos estudos recentemente publicados pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde Pública da PUC-Rio e o Instituto Polis. Dos contaminados, quase 55% dos pretos e pardos vão a óbito, entre os brancos a taxa ficou em 38%.  Os dados refletem a histórica ineficiência das instituições brasileiras de construir políticas públicas de reparação histórica e de combate ao racismo.  

Mesmo as poucas iniciativas existentes, como é o caso das cotas raciais, ainda não foram suficientes para produzir um impacto em largas proporções ao ponto de igualar a pirâmide social brasileira. Em média, um trabalhador negro tem salário 17% menor que um branco de mesma origem social. Essa realidade se agravou ainda mais na atual crise econômica. Com o desemprego e a queda brutal da massa salarial, os trabalhadores negros e negras tiveram extrema dificuldade de acesso à saúde. Nesse contexto, a própria diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Clarissa F. Etienne, fez um clamor pedindo que as autoridades tratassem o tema da desigualdade racial como ponto central e urgente no contexto de combate a pandemia.

O alerta não bastou para mobilizar o governo brasileiro, que agiu ao contrário de todas as recomendações internacionais. Agora a CPI do Genocídio escancarou que Bolsonaro e seus aliados utilizaram a pandemia como uma oportunidade para exercerem sua necropolítica e o extermínio da população negra. É o que ficou comprovado no depoimento de Pedro Rodrigues Curi Hallal, que afirmou ter participado de uma reunião com membros do palácio do planalto e do ministério da saúde para apresentar dados da pesquisa EPICOVID-19 desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas. No encontro, o pesquisador enfatizou a necessidade de serem desenvolvidas ações coordenadas para proteção da vida de populações negras e indígenas, mas foi imediatamente censurado pela equipe de comunicação do governo. Além de impedirem a divulgação dos dados, logo em seguida o governo federal encerrou todas as relações e investimentos destinados à continuidade da pesquisa.

A ausência deliberada de ação governamental para mitigar os efeitos do coronavírus nas populações negras causou ainda uma grande disparidade no número de vacinados entre negros e brancos. Segundo dados da Agência Pública, mais de 3,2 milhões de pessoas brancas receberam a primeira dose do imunizante, esse número cai para 1,7 milhões quando se trata da população negra.  

Como se não bastasse ter negligenciado a compra de vacinas, prevaricado em relação às denúncias de superfaturamento na compra da Covaxin, Bolsonaro também transgrediu o princípio constitucional de igualdade e equidade na proteção da vida. Sobram elementos para o impeachment do presidente, o povo está convencido disso, o que falta é parte do congresso deixar a sua condição de cúmplice no plano bolsonarista calcado em racismo, omissão e aniquilação dos brasileiros. 

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