Rapper Thaíde relembra 30 anos de carreira comentando letras marcantes em livro

Obra é uma parceria com o jornalista Gilberto Yoshinaga, biógrafo do músico

no R7

Algumas das crônicas, opiniões, lutas e histórias que recheiam as músicas do rapper e apresentador Thaíde, que está completando três décadas de carreira, foram reunidas em um livro que contextualiza as letras com a época em que foram gravadas. Deste modo, conta também como foi a história do rap brasileiro, pela ótica de um dos seus protagonistas.

taide

O livro “Thaíde: 30 anos mandando a letra”, da editora Novo Século, foi escrito em parceria com o escritor e jornalista Gilberto Yoshinaga. A obra traz 30 letras de rap comentadas e contextualizadas para o leitor conhecer e entender as diferentes circunstâncias e reflexões que inspiraram a criação. O prefácio do livro foi escrito pelo cantor Chico César.

No domingo, 28, Thaíde e Yoshinaga participam de uma sessão de autógrafos do livro, na  24ª Bienal Internacional do Livro, a partir das 16h, na Arena 1. A bienal acontece no pavilhão de exposição do Anhembi, na avenida Olavo Fontoura, 1.209. O ingresso, no domingo, custa R$ 25.

Confira a entrevista com o autor Gilberto Yoshinaga sobre a parceria com o rapper Thaíde. Yoshinaga também é o autor do livro o “Nelson Triunfo: Do Sertão ao Hip Hop”, publicado pela editora Shuriken.

R7: Das 30 canções selecionadas para serem comentadas no livro, a maioria é do começo da carreira do Thaíde ou fazem parte da produção mais recente dele?

Gilberto Yoshinaga: Há letras de todas as fases da carreira do Thaíde, ou seja, dos seis álbuns e uma coletânea lançados com o DJ Hum e dos trabalhos lançados em carreira solo. Inclusive, a última letra do livro é inédita, de uma canção chamada “Hip-hop puro”, que vai sair no novo álbum previsto para breve pela Apenas Produções – disco que se chamará Vamo que vamo que o som não pode parar!

R7: Temas como violência policial, política e corrupção estão no livro? Ao longo da carreira, como oThaíde tratou as questões políticas?

Gilberto Yoshinaga: Sim, inclusive “Homens da lei”, escrita em 1987 e lançada no ano seguinte, foi o primeiro rap brasileiro a falar abertamente sobre a violência policial. Acredito que Thaíde também trata de corrupção e muitas outras questões políticas sem ficar no âmbito institucional, sem fazer discurso burocrático. Esses temas ficam evidentes nas entrelinhas de poesias que descrevem o cotidiano periférico, a vida do povo brasileiro, o racismo, as desigualdades sociais etc. O mais interessante é que Thaíde nunca se limitou apenas a chorar as mazelas ou rebelar-se contra elas. Sempre se preocupou em também mostrar as causas históricas desses problemas e, principalmente, apontar possíveis soluções, com injeções de autoestima, informações sobre História e mensagens positivas de incentivo ao estudo, ao trabalho honesto, ao respeito mútuo.

R7: Qual a parte mais difícil no processo de contextualização das letras? Na sua opinião, como autor, qual das músicas antigas continua atual?

Gilberto Yoshinaga: Acredito que a parte mais difícil foi escolher apenas 30 letras em um universo de quase 100 composições e ter de deixar algumas ótimas poesias de fora. A seleção de letras foi feita pelo Thaíde, eu só dei alguns pitacos e sugestões (rs)… Muitas letras que não couberam no livro são igualmente interessantes e relevantes, como “Revolução”, “Ninguém sabe” ou “Lata de lixo”, só para mencionar algumas. Infelizmente muitas músicas antigas que abordam problemas sociais ainda continuam atuais quase 30 anos depois. É o caso de “Homens da lei”, por exemplo, que fala sobre as arbitrariedades da polícia e sobre como ela trata as pessoas de forma diferenciada – é gentil nos bairros nobres e truculenta nas periferias. Ou “Brava gente” e “Desabafo de um homem pobre”, que falam sobre as inúmeras dificuldades enfrentadas pela imensa maioria de trabalhadores honestos que moram nas periferias. Ou, ainda, “Afro-brasileiro” e “Negro d+ pra você”, que abordam a questão do racismo e da perseguição a alguns aspectos da cultura afro-brasileira – o candomblé, por exemplo, que é a religião do MC.

R7: O livro com o comentário das letras do Thaíde é uma obra que complementa a biografia que vai sair logo mais? Como surgiu a ideia de desmembrar a análise das letras da biografia?

Gilberto Yoshinaga: Fui contratado para escrever a biografia, que deve ser lançada no início de 2017. Mas o Thaíde e a Ana Paula (esposa e produtora) já tinham a ideia de também fazer um livro de letras comentadas. No meio do processo percebi que tinha tudo a ver, pois as letras mostram o próprio Thaíde narrando seus pensamentos e experiências de vida, e não a interpretação de uma outra pessoa. Ao colher as histórias de vida de Thaíde, percebi que muitas delas realmente se entrelaçavam com suas criações poéticas. E o livro de letras foi tomando forma de maneira bem natural. Escrevê-lo até me ajudou a organizar a elaboração da biografia. Até gosto de brincar que são “livros gêmeos”, pois ambos se complementam.
O livro de letras se prendeu mais ao âmbito poético, da criação artística, enquanto a biografia traz relatos mais pessoais, histórias de vida. Mas há episódios que estão no livro de letras e ajudarão o leitor a entender a biografia, e vice-versa. É uma relação interessante entre as duas obras.

R7: O Thaíde sempre ampliou a pauta de assuntos no rap. Ele foi pioneiro em vários temas. O livro fala disso também? Quais temas?

Gilberto Yoshinaga: Com certeza, Thaíde foi pioneiro em muitas coisas! Como já mencionei, ele fez o primeiro rap a falar abertamente sobre violência policial (“Homens da lei”), isso em um momento em que a ditadura militar mal tinha acabado. “Noite” foi o primeiro rap brasileiro a ter um refrão r&b cantado por uma mulher. “Soul do hip-hop” foi o primeiro rap brasileiro a mencionar e homenagear Nelson Triunfo e Funk & Cia. “Afro-brasileiro” foi o primeiro rap escrito em homenagem à luta de Zumbi dos Palmares, em 1995, ano em que se lembravam os 300 anos de sua morte – ou “imortalidade”, como Thaíde prefere mencionar. E, se formos observar sua polivalência artística, ele também foi um dos primeiros a misturar rap com outros gêneros musicais (gravou com bandas de rock, funk e metal ainda no início dos anos 1990), um dos primeiros nomes do rap a ir para a televisão, o cinema, a publicidade, o jornalismo… E agora, aos 30 anos de carreira e prestes a completar 49 de idade, Thaíde segue trabalhando e inovando. Segue mandando a letra!

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