Pela atuação como uma das principais vozes no ativismo pelos direitos das mulheres e da população negra no Brasil, a escritora, filósofa e doutora em educação Sueli Carneiro recebeu nesta terça-feira o Prêmio Faz Diferença 2024 na categoria Diversidade. Uma das maiores intelectuais da História do país, a pesquisadora, que não pôde participar do evento, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, agradeceu pelo troféu por meio de um vídeo exibido na cerimônia.

— Receber um reconhecimento é sempre algo especial, mas quando esse gesto está ligado a causas historicamente rejeitadas, negligenciadas e mal acolhidas por grande parte da sociedade, ele ganha um significado ainda mais profundo — diz a intelectual, que destaca fazer parte de uma geração de militantes negros que têm sido sistematicamente “desrespeitada e deslegitimada em seu ativismo”.
Fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, e integrante do movimento conhecido como “Lobby do Batom”, que lutou pela inclusão da igualdade de gênero na Constituição de 1988, Sueli é referenciada como uma das principais vozes no ativismo pelos direitos das mulheres e da população negra no Brasil.
No vídeo de agradecimento, a escritora ressaltou que a mídia e a imprensa “foram e ainda são, em muitos sentidos, instrumentos de um projeto de nação que exclui e silencia grupos racialmente discriminados”. Diante deste cenário, Sueli enxerga na conquista, “justamente no ano do centenário do jornal”, um simbolismo “que não pode ser ignorado”.
— Com a devida cautela que a experiência me impõe, quero acreditar que este gesto de reconhecimento representa mais do que um reconhecimento pessoal. Pode sinalizar que estamos finalmente abrindo caminhos para as mudanças urgentes e necessárias de reconhecimento e inclusão pelas quais tanto clama a cidadania no Brasil. Recebo esse prêmio em honra da ancestralidade que me trouxe até aqui. Muito obrigada — conclui Sueli.
O Geledés foi criado para denunciar as desvantagens e discriminações ainda sofridas pelas mulheres negras no país. O instituto se posiciona de maneira crítica a movimentos de mulheres e movimentos feministas que não reconhecem as desigualdades entre negras e brancas e não consideram a mulher negra como protagonista das lutas por equidade.
Em 1988, Carneiro foi coordenadora do Programa Mulher Negra do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, vinculado ao Ministério da Justiça e considerado o embrião do Ministério da Mulher. Na pasta, participou de eventos que marcaram a evolução do debate sobre igualdade racial na redemocratização.
Nos três governos Lula, Carneiro integrou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social como representante da sociedade civil. Em 2022, se tornou a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela UNB e foi Personalidade Literária do Prêmio Jabuti. Já no ano passado, a filósofa fundou a Casa Sueli Carneiro, que reúne mais de 4 mil documentos, além dos quatro livros e dezenas de artigos que escreveu. A instituição também sedia espaços para cursos e iniciativas de educação popular e abriga um centro de memória do movimento negro brasileiro.
O Faz Diferença é uma apresentação de O GLOBO e Firjan SESI, com apoio da Naturgy e da Petrobras.