Reconstrução da democracia é urgente e tarefa de todos

Não se trata apenas de concepção teórica, mas de um fazer cotidiano

A sociedade civil brasileira tem exercido um papel fundamental de resistência, denunciando o desmantelamento realizado pelo governo federal em relação aos órgãos de fiscalização, controle e participação, especialmente nos setores de meio ambiente, saúde, educação, cultura e direitos humanos.

A reconstrução da democracia no Brasil é tarefa urgente e que nos cabe no tempo presente. Estamos próximos de um momento crucial: as eleições de outubro. É fundamental honrá-las, defendendo as urnas eletrônicas, a transparência do processo eleitoral e os tribunais competentes, que compõem uma dinâmica séria reconhecida internacionalmente.

É fundamental, da mesma forma, reconhecer a democracia como um sistema político e como valor ou princípio que expressa uma visão de mundo. Não se trata apenas de uma concepção teórica ou de um campo restrito aos políticos. Ela também diz respeito a um fazer cotidiano, presente nas diferentes dimensões de nossas vidas.

A pandemia evidenciou a atuação de várias organizações de favelas e periferias, ou a elas ligadas, na liderança do combate à fome e às desigualdades. Essas organizações, historicamente, têm também agido em defesa das minorias, lutado pela justiça climática e promovido iniciativas com foco na equidade racial, étnica e de gênero, fazendo com que a sociedade se aproprie pouco a pouco desses temas. Por outro lado, universidades, centros de pesquisa, institutos e fundações, mesmo sofrendo ataques e com ausência de recursos, vêm realizando estudos, pesquisas científicas, ações e metodologias para apoiar o desenvolvimento e o aprimoramento de políticas públicas.

Mais do que nunca, é clara a importância do fazer coletivo nos enfrentamentos e na busca de soluções, e a democracia é o espaço para que todas essas iniciativas possam florescer e atingir um maior número de pessoas. Assim, é preciso diálogo, respeito ao outro e espaço para a construção de coletivos nos quais exista igualdade entre homens e mulheres e entre brancos e negros, enfatizando o cuidado com as crianças, com a comunidade e com o planeta.

Como diz a filósofa Sueli Carneiro: a valorização da diferença torna-se um pré-requisito para a reconciliação de todos os seres humanos. Um princípio capaz de fazer com que cada um de nós, com a sua diferença, possa se sentir confortável neste mundo pertencente a todos. Essa missão civilizatória talvez seja o ponto mais importante da agenda das próximas gerações.

Resgatar nossa potência de fazer acontecer não é algo mágico, mas uma construção tijolo a tijolo em que cabem iniciativas focadas em diferentes espaços e dimensões.

Finalizo resgatando o mote da websérie “Enfrente“, do canal da Fundação Tide Setubal no YouTube que leva o mesmo nome: “Tecer a rede. Furar a bolha. Responsabilizar-se pelo outro, criar inovações para poder ser, em conjunto. A história é de cada um. O movimento é do todo”. Reforço: o movimento é do todo. Vamos enfrentar, vamos sonhar coletivo. Vamos em frente!

+ sobre o tema

Nath Finanças: Pequenas economias do dia a dia que fazem diferença no fim do mês

Esqueceu de descongelar a comida e ficou com vontade...

Comércio entre Brasil e África cresce 416% em 10 anos

  Os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio...

Gay pode colocar parceiro como dependente no IR

Receita Federal aprovou parecer com origem em pedido...

Estudo mostra que pais podem ajudar a criar pequenos narcisistas

Se você acha que seu filho é ‘mais especial’...

para lembrar

Dre Sueli Carneiro : “Le racisme produit une fausse conscience de supériorité “

La société brésilienne doit abandonner l'hypocrisie, assumer qu'elle est exrêmement...

Colorindo Egos, por Sueli Carneiro

Nesta semana ocorreu em São Paulo o I Congresso...

Falta o Congresso

Registramos em nosso último artigo nessa coluna que embora...

Raça, classe e eleições, por Sueli Carneiro

Análises das pesquisas de intenção de votos nos candidatos...

Não é mentira: nossa ditadura militar também foi racista

Em meio às comemorações da primeira e mais longeva Constituição brasileira, promulgada em 25 de março de 1824 – um documento que demonstra a pactuação...

Militares viram no movimento negro afronta à ideologia racial da ditadura

Documento confidencial, 20 de setembro de 1978. O assunto no cabeçalho: "Núcleo Negro Socialista - Atividades de Carlos Alberto de Medeiros." A tal organização,...

Um passado que permanece

Neste domingo (31) completam-se seis décadas do golpe de 1964. É dever daquelas e daqueles comprometidos com a verdade e a justiça repetir o "Nunca...
-+=