Reconstrução da democracia é urgente e tarefa de todos

Não se trata apenas de concepção teórica, mas de um fazer cotidiano

FONTEFolha de São Paulo, por Maria Alice Setubal
Maria Alice Setubal, Doutora em psicologia da educação (PUC-SP), socióloga e presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal- Foto: Reinaldo Canato/Folhapress

A sociedade civil brasileira tem exercido um papel fundamental de resistência, denunciando o desmantelamento realizado pelo governo federal em relação aos órgãos de fiscalização, controle e participação, especialmente nos setores de meio ambiente, saúde, educação, cultura e direitos humanos.

A reconstrução da democracia no Brasil é tarefa urgente e que nos cabe no tempo presente. Estamos próximos de um momento crucial: as eleições de outubro. É fundamental honrá-las, defendendo as urnas eletrônicas, a transparência do processo eleitoral e os tribunais competentes, que compõem uma dinâmica séria reconhecida internacionalmente.

É fundamental, da mesma forma, reconhecer a democracia como um sistema político e como valor ou princípio que expressa uma visão de mundo. Não se trata apenas de uma concepção teórica ou de um campo restrito aos políticos. Ela também diz respeito a um fazer cotidiano, presente nas diferentes dimensões de nossas vidas.

A pandemia evidenciou a atuação de várias organizações de favelas e periferias, ou a elas ligadas, na liderança do combate à fome e às desigualdades. Essas organizações, historicamente, têm também agido em defesa das minorias, lutado pela justiça climática e promovido iniciativas com foco na equidade racial, étnica e de gênero, fazendo com que a sociedade se aproprie pouco a pouco desses temas. Por outro lado, universidades, centros de pesquisa, institutos e fundações, mesmo sofrendo ataques e com ausência de recursos, vêm realizando estudos, pesquisas científicas, ações e metodologias para apoiar o desenvolvimento e o aprimoramento de políticas públicas.

Mais do que nunca, é clara a importância do fazer coletivo nos enfrentamentos e na busca de soluções, e a democracia é o espaço para que todas essas iniciativas possam florescer e atingir um maior número de pessoas. Assim, é preciso diálogo, respeito ao outro e espaço para a construção de coletivos nos quais exista igualdade entre homens e mulheres e entre brancos e negros, enfatizando o cuidado com as crianças, com a comunidade e com o planeta.

Como diz a filósofa Sueli Carneiro: a valorização da diferença torna-se um pré-requisito para a reconciliação de todos os seres humanos. Um princípio capaz de fazer com que cada um de nós, com a sua diferença, possa se sentir confortável neste mundo pertencente a todos. Essa missão civilizatória talvez seja o ponto mais importante da agenda das próximas gerações.

Resgatar nossa potência de fazer acontecer não é algo mágico, mas uma construção tijolo a tijolo em que cabem iniciativas focadas em diferentes espaços e dimensões.

Finalizo resgatando o mote da websérie “Enfrente“, do canal da Fundação Tide Setubal no YouTube que leva o mesmo nome: “Tecer a rede. Furar a bolha. Responsabilizar-se pelo outro, criar inovações para poder ser, em conjunto. A história é de cada um. O movimento é do todo”. Reforço: o movimento é do todo. Vamos enfrentar, vamos sonhar coletivo. Vamos em frente!

-+=
Sair da versão mobile