Reflexão sobre o texto da Afropress e Luiza Bairros por Eduardo Santiago

REFLEXÕES SOBRE O TEXTO INTITULADO: Com avaliação de apagada, Bairros deve sair na reforma – Publicado Pela Agência de Informação Multiétnica AFRO PRESS: 

Outubro de 2011

por Eduardo Sergio Santiago de Queiroz

Existem algumas coisas que precisam ser colocadas nos seus devidos lugares antes de se fazer uma avaliação de nove meses de gestão a frete de um Ministério que não é ministério! As minhas discussões já vêm do eufemismo utilizado para driblar a comunidade negra em um dos vários recursos das elites colonizadoras neste país.

É preciso olhar o que significa para a comunidade negra esses poucos anos de existência deste setor que parece ser MINISTÉRIO mais não é! Estamos falando de um país em que as elites lutam com todas as suas garras para não ceder um palmo da sangria e pilhagem que enriqueceram seus cofres e que garante o poder para gerações e mais gerações dos seus descendentes. E essa elite é branca… E ela ainda não se deu por vencida e resiste de tal modo que além de mutilar aquilo que seria um estatuto da Igualdade Racial, assume o parlamento brasileiro para defender a volta da chibatada.

O que é ser apagado para os pretos neste país? É cair nas esquinas “num triste legado da escravidão/ a necessidade fazendo a razão/ dói ver em cada esquina partir um irmão/ que tombou sem direito a opção” – Adailton Poesia e Valter Farias. Neste caso, estão cobrando luzes, holofotes da mídia e joguetes de inaugurações: àquela coisa do QUANTO VALE OU É POR QUILO? Pretos e pobres famintos, correndo, abraçando e inaugurando esses elefantes brancos ou cursos que prometem manter nosso povo como ajudante disso e/ou daquilo outro eternamente. Mas, com a mídia, as luzes etc. Na tradição do nosso povo aprendemos a dar bombons a crianças não como forma de ludibriá-las.

Quero salientar que a matéria qual estou me referindo é de uma violência estarrecedora; na visível usura pelo cargo, o pessoal da Afro Press (Agência de informação Multi Étnica)  – considera que a PERFORMANCE da Ministra Luiza Bairros é apagada; a professora Luiza Bairros têm uma trajetória de militância na luta por igualdade racial e contra o racismo neste país, que não permite a ela assumir um cargo publico para ficar atrás de Performance e malabarismos que venham agradar aqui, acolá e que a mantenha afastada das bases. Vocês podem reconsiderar ou levar a mentira em frente – mas, Ela não deixa de ser dirigente do Movimento Negro Unificado, (que apesar de não estar com o vigor de outrora vocês se sentem incomodadíssimos com ele), para se dedicar a ong’s, o seu engajamento na luta anti-racista ganha dimensões internacional. Ou seja, por estar em Brasília você tem que perder a referência de quem é o nosso povo.

Mas essa prática de primeiro desqualificar, negar a pessoa e seus atributos para depois justificar a sua ausência, não é novidade! As elites colonizadoras neste país sempre fizeram uso desse recurso; quando não faziam diretamente, entravam em cena capitães-do-mato, vendedores de cabeças – “Afropress apurou junto a analistas com trânsito na Esplanada dos Ministérios, que o estilo da ministra é visto como distante do papel de um ministro de Estado”. Quer dizer: A professora Luiza Bairros está sendo alvo da barbárie do preconceito! O estilo dela: ou seja, a maneira dela andar, falar, comer, se divertir, se vestir e ser etc. Não corresponde a um Ministro… Quer dizer: Uma Ministra negra deve se comportar e possuir o estilo de um homem. Isso é monstruoso!

Essa citação da Prof Kátia Mattoso (Ser Escravo no Brasil p.105-106) é pertinente, e é sempre bom lembrar como a coisa funciona na história.

Dizem-se crioulos os escravos nascidos no Brasil e que logicamente, falam realmente o português. Em geral, foram criados na família do senhor e são fortemente marcados pela sociedade dos brancos. Para eles os problemas de adaptação serão muito sérios, pois cedo sentem a necessidade serem melhor assimilados pelo conjunto da sociedade. Nessa sociedade escravista existe uma certa mobilidade que permite passar da condição de mão-de-obra à artesão de talento ou de domestico, por exemplo, que proporciona também a esperança de uma alforria, se os valores ocidentais forem aceitos e renegada a herança africana. De fato, o forro é sempre relançado pelos brancos à comunidade dos negros; esta comunidade negra está sempre a receber novos membros vindos da África e não está necessariamente disposta a repelir a herança cultural dos ancestrais para aceitar a dos brancos. Daí as tensões que agitam continuamente o grupo escravo, retesado entre seus crioulos e seus africanos: o crioulo é objeto de contradições irredutíveis entre brancos e negros, é o que tem maiores dificuldades de assumir sua individualidade, pois os poderosos esperam muito mais do escravo crioulo que do africano, e não lhe perdoam coisa alguma.

É esse produto de contradições, preparado no mundo dos brancos que ao ser jogado para viver e/ou fiscalizar o nosso viver, faz a leitura bandida e perversa de que Edson Cardoso dividiu o Movimento Negro Brasileiro! Sem dúvida alguma esse desequilíbrio mostra que o alvo é o poder; Edson Cardoso é um dos maiores quadro que o Movimento Negro construiu em sua trajetória de resistência neste país e merece respeito. Outro termo folclórico conheci neste artigo da Afro Press: “mídia focada na temática étnico-racial brasileira” – é um segmento da mídia que descobriu esse filão; beleza! Nós somos tema para eles venderem e viverem em cima disso, Porreta essa!!! E se você não der reportagens e furos, eles vão lutar para te derrubar – era só o que faltava, aliás, estava demorando: A GLOBO DOS PRETOS.

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Sobre o autor: Eduardo Sérgio Santiago – MILITANTE DO MOVIMENTO NEGRO

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