Ronda Coronavírus: Maré tem quase quatro vezes mais casos de Covid-19 do que os dados oficiais

Enviado por / FonteMaré Online

O Boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS) desta quinta-feira (7) registrou 6.539 mortes por Covid-19 no mundo em 24 horas. Desse total, 600 foram confirmadas no Brasil, o que representa 9,17% dos óbitos pela doença do novo coronavírus. Só na cidade do Rio são 9.051 casos confirmados e 919 mortes. Isso sem contar com a subnotificação, já que não há testagem para todos os casos suspeitos.

Na Maré, segundo o Boletim de “Olho no Corona”, da Redes da Maré, são pelo menos 140 casos suspeitos de Coronavírus no conjunto de favelas da Maré e 18 mortes. Os dados estão sendo levantados pela equipe de profissionais da área social junto à população e tem como objetivo chamar a atenção para os casos subnotificados, apresentar as demandas das unidades de saúde e contribuir para o planejamento de medidas de prevenção e controle da pandemia em favelas. A iniciativa é um desdobramento da campanha “Maré diz NÃO ao Coronavírus” e vai abordar a situação das unidades de saúde presentes no território. A cada semana, um tema relevante relacionado à pandemia em favelas e periferias será tratado. Nesta primeira edição, a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos equipamentos de saúde da Maré e como os profissionais da área estão expostos à contaminação foi o tema abordado. O boletim já está disponível no site da Redes da Maré.

Numa tentativa de diminuir o número de casos subnotificados, Petrobras e Firjan prometeram ampliar a capacidade de realização de testes de diagnóstico de Covid-19 no Brasil. A parceria prevê pesquisa para um novo teste, com potencial de aumentar em cerca de 10 vezes a capacidade de análises e reduzir em até 85% os custos. O teste do tipo RT-PCR, de alta eficácia, custa em média R$90. Com essa iniciativa, o valor poderá chegar até R$13. Essas iniciativas precisam, entretanto, chegar aos territórios de favelas e periferias.

Moradores da Maré com Covid-19 relatam a dificuldade ao acesso a medicamentos prescritos por médicos nas unidades de saúde pública. O custo de antibióticos custam em média R$100,00 e segundo moradores, nas unidades de saúde não há distribuição desses medicamentos para os pacientes que não estão internados. Não haver medicamentos disponíveis para a população é ir contra a Política Nacional de Medicamentos, que prevê a distribuição de medicamentos gratuitos, a preços reduzidos, com segurança, qualidade e eficácia. Isso acontecer em tempos de crise econômica, nos territórios de favela, em meio a uma pandemia é, no mínimo, uma negligência gravíssima. Além do fato das diversas fake news sobre possíveis medicamentos que tratariam o coronavírus, fazendo com que muitos sumissem das prateleiras.

A circulação de pessoas pelas ruas da Maré e de bairros vizinhos – como Bonsucesso – tem sido muito alta, mesmo com o alto índice de óbitos na cidade do Rio. Além da percepção dos moradores, dados do Centro de Operações Rio (COR), em parceria com a Tim e a Cyberlabs, também confirmaram uma queda preocupante do isolamento social. Os cinco bairros com maior circulação estão na Zona Oeste e na Zona Norte. O primeiro, de acordo com os dados, é a região de Jacarepaguá, que registrou 3.079 pessoas durante o dia. O segundo é Campo Grande, com 2.364 pessoas, seguido de Santa Cruz com 1.961. A quarta e o quinta posições ficaram com a Zona Norte: São Cristóvão (1.954) e Ramos (1.935), bairro vizinho a Maré.

Diante disso, a prefeitura decretou a partir desta quinta-feira (07) o fechamento de alguns acessos ao calçadão de Campo Grande. Na medida chamada de lockdown parcial, grades foram instaladas nos acessos e apenas trabalhadores de serviços essenciais puderam transitar no bairro. O bairro centraliza o maior número de óbitos da cidade (40) e é o terceiro em número de casos confirmados (262).

A prefeitura estuda a ampliação da medida para outras regiões da cidade e especialistas da Fiocruz alertam para a necessidade urgente de lockdown, uma medida que prevê multa a quem estiver andando pela cidade sem ser para fazer compras ou ir ao médico. Uma espécie de isolamento obrigatório já adotada em outras cidades do Pará, Maranhão e Ceará.

Outra consequência da grande movimentação de pessoas é o número de profissionais de enfermagem no Brasil mortos pela Covid-19. De acordo com os dados reunidos pelo jornal El País, 73 profissionais morreram em decorrência da doença. O número supera o registrado pela Itália e Espanha juntas, os dois países que acumulam o maior número de mortes de enfermeiros pelo novo coronavírus.

Em duas semanas, a quantidade de pessoas negras que morrem por Covid-19 no Brasil quintuplicou. De 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros confirmadas pelo Governo Federal foram de pouco mais de 180 para mais de 930. Além disso, a quantidade de brasileiros negros hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por coronavírus aumentou para 5,5 vezes. Esse foi o levantamento da Agência Pùblica, que levou em conta os dados de São Paulo, realidade não muito distante do Rio.

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, anunciou nesta quinta-feira (07) que famílias que recebem até três salários mínimos receberão auxílio da prefeitura para realizar o enterro gratuito de seus entes durante a pandemia de coronavírus. A Secretaria de Infraestrutura, Habitação e Conservação do município do Rio oferece o sepultamento social custando até R$546, independente da situação socioeconômica.

O Clube de Regatas Flamengo divulgou nota oficial na noite de quarta-feira (06/5) que após realização de exames em 293 pessoas do clube, 38 testaram positivo para o novo coronavírus, sendo três em jogadores. Os nomes não foram revelados.

Um edital vai selecionar 20 organizações ou coletivos de comunicação popular, comunitária ou independente para apoiar no contexto das crises política, econômica, social e de saúde pública diante expansão da Covid-19 no Brasil. Os coletivos selecionados receberão um apoio de R$ 8.000 cada e integrarão a rede de comunicação da campanha #CompartilheInformação #CompartilheSaúde, que busca fortalecer o direito humano à informação neste contexto. Mais informações:

https://artigo19.org/blog/2020/05/07/chamada-aberta-compartilheinformacao-compartilhesaude-saiba-como-participar-e-submeta-uma-proposta/

 

+ sobre o tema

Pobre Palmares!

  por Arísia Barros União,a terra de Zumbi, faz parcas e...

Olimpíadas de Tóquio devem ser novo marca na luta por igualdade

Os Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968,...

Lei 13.019: um novo capítulo na história da democracia brasileira

Nota pública da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais...

Gostoso como um abraço? – Por Maria Rita Casagrande

Por Maria Rita Casagrande para as Blogueiras Negras Feche...

para lembrar

Brasileiro tem confirmado primeiro teste para coronavírus

Com 61 anos, ele mora em São Paulo e...

Semelhanças entre a gripe espanhola e a Covid-19

Pandemia do início do século XX e a atual...

Faço faxina, se eu trabalhar, como! Se eu não trabalhar, não como!

A pandemia do coronavírus escancara as desigualdades existentes no...

À espera do auxílio emergencial: “A gente vai ficando sem ter o que comer em casa”

Desespero e pressa: reunimos uma dezena de histórias da...

População de rua no Brasil cresceu quase 10 vezes na última década, aponta Ipea

A população em situação de rua no Brasil aumentou 935,31% nos últimos dez anos, segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base em...

Saúde mental dos idosos ainda sofre os impactos da pandemia

Após anos de enfrentamento da pandemia da Covid-19, torna-se evidente que os idosos estão entre os grupos mais afetados em termos de saúde mental. A melhoria das...

Nova ferramenta fortalece a valorização das ONGs no Brasil

Já faz muito tempo que as entidades sem fins lucrativos vêm ganhando relevância entre os protagonistas que conduzem o destino do nosso país. Entretanto, foi a...
-+=