A rua Grande e a elegância distinta de d. Edwine Passarinho – Por: Fátima Oliveira

Ao contrário de minhas filhas, que são da “geração shopping”, detesto shopping centers. Nunca gostei de comprar nada nem de comer nesses lugares! Nas tais praças de alimentação, além de cadeiras desconfortáveis, a impressão que tenho é que a comida é de plástico, juro! É um lugar muito barulhento e com cheiro de gordura velha, embora seja limpo! Prefiro comer em qualquer “sujinho” de rua do que em shopping!
Acho tudo de um artificialismo irritante… O pior é que, nas pouquíssimas vezes em que comprei alguma roupa em shopping, até a cor era outra quando eu a via em casa! Sinto-me tapeada, é sério! Andei lendo que a iluminação é tão exagerada que muda a tonalidade das cores! E que, para que as roupas de inverno tenham boa saída, exageram na climatização. Inverno em shopping é invernão sempre!
Fora os cinemas, nada em shopping faz a minha cabeça! Gosto mesmo é de apreciar vitrines de rua! Entrar numa loja, sair, pegar um vento, entrar em outra, sem compromisso de comprar… Depois de bater perna para lá e para cá, voltar, pedir para ver de novo e até comprar… Falo de uma quase antiguidade, não é? Nem tanto! Em todos os grandes centros urbanos há nichos de rua com lojinhas bem transadas e até ateliês, dos populares aos glamourosos, com coisas boas e chiques para todos os bolsos!
Foi com imensa alegria que li: “O shopping center hoje é um ícone do capitalismo em decadência, e o principal rival dos shoppings é a internet, que permite fazer compras sem sair de casa”; e que a “morte de shoppings nos EUA acende alerta no Brasil”. E relembrei como a rua Grande era o eixo da moda de São Luís em minha adolescência e juventude, pois havia de um tudo da modernidade e da chiqueza em roupas, joias, bijuterias, móveis e eletrodomésticos!
Fiquei espantada há duas semanas quando estive lá! Foi um choque ver um comércio degradado e as travessas que viraram um comércio de rua desorganizado! Nada contra camelôs, que ganham o pão de cada dia de modo sacrificado e difícil. Sem falar que sou freguesa deles, pois há coisas que só eles vendem! Fala sério, quem resiste a um assédio benfeito de um camelô, que aqui chamávamos de “marreteiros”?! Quantas vezes comprei coisas das quais não necessitava, só pela boa lábia?
A rua Grande era a cara de dona Edwine Passarinho – elegante e distinta viúva que residia lá numa bela casa e se postava no parapeito de sua janela, todas as tardes, bem penteada, puro laquê, com brincos de pérolas enormes e muitas joias, além de bem vestida e maquiada, apreciando o “footing” (o caminhar a pé) que subia e descia a rua nos fins das manhãs e tardes, composto por estudantes dos colégios São Luís, Rosa Castro, Liceu, Ateneu, Instituto de Educação, Santa Teresa… Alguns colégios até proibiam as alunas de passearem na rua Grande de uniforme. De nada adiantava!
Dona Edwine Passarinho encarnava o que em Minas se chama de “namoradeira” – boneca artesanal em cerâmica, madeira ou gesso que decora janelas. E desconheço quem não a apreciasse. Cheguei até a presenciar uma briga entre duas amigas por causa dela quando especulávamos sobre a roupa que ela usava. O mito que corria era que ela jamais repetia uma roupa para se postar em sua janela exibindo sua beleza e riqueza. Foi quando uma colega disse que aquela senhora era tão somente uma exibicionista. Ao que Miriam retrucou: “Eu não a critico, pois será que, quando jovem, ela podia se arrumar assim? Hoje pode! E sua presença torna a rua Grande ainda mais bela!”.
Fonte: O Tempo

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