Ruth de Souza completa hoje 90 anos

Por: Rubens Ewald Filho

 

Sempre tive uma especial admiração por Ruth de Souza, desde garoto quando a vi em Sinhá Moça, o famoso filme da Vera Cruz, e fiquei impressionado com sua interpretação. Que reza a lenda comoveu o Festival de Veneza, onde por pouco ela não levou o prêmio de atriz (no seu lugar levou Lilli Palmer por Leito Nupcial, onde era a protagonista num filme de dois únicos atores. Enquanto Ruth, ainda que notável, era coadjuvante).

Desde então sempre a segui fiel, admirando que ela falasse inglês (e por isso de vez em quando aparecia em fitas estrangeiras rodadas no Brasil) e que tivesse uma carreira tão longa na Rede Globo (onde é contratada até hoje e fez inúmeros trabalhos, o último foi a série Na Forma da Lei).

Quando começamos a Coleção Aplauso na Imprensa Oficial, hoje interrompida, fizemos uma primeira seleção de nomes famosos para abrir o projeto. E Ruth estava entre eles. Foi assim que tive o prazer de conhecê-la mais de perto, saber de seu medo de avião (por isso custa a viajar pelo Brasil), constatar sua lendária elegância e simpatia.

Mais tarde, ela confirmou tudo isso quando foi premiada como em Gramado por As Filhas do Vento, de Joel Zito (onde tinha um incrível duelo com outra grande atriz, Léa Garcia). O livro Estrela Negra foi escrito pela jornalista Maria Angela de Jesus e publicado em 2004.

Ruth de Souza sempre foi uma pioneira. Numa época em que não havia atores negros, ela fez parte desde 1945, do primeiro grupo teatral importante do Brasil, o Teatro Experimental do Negro. Depois na Atlântida e principalmente na Vera Cruz se tornou a primeira estrela negra do cinema brasileiro.

Em 1948, o produtor americano Edmund Bernoudy a escolhe para o filme Terra Violenta, baseado em livro de Jorge Amado. Sua classe, elegância, sua luta contra o racismo, a paixão pelo cinema. Começam então os trabalhos inesquecíveis na televisão: A Deusa Vencida e A Cabana do Pai Tomás (ainda na Excelsior), e depois na Rede Globo, Verão Vermelho, Pigmalião 70, Assim na Terra como no Céu, O Homem que Devia Morrer, O Bem amado, Os Ossos do Barão, Bicho do Mato e mais recentemente A Rainha da Sucata, Mandala, Fera Radical, Sinhá Moça (as duas versões 86 e 06), Memorial de Maria Moura, Senhora do Destino, Duas Caras.

Nem é preciso dizer que não aparenta a idade, até mesmo porque Ruth é eterna, mas não teve ainda o reconhecimento e as homenagens que merece. Meu carinho e admiração a ela nesta data tão significativa.

 

Filmografia

1948 – Na Atlântida: Falta Alguém no Manicômio, de José Carlos Burle. Terra Violenta, com Anselmo Duarte.

1949 -Também Somos Irmãos, de Burle.

1950 – Aglaia (Inacabado). A Sombra da Outra, de Watson Macedo, com Eliana Macedo (filme perdido). Na Vera Cruz.

1951-Terra é Sempre Terra de Tom Payne. Angela de Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne.

1953 -Sinhá Moça, de Payne e Oswaldo Sampaio.

1954 – Candinho de Abílio, com Mazzaropi.

1956 – Quem Matou Anabela?

1957– Osso, Amor e Papagaios.

1958 – Ravina, de Rubem Biáfora.

1959 – Fronteiras do Inferno, de Walter Hugo Khouri. Mistério da Ilha de Vênus (Macumba Love).

1960 – A Morte Comanda o Cangaço, de Carlos Coimbra.

1961 – Favela, de Armando Bo, com Isabel Sarli. Bruma Seca, de Mario Civelli.

1962 – Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias. O Cabeleira, de Milton Amaral.

1963 – Gimba, o Presidente dos Valentes, de Flavio Rangel.

1966 – As Cariocas (Epis. Roberto Santos).

1968 – O Homem Nu, de Roberto Santos.

1974 – Pureza Proibida, de Alfredo Sternheim.

1974– Um Homem Célebre, de Miguel Faria Jr.

1975 – Ana, a Libertina, de Alberto Salvá.

1977 – Ladrões de Cinema, de Fernando Campos. Quem Matou Pacífico?, de Renato Santos Pereira.

1980 – O Fruto do Amor, de Milton Alencar.

1987 – Jubiabá, de Nelson Pereira dos Santos.

1990 – Cacciatori di Navi (TV, Folco Quilici).

1991– A Grande Arte, de Walter Salles (não creditada).

1993 – A New Spring (inacabado).

1994 – Boca de Zalman King, de Walter Avancini.

1999 – Um Copo de Cólera, de Aluisio Abranches.

2000 – Aleijadinho – Paixão, Glória e Suplício.

2001 – Distraída para a Morte (CM).

2005 – Filhas do Vento, de Joel Zito Araujo. Durvalina (CM).

2009 – Em Quadro – A História de Quatro Negras nas Teias (Depoimento).

 

Fonte: R7

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