Joyce Ribeiro é a única negra a apresentar diariamente um jornal de rede na televisão
Por Sandro Nascimento Do NaTelinha
No comando do matutino “Primeiro Impacto” desde março no SBT, a jornalista Joyce Ribeiro é a única apresentadora negra fixa em um telejornal de rede no país. “Tenho consciência desta responsabilidade e sou muito feliz por ter chegado a esta posição na carreira”, diz.
Em entrevista exclusiva para este colunista do NaTelinha, Joyce Ribeiro reclama da falta de espaço dos negros na TV e comenta sobre os ataques racistas que sofreu em 2011 pela internet: “Hoje acho que o sentimento de tristeza abala mais. Comprovar que ainda vivemos em um mundo com pessoas tão limitadas e focadas em espalhar o ódio das mais diversas formas entristece muito”.
No início do ano, lançou seu primeiro livro pela editora Planeta, “Chica da Silva – Romance de uma vida”. “Escrever meu primeiro livro foi a realização de um sonho. Por muitos anos pensei que um dia lançaria um livro, mas imaginava que isso demoraria muito para acontecer”, comemora.
Confira a entrevista completa:
Você hoje é única apresentadora negra fixa de um telejornal em rede no país. Como você observa este cenário do mercado?
Joyce Ribeiro – Tenho consciência desta responsabilidade e sou muito feliz por ter chegado a esta posição na carreira. Ao longo dos anos, com a experiência, percebi a importância da representatividade, vi o quanto sofri com a falta de referências de sucesso nas mais diversas áreas. Temos excelentes profissionais negros que não conseguem uma oportunidade na TV e isso precisa mudar. A televisão deve ser um retrato da nossa sociedade que é diversa.
Como você vê a decisão do SBT em devolver uma hora ao “Primeiro Impacto”? Seria uma prova de que o público e a emissora estão satisfeitos com os resultados? Sente que o jornal está estabilizado na grade?
Joyce Ribeiro – Comemoramos muito. Trabalhamos demais nas madrugadas para levar um bom jornal para o público, mas nunca estamos satisfeitos. Queremos sempre fazer mais e melhor para atingir resultados inéditos.
Alguns apresentadores de telejornais migraram para o entretenimento. Você toparia uma experiência de comandar um produto na linha de show?
Joyce Ribeiro – Eu adoraria viver esta experiência e este é um dos meus planos futuros. Hoje eu já faço o “Joyce Entrevista” no YouTube. É um programa de entrevistas variadas. No futuro tenho planos de fazer um projeto similar em TV.
Você está no SBT há 11 anos. De todas as experiências profissionais na emissora, qual foi a mais desafiadora? Por quê?
Joyce Ribeiro – Acredito que a mais desafiadora foi o jornal “Boletim de Ocorrências”. Falar de violência urbana diariamente e mergulhar neste problema da nossa sociedade não foi nada fácil, mas aprendi muito naquele oportunidade.
Você sofreu ataques racistas em suas redes sociais. Denunciar à polícia é o melhor caminho nestes casos?
Joyce Ribeiro – Durante a vida enfrentei muitas situações de racismo. Na carreira, hoje em dia, acredito que o racismo se mostra mais quando procuramos melhores oportunidades de trabalho e as portas ainda não estão abertas mesmo para pessoas que se mostram qualificadas. Este número reduzido de profissionais em frente às telas vem gerando estes ataques de pessoas preconceituosas e contrárias a nossa presença. Denunciar é o certo a se fazer em casos como este e fiz isso para incentivar outros que passam pelo mesmo.
Conseguiu identificar essas pessoas? O que vai acontecer com elas?
Joyce Ribeiro – A punição para este tipo de criminoso ainda não acontece em todos os casos. Ainda não encontraram a pessoa que me agrediu, até porque na maioria das vezes eles se escondem em perfis falsos, mesmo assim o melhor caminho é a denúncia e a cobrança por punições.
Psicologicamente até que ponto esses ataques lhe atingem?
Joyce Ribeiro – Hoje acho que o sentimento de tristeza abala mais. Comprovar que ainda vivemos em um mundo com pessoas tão limitadas e focadas em espalhar o ódio das mais diversas formas entristece muito. Por outro lado, penso nas milhares de pessoas que acreditam na essência do ser humano, na possibilidade de usarmos as nossas energias em ações positivas e pensando no desenvolvimento comum, deixando de lado atritos por conta da cor, gênero, orientação sexual, aparência ou condição social por exemplo.
Por que escolheu contar a história de Chica da Silva na sua estreia como escritora? Ela te inspira?
Joyce Ribeiro – Escrever meu primeiro livro foi a realização de um sonho. Por muitos anos pensei que um dia lançaria um livro, mas imaginava que isso demoraria muito para acontecer. Felizmente aconteceu agora. Sempre pensei em escrever sobre uma mulher, são várias que me inspiram, que eu gostaria de pesquisar para saber mais e dividir isso com as outras pessoas e certamente a Chica da Silva é uma delas. Em muitos pontos a história de vida da Chica é semelhante com a das mulheres de hoje. Ela sofreu, lutou, sonhou e não se deixou paralisar pelos problemas.
“Chica da Silva – Romance de uma vida” se trata de uma biografia?
Joyce Ribeiro – É um romance histórico. Como autora, e sendo um romance, eu imaginei como devem ter sido muitas passagens da vida dela. Baseada nos fatos reais, fui detalhando vários momentos de acordo com os costumes da época e personalidade da Chica.
Já pensa numa segunda publicação?
Joyce Ribeiro – Sim, quero muito publicar novamente. Tenho vários assuntos que gostaria de abordar, muitos mesmo, mas ainda nenhum encaminhado para o próximo. Eu vou precisar de um tempinho já que o processo do livro dá muito trabalho e exige dedicação extrema.
Como está a sua rotina para tomar conta da Lorena e da Maria Luiza (suas filhas de 11 meses e 4 anos, respectivamente) e ao mesmo tempo conciliar com os horários do seu trabalho?
Joyce Ribeiro – Esperei e sonhei muito com a maternidade. Este com certeza é o momento mais especial da minha vida. Sabia que para dar conta de tudo não seria fácil, mas a prática mostra que conciliar família e trabalho dá muito mais trabalho do que imaginamos. Por outro lado pude perceber que com muito anos, paciência, além de muita disciplina é possível fazer tudo. Cada casa e cada família acaba encontrando a sua receita e a sua maneira de fazer tudo funcionar e é isso o mais interessante na vida. Tem que aproveitar todas as fases.
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