The Mountaintop, peça estrelada por dois estreantes na Broadway, Samuel L. Jackson e Ângela Bassett

Foi uma surpresa descobrir ainda em previews, a montagem desta peça The Mountaintop/O Alto da Montanha, que ganhou o prêmio Olivier, o maior do teatro na Inglaterra e que está sendo estrelada por dois estreantes na Broadway, Samuel L. Jackson e Ângela Bassett.

Ela que foi indicada ao Oscar por Tina, já tinha feito algumas peças na Costa Oeste, mas os dois são basicamente astros de cinema. O que deixa a gente sempre preocupado porque fica com medo deles não saberem projetar voz e interpretar grande como o palco exige (isso já sucedeu muitas vezes, com atores de cinema como Julia Roberts, Ashley Judd).

Também a promoção da peça é meio esquisita, porque evita mencionar detalhes do que realmente trata. Ficamos sabendo que Jackson interpreta o reverendo Martin Luther King Jr num hotel em Memphis na véspera de sua morte, quando viria a ser assassinado brutalmente.

A primeira ideia que passa é que seria o encontro entre ele e uma garçonete no quarto do hotel, até porque nestes últimos anos têm se divulgado um segredo guardado as sete chaves, de que King era mulherengo e trai a esposa com frequência. Mas a pista, advirto, é falsa.

Se vocês morassem aqui em Nova York e tivessem acesso mais fácil a montagem, eu certamente iria me calar por aqui e não daria mais detalhes sobre a trama para não estragar a surpresa. Então quem não quiser saber fique prevenido, que vou revelar detalhes que poderão estragar o prazer dos que verem a peça ao menos parcialmente.

Quem escreveu o texto foi uma certa Katori Hall, estudante de Harvard, Columbia e Julliard. E a direção é de Kenny Leon, o mesmo de Fences, de Denzel Washington. Ambos optando pela simplicidade. Jackson que é mais alto do que o verdadeiro Reverendo deixou o cabelo crescer, em geral ele o usa raspado, assim como o bigode.

Ambos aparentam muito menos do que a idade verdadeira (Jackson já esta na faixa dos 60 e interpreta um homem de 39 anos sem qualquer problema, Ângela esta em torno dos 50 e parece que tem vinte anos a menos).

E não há qualquer problema em projetar voz ou personalidade, até porque a peça começa a se explicar logo, Camae (Ângela) é a empregada do hotel que vem lhe trazer um lanche enquanto lá fora cai uma tempestade de chuva e trovões. Mas a tal esperada cena de sedução não acontece.

Porque na verdade, essa mulher de nome estranho e comportamento exuberante, é uma espécie de anjo da morte, que veio preveni-lo do que vai acontecer. De que ele vai morrer. A princípio assustado, infeliz porque tem ainda tanto a fazer, tantos planos a realizar no seu projeto de luta pela igualdade de negros e brancos, ele só lhe pede uma coisa, que lhe conte o que irá acontecer no futuro.

A peça até então estava confinada numa moldura pequena, que retratava um modesto quarto de hotel, quase realista (chega ao cúmulo de mostrar banheiro onde se ouve ele urinando) quando Camae toma a palavra se expande, os objetos recuam e começam as projeções retratando mais de quarenta anos da história americana, do enterro de King até a eleição de Obama.

É uma sequência arrebatadora muito bem conduzida por Ângela, e que ganha ainda mais força com a participação da plateia que age como se estivesse numa Igreja, ouvindo um sermão e de vez em quando dizendo amém ou algo semelhante.

E que irá concluir com o último discurso de Dr. King como se realmente estivesse falando a uma congregação. De repente, as fronteiras entre teatro e igreja se rompem, se confundem, se unem. Não é preciso dizer que eu comecei a chorar e deixei as lágrimas rolarem até o final. Que foi, claro, apoteótico. Um delírio.

Que continuou lá fora com a maior parte da plateia esperando a saída da dupla (um ritual muito da Broadway) que se comportou com a maior simpatia, sorrindo, tirando fotos e assinando autógrafos. A estreia oficial ainda não ocorreu e não sei o que os críticos vão dizer. Mas certamente esta foi uma tarde de domingo (era matinée) que nunca irei esquecer.

Fonte: R7

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