Thelma Assis conta sobre episódio de racismo em teste de residência: ‘Enfermeira foi mais cedo’

Enviado por / FonteÉpoca, por Guilherme Amado

Quase seis meses após o fim da mais recente edição do Big Brother Brasil, considerada uma das melhores da história do programa, a campeã Thelma Assis alcançou um patamar além da fama que todo ex-brother leva. Carrega uma voz forte, que tem sido procurada a opinar sobre diferentes temas da atualidade, como medicina, desinformação, racismo estrutural, machismo, entre outros, seja em seu quadro aos sábados, no É de casa, da TV Globo, ou nas lives e entrevistas quase diárias de que participa.

Em conversa com a coluna, a médica conta que tenta usar sua visibilidade para conseguir dar espaço a pautas sociais, o que não a impede de também ser vítima de racismo, como tem ocorrido em suas transmissões ao vivo nas redes sociais — e de que já foi alvo em outras ocasiões, como num programa de seleção de residência médica, anos atrás.

E não se inibe:

“Eu sigo fazendo a minha live, dando minha mensagem, senão vou adoecer”, diz ela.

Leia trechos da entrevista.

Você percebe o interesse da sociedade em ouvir suas opiniões, para além da efemeridade da fama?

Sim. É um momento em que as pessoas estão mais reflexivas, um pouco é consequência desse momento que vivemos. Nunca discutimos tanto racismo, machismo quanto na pandemia. Sinto a responsabilidade que é, e busco sempre me posicionar de uma maneira que oriente e incentive as pessoas.

Você costumava se chamar de “médica exibida”. Hoje se sente mais confortável em ser uma médica comunicadora?

Quando eu falo isso, é no sentido de mostrar que a gente pode ser o que a gente quiser ser. Sou bailarina formada antes de ser médica. “Médica exibida” é nesse sentido. Como médica posso fazer um link entre medicina e comunicação. O Dráuzio Varella faz isso brilhantemente há anos. As pessoas precisam de alguém que possa orientar com clareza.

E como usar isso na sua especialidade?

A anestesiologia tem muitos mitos, medos, e isso tem chegado para mim pelas redes sociais e é legal poder orientar para que, quando eles cheguem no centro cirúrgico, estejam mais tranquilos. É uma informação que eles recebam na internet da maneira adequada. Porque na internet você tem muita informação que nem sempre está da maneira correta.

Você tem exercido a medicina?

Ainda não, mas pretendo voltar. Eu planejo muito as coisas. Já estava na minha agenda fazer uma pós-graduação, uma subespecialidade dentro da anestesia. Hoje vejo que minha retomada vai ser por aí, quando conseguir conciliar minha agenda.

O que achou sobre a acusação de “racismo reverso”, algo que não existe, ao programa de seleção de trainees da Magazine Luiza, exclusivo para negros neste ano?

Racismo reverso não existe. Os especialistas em racismo explicam por quê. O Vida Negras Importam influenciou muito o Brasil e nos fez falarmos mais sobre o assunto. Não é um post com um símbolo preto na internet que vai mudar alguma coisa. Cada um pode fazer o que a presidente da Magazine Luiza fez em seu próprio circulo. Questionar o quão diversa é nossa rede. As pessoas têm pavor de ser acusada de racismo, mas olhe quantos artistas negros você segue, quantos livros de autores negros você já leu?

Você foi vitima de racismo em algum processo seletivo?

Na medicina, existem entrevistas de emprego também, mas é muito na hora de fazer a prova. Já ocorreu comigo uma situação desagradável, quando fui fazer prova de residência num hospital conceituado de São Paulo e meu nome não estava entre os inscritos e não achava a sala da prova. Fui questionar e em vez de responder meu problema eles disseram “a prova da enfermagem foi de manhã, mais cedo, agora é residência médica”. Fiquei sem reação. Esse cara foi racista? Se fosse uma amiga minha branca, ele não diria isso.

Continua acontecendo até hoje?

Todos os dias, infelizmente. Eu resolvi usar outra estratégia. Muita gente quer chamar a atenção. Quer causar com esse tipo de atitude. Eu sigo fazendo a minha live, dando minha mensagem, senão vou adoecer. Teve uma live em que eu fui obrigada a parar, o que me doeu foi porque estávamos falando sobre racismo estrutural com a Luanda Vieira…

No BBB, você faria alguma coisa diferente?

Costumo brincar que eu não faria nada diferente porque eu ganhei. Sempre que eu me questiono eu penso que talvez, se tivesse feito diferente, não teria dado certo. O reality traz autoconhecimento. A gente entra achando que nos conhecemos 100%. Lá dentro a gente vê que a única saída é você se agarrar ao que você é de verdade.

 

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