“É preciso reagir aos nazistas”

Jornalista Fernando Brito comenta o vídeo em que “um imbecil que, estupidamente, vai provocar e humilhar um frentista de posto de gasolina que abastece um carro, em Porto Alegre”, simplesmente por ser haitiano; “Estamos permitindo que este comportamento fascista se espalhe, sem reação”, diz

Comecei muito mal o dia, lendo o Diário do Centro do Mundo. Não pelo site, obvio, que é muito bom, mas pela matéria – com o vídeo que reproduzo ao final com um imbecil que, estupidamente, vai provocar e humilhar um frentista de posto de gasolina que abastece um carro, em Porto Alegre.

A razão? O trabalhador é haitiano.

É de embrulhar o estômago, mesmo sabendo que a notícia já circula há dois dias.

Danem-se os que me acharem “políticamente incorreto”, mas este sujeito, além do devido processo judicial, deveria ser posto a correr, depois de ouvir uns desaforos daqueles bem “incorretos”.

O avô ou bisavô deste personagem que maltrata quem vem trabalhar aqui veio de onde? As centenas de  milhares de gaúchos  filhos, netos e bisnetos de imigrantes por acaso não vieram para cá , como dizia a minha avó (ela própria filha de um imigrante português), com “uma  mão atrás, outra na frente”?

Porque, tirando os poucos indígenas que restam neste país, quem é que não veio de algum lugar para trabalhar e viver aqui?

Diz o  facínora que não é por ele ser estrangeiro, mas por ser, supostamente um perigoso militar treinado a serviço do comunismo.

Olhem para o pobre coitado, um magrelo, quase um fiapo, humilde, intimidado e para  o agressor que vai provoca-lo e vejam quem parece um paramilitar, aliás com um broche de caveira bem significativo.

Só de uma cavalgadura destas usar um uniforme militar, covarde fantasiado de valente,  já é uma ofensa às nossa Forças Armadas que, com todos os defeitos que possa ter tido, sempre foi democrática em seu acesso e, até, durante muito tempo, a única forma de garotos de origem humilde terem um ensino e uma carreira digna.

É pior que isso, ainda: chega a ser um ultraje vestir-se como se fosse do Exército Brasileiro, que tem como seu berço e exemplo a Batalha dos Guararapes, onde o sangue de brancos, índios e negros começou a se misturar num campo de batalha para formar o país que somos!

Na verdade, o canalha que faz isso faz porque o rapaz é negro e pobre.

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Porque, se este microcéfalo não sabe, hoje está sendo divulgado, na Suíça, um estudo mostra que, pelo sexto ano consecutivo, mais migrantes estão vindo da Europa para a América Latina que, como antes, latino-americanos indo para lá, em busca de trabalho.

Só da Espanha saíram, em 2012,  181.166 cidadãos com destino a países da América do Sul.

E diminui o número de brasileiros (e latino-americanos, em geral) que emigram para conseguir o trabalho que aqui faltava.

Aliás, o que este palerma covarde acharia se um brasileiro que fosse tentar a sorte como entregador de pizza nos Estados Unidos fosse tratado como ele tratou o rapaz?

Se o Ministério da Justiça do Brasil servisse para alguma coisa, este camarada  estaria sentado agora numa delegacia de polícia, prestando declarações e respondendo, no mínimo, por assédio.

Mas estamos permitindo que este comportamento fascista se espalhe, sem reação.

Nem que seja a de alguém – de preferência um pequena mulher, para que se veja  que  a pancada é mais moral do que física – que lhe dê o tapa na cara que merece.

Depois que desinventaram o tapa na cara os canalhas ficaram mais selvagens.

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