Último dia

Nas encruzilhadas, em cada ponta eu me sinto doer, física, emocionalmente e psicologicamente. Cansa. O desafeto, o abandono, o esquecimento e o desespero por companhia e por uma fagulha de amor e calor. 

Como um corpo preto ama? Quem ama o corpo preto? Quando ele recebe de volta todo o amor que doa em busca de uma fagulha?

Tem realmente diferença? Se aquele outro corpo é preto também? Eu sei a resposta, sei que tem. Mas quando foi e como foi que nos desencontramos nas encruzilhadas?

Para onde o corpo preto vai? Onde ele se sente em casa?

Seguro? Eu me pergunto sempre, se alguma vez eu já me senti 100 por cento segura e despreocupada e… NUNCA.

A cabeça sempre trabalhando, em diversas formas de sobreviver caso algum dia seja o último dia. Caso algum dia, seja o último dia de poder sentir o cuidado, o afeto e o amor.

O corpo preto antes de morrer, ele se despede todos os dias, ele passa pelo luto todos os dias, como se o próximo dia não fosse acontecer.

Quando o amanhã acontece, estamos prontos para mais um luto. A parte calorosa e que dá esperança de ver beleza nas despedidas diárias, é criar o próprio manual de sobrevivência.

A minha maior alegria de viver o luto, é fazer da minha caminhada na encruzilhada, uma caminhada vivida não só por mim, mas também por quem eu encontrar. Mesmo quando eu não souber me encaixar, mesmo quando me disserem que o meu jeito de amar é errado. Eu vou estar e eu vou amar.

O meu corpo preto precisa viver, mesmo sabendo que vai morrer… 

TODO DIA.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

Leia também:

Não seja tão dura com você! Um texto de amor em tempos tão difíceis

Mate o amor romântico antes que ele te mate: por outras insurgências do amar

(In)dignas de amor

+ sobre o tema

Pueblos africanos

Cuando camino en mis sueños por aquellos caminos polvorientos...

A Argentina também tem representantes afro-políticas

Mais de 60 mulheres afrodescendentes, a maioria da Argentina,...

O movimento negro brasileiro e a circulação de referenciais para a luta antirracista

Ainda é muito comum no Brasil, em diversos meios...

A Constituição de 1988 e a cidadania que nos foi negada

O acesso a educação no Brasil é um problema...

para lembrar

American Son: i can’t breathe.

Eis a última oração dita no filme American Son....

Pensando cá com minhas máscaras

No imaginário da minha infância, nas minhas brincadeiras de...

Quem plantou, quem colheu, quem aguou? – O protagonismo feminino no meio rural

AVE MARIA DAS QUEBRADEIRAS “Ave palmeira Que sofre desgraça. Malditos: derruba,  Queima, devasta. Bendito...

Antonieta de Barros: Tem negras no Sul?

No dia 20 de maio de 2021 lancei, para...

As crianças são racistas?

Construímos ao longo da nossa formação humana e acadêmica a compreensão de que as crianças são sujeitos em processo formativo e/ou de certo modo...

Eu sou… Hipólita! Território Lovecraft e a contemporaneidade jazz afrofurista revolucionária de Sun Ra

A série televisiva “Território Lovecraft” tem gerado uma série de reflexões e discussões acerca de suas problematizações sobre o racismo enquanto elemento fundante e...

Sobre brancos “pisando em ovos” (com as discussões raciais)

Na sociologia aprendemos uma regra básica: se um fenômeno se manifesta em diversos indivíduos, ele existe fora deles. Por isso é geral, é social....
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.