Meu corpo preto e meu dinheiro as marcas racistas não veem

O “Zara zerou” é mais um exemplo de como opera o sistema ao ativar a suspeição comumente atribuída a nós pessoas pretas quando adentramos os templos do capitalismo racista, que não nos veem como consumidores em potencial e nos associam, de forma preconceituosa e automática, à pobreza e criminalidade. Longe de ser novidade na terra brasilis, trata-se de uma violência simbólica cotidiana.

Não nos querem ali e há muito isso não me traz dor. Sabe por quê? Porque juntamente com consciência racial veio a compreensão de que o enfrentamento dessa violência passa por fazer tais empresas fecharem as portas recolhendo, além de falência, toda arrogância e desumanização lançadas contra nós. Assim, não consumir seus produtos tornou-se regra n. 01. Se meu corpo negro não está no padrão da marca, meu dinheiro também não. 

Isso vale para as grandes, como Zara, Farms e as marcas nacionais/ locais, que expõem o seu “zara zerou” quando não nos contemplam na publicidade nem contratam os nossos como vendedores de suas lojas nos shoppings em que somos maioria na prestação de serviços de limpeza. São ambientes palco da brancura aclamada como humana, bonita e bem vestida.

É o chamado pacto, como nos diz a psicóloga e pesquisadora Maria Aparecida da Silva Bento, conhecida como Cida Bento, que cunhou em sua tese de Doutorado intitulada “Pactos Narcísicos no Racismo: Branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público”. Para mantê-lo bem-sucedido os sujeitos que se pretendem universais criam seus próprios códigos de linguagem verbal e gestual com o objetivo vil de demarcar os nossos (não) lugares.

Individualmente não tenho poder para quebrar marca nenhuma, mas se o boicote a tais marcas se tornar modus operandi da coletividade negra veremos que elas não resistirão diante do imperativo lucrar.

Olhem para nossa comunidade, para o empreendedorismo do nosso povo e o fortaleçam. Pratiquem um blackmoneyzinho e façam o dinheiro correr entre/ para nós. 

Pretes,respeitemo-nos!! Não deixem que empresas/marcas racistas vejam a cor do nosso dinheiro, é simples. Que seus lucros zerem na mesma proporção em que zeraram nossa humanidade.

*Joselice Souza Barbosa é mestra em Educação pelo PPGE- UEFS e Professora na rede de ensino estadual- BA em Feira de Santana.

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