Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa! por Sueli Carneiro

Foto: Marcus Steinmayer

Caros blogueiros progressistas, nas eleições de 1996 para a prefeitura de São Paulo, a então candidata de nosso coração Luiza Erundina em discurso inflamado,  bradou que Celso Pitta era um negro de alma branca e que ela era a verdadeira representante do movimento negro. Posto que as bandeiras que ela representava eram as que contemplavam as necessidades e interesses dos negros de São Paulo. Essa velha militante negra que vos fala, veio a público para contestar a então candidata lembrando-a de que uma das dimensões do racismo é negar a plena humanidade das pessoas e por plena humanidade entendemos a possibilidade de sermos, brancos e negros, do bem, ou do mal. Assim são os seres humanos.

por Sueli Carneiro

Existiam, na época, razões políticas de sobra para criticar a candidatura de Celso Pitta, a única imprópria era tratá-lo de “negro de alma branca” por pertencer ao campo ideológico adversário e seu comprometimento com suas práticas políticas e administrativas deletérias, que são de conhecimento público. Um negro pode ser corrupto, se posicionar contra os interesses de sua gente. O que podemos fazer diante disso, é lamentar e combatê-lo politicamente, jamais atribuir essa característica à sua condição racial. Aí mora o racismo, ao tentar encontrar a razão da “falha” na negritude da pessoa ou na suposta ausência dessa negritude em um@ negr@ como propõe a frase, negro de alma branca.

Há também incontáveis razões para criticar a Rede Globo e muitos de seus funcionários, mas, isso não autoriza ninguém a supor, sugerir ou inferir que um negro global tenha a “alma branca” por jogar o jogo da emissora.

Paulo Henrique Amorin errou em relação a Heraldo Pereira, ele sabe disso, deve pagar. Nenhuma pessoa negra que tenha dignidade aceita ver qualquer negr@ ser tachado de “negro de alma branca”, ou por qualquer outro pejorativo relativo a sua raça. Ser progressista, de esquerda, não é, necessariamente, antídoto contra o racismo; nem um cheque em branco para desvios dessa natureza.

Assim como votei em Erundina por saber que o projeto político que ela encarnava era o que atendia aos anseios da cidadania negra, vou continuar a ler Paulo Henrique Amorim pelo que ele significa na defesa da cidadania brasileira, confiante que o ocorrido seja pedagógico especialmente para o nosso campo.

Entenda o caso:

Paulo Henrique Amorim e Heraldo Pereira: Indenização e retratação por racismo

Ana Maria Gonçalves – Paulo Henrique Amorim, o “negro de alma branca” e os demônios de cada um de nós

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