Ontem passei uma tarde inesquecível, gravando uma entrevista com Alaíde Costa – que em breve estará no Blog.
Por Luis Nassif no GGN
Alaíde completa 80 anos este ano. Está lançando um CD com composições próprias, uma preciosidade, joias escondidas por anos, mostrando uma compositora sofisticada, com uma musicalidade que já estava pronta aos 13 anos e com uma relação de parceiros sem paralelo.
Suas primeiras admirações foram as irmãs Linda e Dircinha Baptista. Naquele tempo a melhor vitrine para os compositores eram os concurso de carnaval.
Alaíde começou na música aos 13 participando dos diversos programas de calouro do Rio, o Papel Carbono, de Renato Murce, entre outros. Sua primeira participação em concurso foi uma música gravada por Linda Batista como samba de carnaval mas que, no fundo, era um belo e dolente samba enredo.
Quem a estimulou a participar dos concursos foi uma professora que convenceu sua mãe a permitir que Alaíde se tornasse babá de duas filhas, em troca de orientação e aulas.
A primeira música interpretada por Alaíde foi “Minha Terra”, de Waldemar Henrique, gravado por Vicente Celestino, um clássico.
Em breve, Alaíde mostraria seu refinamento. Sintonizando a Rádio Educadora, ouviu o clássico “Noturno em Tempo de Samba”, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, interpretado por Silvio Caldas em gravação de 1944.
Alaíde encantou-se com a música. Durante dias ficou ouvindo a rádio, pegando as letras aos poucos. Aí decidiu ir até a Loja Bandolim de Ouro e adquiriu a partitura. Ensaiou e decidiu enfrentar o programa de calouro do temido Ari Barroso.
Aqui uma gravação do Noturno, com Carlos Navas e Francisco Pellegrini. Confira a sofisticação da composição:
Foi, o pianista que acompanhava as calouras entendeu que o tom para ela seria outro mas a música era por demais complexa para uma transposição automática. Combinaram que ela voltaria na semana seguinte.
Venceu com a nota máxima e ganhou a admiração de Ari.
Aos 16 anos, compôs com o jovem de 16 anos que atendi pelo nome de Carlos Dias e, depois, faria carreira com seu nome real, Geraldo Vandré. Compuseram “Canção do Breve Amor”, letra de um Vandré ainda em formação, mas com as marcas que levaria às suas futuras obras primas.
Participou da primeira reunião do grupo que criou a bossa nova, convidado pelo próprio João Gilberto para uma sessão na casa do pianista da noite Bené Nunes. Lá se apresentaram João, Carlos Lyra, Menescal, Mário Telles, entre outros.
Durante bom tempo Alaíde circulou entre programas de calouro e as apresentações no Avenida Dancing, onde cantava de tudo, de tango a samba de breque.
Os deuses da canção foram entrando em sua vida docemente, por exemplo, na forma de um telefonema de Vinicius convidando-a a ir à sua casa. Lá, Vinicius convenceu-a a tomar aulas de piano com ninguém menos do que com o grande maestro Moacir Santos. Alaíde tomava as aulas e ir praticar na casa de Vinicius.
Um dia, em uma de suas muitas internações contra bebedeira na Clínica São Vicente, Vinicius mandou a Laizinha, como a chamava, abrir uma gaveta que tinha um presente para ela. Alaíde foi, fuçou não achou nada. E ele: procure.
O presente eram duas folhas de papel com letras do poeta para canções de Alaíde. E surgiu esse belíssimo “Amigo Amado”.
Em uma das tardes em que ensaiava, ainda na casa de Vinicius, chega Tom Jobim. Ele ouve uma de suas composições, sugere umas harmonias diferentes, senta-se no banco ao lado e resolve colocar letra. E tem-se então a incrível parceria de música de Alaide, letra de Tom Jobim em “Você é amor”.
A melhor afinidade de Alaíde, além de Baden – que conheceu ambos meninos ainda – foi Oscar Castro Neves que com o parceiro Luverci Fiorino compôs as músicas que definitivamente consagraram Alaíde no país inteiro: “Onde está você”, como carro-chefe.
Não chegou a compor com Oscar. Mas recebeu um presente inesperado, uma letra do seu ídolo maior, Johnny Alf, que ela musicou, “Meu Sonho”
E vou parando por aqui, porque a íntegra estará no vídeo que disponibilizaremos dentro de uma semana.
Enquanto nosso vídeo não fica pronto, esbalde-se: