Vaiado, Aranha diz que é “sempre assim” no Sul: “Vejo ódio na cara das pessoas”

Pai e filho levam cartaz com pedido de desculpas ao goleiro pelo episódio de injúria racial em 2014, mas comportamento da maioria da torcida incomoda camisa 1 da Ponte: “É triste”

Do O Globo

Quase três anos depois do episódio de injúria racial, Aranha foi novamente o centro das atenções em uma partida na Arena do Grêmio. Alvo de vaias da maioria dos gremistas durante a derrota da Ponte Preta por 3 a 1, na tarde deste domingo, o goleiro criticou o comportamento da torcida.

– Eles não esquecem aquele episódio. Eles são assim aqui. Principalmente na região do Sul do país,é sempre assim. Quando volto aqui, evito ao máximo olhar para a arquibancada, porque cada vez que olho para arquibancada, vejo ódio na cara das pessoas. Eles têm certeza que eu estou errado. É triste ver o conceito de vida que eles têm aqui – afirmou o camisa 1 da Ponte.

Em meio às provocações, também houve espaço para um gesto de carinho com Aranha. Um pai tricolor entregou ao filho uma faixa para segurar com os dizeres “Aranha, o tempo passa, mas a dor não! Novamente, perdão por tudo! Somos a verdadeira torcida do Grêmio”. Ao fim do primeiro tempo, quando a Ponte vencia por 1 a 0, o arqueiro percebeu o recado, virou para os torcedores e fez um sinal de positivo para os fãs.

Lógico que sempre tem as exceções, mas é triste o conceito que eles têm aqui. A mudança vem das crianças, mas se o pai passa isso para o filho, quando vai melhorar? Nunca! Venho aqui preocupado em jogar, não tenho nada contra o Grêmio. Mas a falta de educação é geral. Às vezes reclamamos do político, mas sempre dá o jeitinho brasileiro, que era engraçado antes. Esse jeitinho está tomando conta do país – disparou Aranha, ampliando as críticas para a sociedade como um todo.

O assunto dominou as perguntas para o goleiro, tanto na saída de campo como na zona mista:

– A coisa que eu menos falei é sobre o futebol. Depois ficam falando que o Aranha só fala disso. Mas eu apenas respondo sobre o que me perguntam. Eu venho para jogar bola, sem a intenção de provocar ninguém.

Foto: Eduardo Deconto

No dia 24 de agosto de 2014, a torcedora Patrícia Moreira foi flagrada cantando “macaco”, na partida vencida pelo Santos diante do Grêmio por 2 a 0, em 28 de agosto de 2014, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, na Arena. Na ocasião, Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida.

Além de Patrícia, outros três torcedores foram acusados pelo caso na Arena. No total, sete pessoas foram identificadas cometendo supostas injúrias contra o goleiro. Os quatro aceitaram em novembro de 2014 a proposta de suspensão condicional do processo.

Na esfera esportiva, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) eliminou o clube da competição por conta do ato de torcedores. Os auditores votaram contra a exclusão e decidiram punir os gaúchos com a perda de pontos, o que acarretou na eliminação da equipe, já que havia perdido a partida de ida para o Santos por 2 a 0, pelas oitavas.

 

+ sobre o tema

Deixe de esperar a compaixão da Igreja branca pela derrubada de seus ídolos

Quero começar invocando o espírito de denúncia e confronto...

Após acusações de racismo, proprietário do Real Salt Lake venderá time

Após ser acusado de ter feito declarações racistas sobre...

“Tem mais negros no crime”, diz deputado Daniel Silveira em fala racista

O deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) discursou hoje no...

para lembrar

Deputado Cobra Explicação do Itamaraty Sobre Caso de Branco Aprovado como Afrodescendente

  Ex-ministro da Igualdade Racial, Edson Santos quer...

Adolescentes são presos por racismo no twitter contra atacante do Newcastle

O jornal inglês Daily Mail publicou que dois adolescentes...

Nomear corretamente a discriminação que adolescentes sofrem é fundamental

Recentemente, fomos impactados pela notícia do suicídio de um adolescente de...

Rapaz diz que ator Luís Salém o discriminou: ‘Você é preto e feio’

Por: Ana Carolina Torres     Um homem diz ter sido alvo...
spot_imgspot_img

Estado como um dos negócios mais rentáveis das elites

Os filhos dos amigos viram estagiários, os estagiários viram assessores, os assessores viram secretários. E, no final, todos se orgulham de suas difíceis trajetórias...

O racismo no DNA do Brasil

O fato de o Brasil ser a nação mais miscigenada do mundo serve de prova científica do grau de perversidade do racismo institucionalizado nessas terras. Publicada na semana...

Quando Tony Tornado cerra o punho e levanta o braço, a luta dos afrodescendentes se fortalece

Tony Tornado adentrou o palco do Festival Negritudes e, antes de dizer qualquer palavra, ao lado do filho, Lincoln, ergueu o punho direito. O...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.