Vítima de racismo, Maria Gal, atriz de “Poliana” cria produtora para artistas negros

Sucesso na novela “As Aventuras de Poliana”, Maria Gal vive uma rotina dupla. Quando não está nos estúdios do SBT interpretando Gleyce, a atriz baiana toma conta de seu novo projeto, atrás das câmeras. Ativista, ela criou uma produtora audiovisual para dar visibilidade a artistas negros.

Maria Gal sente na pele as marcas do preconceito enraizado na televisão e na publicidade. Poucas famílias, como a de Gleyce em “Poliana”, são retratadas em outras novelas. Negros ocupam papéis subalternos, como empregados, ou de caráter histórico, como escravos. Um caso pessoal de discriminação inspirou a atriz a lançar a Maria Produtora.

“Já fui preterida porque, segundo o diretor, o tom da minha pele não era tão comercial. Esta realmente é a mentalidade de quem manda no audiovisual hoje no Brasil. Quanto mais escuro, quanto mais características negras tiver, menos comercial o ator ou a atriz é, e eles devem constar em determinados estereótipos”, afirma a atriz ao UOL.

Duas produções estão em fase de captação de recursos e pré-produção e devem estrear entre 2019 e 2020: o longa-metragem “Carolina”, cinebiografia da escritora Carolina de Jesus (1914-1977), e a sitcom “Os Souza”, sobre dilemas de uma família negra empoderada.

“Minha função enquanto criadora e produtora é trazer novas realidades, ou personagens negros femininos que possam empoderar de alguma forma e que a sociedade tenha outros pontos de vista em relação à mulher negra. Não é só retratar a realidade, é trazer novos paradigmas para contribuir para que a realidade se modifique para melhor”, explica.

De garçonete a atriz

A atriz Maria Gal Imagem- Pino Gomes:Reprodução:Instagram:mariagalrealnegros nanegro

Maria Gal sabia que queria ser atriz mesmo quando cursou design gráfico. Logo após a formatura, procurou cursos de teatro. Uma apresentação da peça “Sonho de Uma Noite de Verão”, clássico de William Shakespeare, no Sesc Pompeia, motivou a atriz a deixar Salvador, há 20 anos, para morar em São Paulo. O início na capital paulista, porém, foi difícil.

“Saí de Salvador sem conhecer absolutamente ninguém em São Paulo, só movida pela minha intuição e vontade de estudar teatro. Tive que trabalhar como garçonete para pagar o aluguel, mas a pessoa não me deixava cozinhar. Ela queria que eu comesse na rua e eu só tinha dinheiro para pagar o quarto”, relembra.

Os perrengues como garçonete valeram a pena, e Maria Gal construiu uma carreira de sucesso como atriz. Trabalhou em filmes como “Carandiru” (2003), novelas como “Carrossel”, no SBT, “Gabriela” e “Joia Rara”, na Globo, além das séries “Conselho Tutelar”, na Record, e “Santo Forte” (AXN). Aos 42 anos e orgulhosa de sua trajetória, ela comemora seu atual trabalho na TV.

“Gleyce é a típica mulher brasileira, que, apesar da condição de vida humilde, é empoderada. Ela é consciente sobre a questão racial e do quanto é importante que os filhos estudem em uma escola melhor para terem melhores condições de vida. É uma personagem de grande importância para a teledramaturgia brasileira hoje. [Os negros] somos mais de 54% da população. Esta é a importância da representatividade, não só para as crianças, mas para os adultos.”

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